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13/09/2022 às 12h33

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Jean-Luc Godard está morto

Divulgação

Thiago Andrade*

Jean-Luc Godard fez parte do meu panteão juvenil. Entre as aulas de jornalismo e o marasmo da capital sul-mato-grossense, descobri na nouvelle vague uma oportunidade de escapar. Por causa de Godard e cia, encontrei pessoas que dividiam ideias e sonhos semelhantes. Entendi como o mundo era maior e mais complexo do que eu imaginava. 

Numa época em que a internet não era tão popular, descobri Godard de ouvir falar. De ouvir o Tarantino falar. Godard dizia que os filmes do americano eram lixo, mas ainda assim Tarantino tinha uma produtora chamada "Bande à Part". 

Por acaso, encontrei um filme dele na locadora da cidade: Notre Musique, um filme de 2005, experimental o suficiente para que eu terminasse me perguntando o que diabos eu havia assistido. Achei estranho, confuso, mas ao mesmo tempo belíssimo. Um filme pesado e escuro, com trilhas dramáticas, que falava sobre a guerra e o imperialismo americano, sem que eu soubesse ao certo o que estava acontecendo. 

Mais ou menos nessa época, Bertolucci me apresentou Godard de forma mais didática em "Os Sonhadores". O culto ao enfant terrible, sua influência sobre o cinema, a cinefilia, maio de 68, tudo é citado naquele filme que conversou diretamente comigo. Aprendi francês e fui pra França por causa desse filme, mas sobretudo por causa de Godard.

Decorei diálogos de "À Bout de Souffle", vi e revi "Vivre Sa Vie" algumas vezes. Assisti "Une femme est une femme" no Telecine Cult às duas da tarde de algum dia de semana. Na Bienal de Arte de SP conheci "Je vous salue, Sarajevo". Dei um jeito de escrever sobre Godard na minha dissertação de mestrado. 

Vi tudo o que pude de Godard e sobre Godard. Aos poucos descobri que, como todo herói, ele era cheio de falhas. Mas o estrago já estava feito. 

Meu adeus a Godard aconteceu em São Paulo, no Reserva Cultural na Paulista, onde assisti a "Adieu au Langage". O diretor francês que capitaneou a nouvelle vague fez um filme 3D aos oitenta e tantos anos. Ele chegou a dirigir mais um último experimento, "Le Livre d'Image", mas vou guardá-lo como um pequeno mistério a ser descoberto no futuro. 

Gostaria de tê-lo visitado em Paris, talvez feito um retrato seu e contato como seus filmes ajudaram a transformar a vida de garoto no interior do centro-oeste brasileiro. Não tive a oportunidade, mas Hedi Slimane teve e fez belíssimas imagens publicadas na Vogue.

Jean-Luc Godard está morto e nenhum de nós está se sentindo muito bem.

*Jornalista, mestre em comunicação e fã de filmes antigos e estranhos que quase ninguém assiste.


Fonte: Thiago Andrade


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