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30/11/2023 às 12h22

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Botafogo - a saga de uma sexagenária paixão


*Ricardo Leal


Primórdios

Meu pai detestava futebol. Meu avô materno era torcedor do América e o paterno do Bangu. Graças a Deus não influíram na minha vida de torcedor. Nos meus primórdios de convivência com o futebol escutava muita história de Pelé e Garrincha e passei a cultuar uma certa preferência pelo Santos.   Ainda não tinha nem noção que o alvinegro praiano não era do Rio de Janeiro. Vivia rodeado de flamenguistas que tentavam me explicar que eu não podia torcer para um time que não fosse da minha cidade e que o Flamengo era o grande campeão carioca (acho que em referência ao título de 1963). Não mudei de opinião e continuei cultuando Pelé, mesmo não vendo nem sabendo nada sobre a gloriosa trajetória do clube naquela época. Anos depois, já habituado a ouvir jogos pela saudosa Rádio Continental (Clóvis Filho narrando, Carlos Marcondes comentando e Luiz Fernando repórter de campo), fiquei impressionado com um Flamengo X Botafogo. Nesse jogo Jairzinho voltava a atuar pelo alvinegro após longo período parado por grave contusão. O Botafogo venceu com um gol justamente dele (na época camisa 7 , a mesma de Garrincha). Isso me deixou muito impressionado e passei a dar mais atenção aos jogos do alvinegro. Aí se iniciou a minha preferência pelo time que torço até hoje.

Orgulho & Desconforto

Quando decidimos optar por um time de futebol, passamos a torcer pelo que vai acontecer no futuro e incorporamos todo o seu glorioso passado. Passei a ser fã de grandes craques que nunca vi jogar, como Heleno de Freitas, Garrincha, Didi, Nilton Santos e outros. Minha felicidade clubística foi consolidada em 1970, após termos ganho tudo em 1967/1968 (com Jairzinho, Gerson, Roberto Miranda, Paulo Cesar Cajú e cia e Zagalo como técnico), fomos tri campeões mundiais com Zagalo treinador e Jairzinho o grande artilheiro da selação na Copa de 1970.

Minha fé sobreviveu a 21 anos de  um incômodo jejum de títulos. Assisti alguns jogos em 1967 e 1968, mas testemunhar a conquista do título de 1989 no Maracanã (contra o Flamengo) foi o meu momento mais emocionante como torcedor. Nem na conquista do brasileiro de 1995 eu vibrei tanto quanto naquele 21/06/1989.

O trágico

O que tem acontecido em 2023 é uma excessiva turbulência astral e emocional,  que nos leva trágica e rapidamente do céu ao inferno.  O jogo ontem, contra o Coritiba, tinha tudo para ser 0x0, mas quiseram os deuses do futebol nos castigar com um mesmo empate, só que com um placar muito mais sofrido e doloroso. (do céu ao inferno em menos de 1 minuto).


Fé X Racionalidade

Torcer para o Botafogo é estar à mercê de forças ocultas, de magias desconhecidas ricas em causas inexplicáveis e sobrenaturais. Sempre torci com fé inabalável, aceitando (mesmo as vezes não entendendo) esse profundo desgaste emocional, que nesse ano de 2023 gerou uma ressaca moral sem precedentes no meu currículo de torcedor.

Hoje pela primeira vez em minha sexagenária história com o alvinegro, percebo que parte da fé, que inconscientemente carreguei todo esse tempo, me pede licença "pra sair de campo", e sem saber direito o que isso pode significar, aceito resignado essa metamorfose mental. Sei bem que fé e racionalidade estão longe de serem compatíveis, mas ao aceitar esse "pedido de licença" sinto que me liberto das amarras de um cenário que insiste em humilhantes fracassos e limitações.

O brilho

Com menos fé permaneço botafoguense, mas me incluo na turma dos adeptos de São Tomé, muito bem representada pelo ilustre torcedor  Stephan Nercessian, onde as expectativas não tem morada e os resultados (positivos) são absorvidos muito tempo depois. E bola pra frente, porque mesmo solitária a estrela permanecerá brilhando no gramado dos absurdos do futebol


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