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07/11/2011 às 09h58

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Outono

Arthur Virgílio (*)

Lisboa – O tempo está chuvoso. E venta muito nesta cidade. O outono alterna dias assim com aqueles outros de temperatura amena em tempo firme, as folhas caindo, talvez a estação mais bonita do ano.

Escrevo num começo de noite de ruas desertas. As poucas pessoas que transitam, o fazem protegidas por guarda-chuvas ou capas impermeáveis. Bate uma melancolia misturada com saudade de casa.

Hoje vejo que não poderia mesmo ser diplomata em tempo integral. Não conseguiria viver longe do Brasil, do Amazonas, de Manaus. Gosto de viajar, porém com retorno certo.

Meus colegas passam temporadas de 10 anos no exterior. Retornam a Brasília por um biênio e, após, se quiserem, partem para outro período demorado fora.

Lisboa é uma cidade linda, de povo amável, culinária inigualável, hábitos metropolitanos. Gosto daqui. Uma amiga me diz que é como se fosse a casa da nossa avó.

Tem o clima mais leve da Europa. A esta altura, a Alemanha já gelou, em contraposição às temperaturas que, nesta capital, oscilam entre 13 e 18 graus. No inverno, descem a cinco, chegando a zero na Serra da Estrela.

Tenho ido muito a livrarias. É uma diversão à parte.

Leio sem parar e tenho uma lista enorme de livros para devorar. Sem falar nos jornais e revistas, que dão conta da crise econômica portuguesa, da zona do euro e, muito agudamente, da Grécia.

Quando voltar, sei que terei acrescentado muita coisa boa à minha vida pessoal e intelectual. Mas a saudade aperta de verdade, volta e meia. É como se fosse um “exílio”, não imposto por poder nenhum e sim escolhido por mim próprio. Nem por isso menos exílio.

A internet encurta certas distâncias. Não todas, contudo. Dá respostas objetivas a indagações que lhe faço; não é capaz de desvendar os segredos da minha alma.

Moro num lugar gostoso, com vista para o Tejo. Ao lado tem uma tasca que serve uma sopa esplêndida. Pela rua passa o “elétrico” (bonde) que, não sei bem a razão, me lembra Fernando Pessoa.

Gosto de ficar na janela à noite, meditando por algum tempo. O pensamento vai longe, carregado pela imaginação.

Dá para vagar pelas ruas em paz. Não existe a figura da violência urbana, tal como a conhecemos no Brasil. Os jovens são mais livres, precisamente porque estão mais seguros. Dominam as praças com alegria e em paz.

A maior paixão dos portugueses é o futebol. Em Lisboa, a maioria é Benfica e uma minoria expressiva torce pelo Sporting. No Porto, claro, todo mundo vai com o time da casa. Rivalidade intensa.

A situação econômica é dificílima, mas, diferentemente da Grécia, (ainda) há consenso interno de apoio às medidas de austeridade impostas por FMI, Comissão Européia e Banco Central Europeu. O povo está sofrendo, confiante em que mergulhará em dois anos de recessão, retomando o crescimento a partir daí.

Doravante, sempre me irei preocupar com Portugal de modo diferente. Mais pessoal, mais emocional.

*Diplomata; ex-senador da República (AM)


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