Poucos são os governos que, tão logo ocorre a denúncia, afastam os envolvidos, mesmo que preventivamente
* Paulo Fona
Tudo começa com a quebra do interesse de alguém. A partilha não é cumprida, os acordos fracassam ou alguém é transformado em "boi de piranha" nas investigações e/ou na Justiça, não aceita, e revela o esquema para algum jornalista.
Acionada a bem do chamado interesse público, a imprensa revela a fraude, aponta nomes de autoridades da hora e começa a fustigar os governos e envolvidos até a demissão e consequente retirada de cena do ministro, secretário ou presidente de estatal.
Do começo do processo até a sua conclusão política, o envolvido e o governo a que pertence resistem a pressão da opinião publicada até o limite, testando a resistência da mídia e a paciência dos leitores/ouvintes telespectadores.
Surge, então, no cenário, a "síndrome das revistas", a expectativa do que publicarão as três maiores revistas de circulação nacional, que estabelecem entre si uma competição para saber quem tem a "maior novidade" capaz de desestabilizar um ministério, um ministro, um governador ou secretário estadual. Em outras palavras, dar o tiro fatal!
Nesse período fervilham os boatos e as "lendas" sobre o que virá de novo e que enterrará a carreira administrativa dessa ou daquela autoridade. O medo do "furo" do concorrente leva, algumas delas, inclusive, a antecipar suas edições na internet.
Do lado dos governos, a espera é longa e o processo de decisão lento. Parece se esperar que surja algum fato novo que ocupe a mídia ou que as denúncias caiam no vazio ou, ainda, que surjam vídeos inquestionáveis, com CPF e RG do acusado – aliás, um novo padrão de "veracidade" – para que ocorra o afastamento definitivo da autoridade citada.
Poucos são os governos que, tão logo ocorre a denúncia, afastam os envolvidos, mesmo que preventivamente. Na política brasileira recente, o ex-presidente Itamar Franco afastou temporariamente ministros, deu-lhes o direito de defesa, inclusive no Congresso Nacional, e os reintegrou, quando comprovada a inocência.
É um exemplo a ser seguido pelos atuais governos para que se poupem dessa interminável ritual que demora dias, semanas e as vezes meses até o desfecho final, uma demissão prevista e anunciada. Se fizesse isso, não só os governos se preservariam como poupariam seus pares e a população desse ritual político e midiático.
*É jornalista
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