Em tempos de Lava Jato já me acostumei a ver e escutar de tudo. No início da operação , a cada faceta de corrupção desvendada, me surpreendia com os volumosos montantes desviados, com a cara de pau dos protagonistas e a insistência dos mesmos em continuar exercendo com maestria o ato da impostura. Podiam morrer negando o que era categoricamente comprovado por fortíssimas evidências e inquestionáveis provas.
Já escutei ou li em
algum lugar que a covardia é uma das armas preferidas dos criminosos. Sempre
consegui enxergar isso quando imaginava
um estuprador em ação, um espancador de idosos ou até mesmo um bandido armado
ameaçando uma vítima, mas confesso que jamais ligaria essa preferência a
corruptos e/ou corruptores. Mas recentemente, com alguns depoimentos realizados
no âmbito da operação Lava Jato, comecei a perceber que covardia entrou no
cardápio de alguns personagens “
irremediavelmente envolvidos” naquela
operação.
Há poucos dias, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo íntimo de Lula, afirmou que foi a falecida
esposa do ex-presidente, Marisa Letícia , que solicitou sua “ajuda” para a
compra de um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula.
O pecuarista é testemunha arrolada pelo Ministério Público Federal em ação penal contra Lula. Os procuradores da Lava Jato suspeitam que houve tentativa de lavagem de dinheiro de propinas pagas pela Odebrecht ,para a aquisição do terreno, que chegou a ser comprado por R$ 12 milhões. A transação foi cancelada logo após o início da Lava Jato.
No depoimento de ontem (10) do viúvo ao juiz Sérgio Moro, a falecida voltou a ser mencionada. Segundo o ex-presidente da OAS, o apartamento triplex do Guarujá foi reservado para Lula, como compensação de contratos da OAS superfaturados com a Petrobras. Ao ser indagado por Moro sobre essa operação, o ex-presidente disse que não sabia de nada e tudo ligado ao triplex foi tratado e resolvido por Marisa Letícia.
Que poderosa era essa ex-primeira dama! Teria mesmo Marisa Letícia poder sobre bilionários empreiteiros , pecuaristas e outros poderosos ligados ao marido? Teria autonomia de tomar importantes decisões sem consultá-lo?
O que mais parece é que o viúvo e seu amigo pecuarista jogaram para a falecida responsabilidades por crimes distantes de seu conhecido cotidiano. É sabido que a ex-primeira dama levava uma vida de hábitos simples de uma tradicional dona de casa. Pode-se questionar uma provável conivência e até (não há provas) atuação como “laranja” para atos suspeitos do marido. Mas culpá-la por atitudes ilícitas, tendo consciência de que falecidos não podem exercer o direito de defesa é um ato de extrema covardia.
Já vi Lula culpar João Santana, Palocci, Dilma, Dirceu e outros ex-comparsas, mas a falecida companheira é sinal de que para alguns a covardia, além de preferida, é ilimitada.
Publicitário, radialista, poeta e escritor. Carioca, radicado em Alagoas desde 2002, trabalhou em diversas campanhas eleitorais no estado. Foi diretor da Organização Arnon de Melo (OAM) e do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP). CEO - Press Comunicações Diretor/Editor - Revista Painel Alagoas Editor - Coluna Etcetera (impressa e digital)