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16/07/2018 às 08h23

Geral

Memória curta e desinformação

Carlos Lima, sociólogo, alerta que falta de conhecimento incentiva defesa de intervenção - Carlos Amaral

Carlos Amaral

O sociólogo Carlos Martins aponta a falta de hábito de leitura como um dos responsáveis pela existência de quem defende a volta dos militares ao poder político no Brasil. Além disso, ele destaca a falta de material jornalístico da época com casos de corrupção, uma vez que a imprensa ou era calada ou foi partícipe do golpe de 1964.

“Primeiro há uma desinformação muito grande, pois não temos o hábito da leitura. Quando se diz que somos um povo de memória curta, é exatamente isso. A gente não consegue fazer leitura de dez anos atrás para cá. Como se trata da ditadura militar, que já tem mais de dez anos, essa nova geração não consegue fazer interpretação. Quando um 'louco desvairado' defende teses em cima dessa desinformação, os demais reproduzem. Outro elemento que também denota a nossa falta de leitura é que em nossa Constituição”, analisa Carlos Martins. “A imprensa foi calada e parte dela compunha a estrutura... foi um golpe militar com apoio civil. Setores corporativos apoiaram maciçamente o golpe. Parte desse setor corporativo eram as empresas de comunicação, elemento importantíssimo para formar a opinião pública. Essa parceria entre os militares e os meios de comunicação impossibilitou a divulgação dos casos de corrupção e afetou nossa memória histórica como país”.

Essa relação é, de acordo com o sociólogo, a causa de não haver registros – ou muito poucos – de casos de corrupção no período entre 1964 e 1985.

“O excesso de notícias sobre corrupção estimula essas manifestações, mas no período da ditadura a imprensa mais independente era censurada. Por isso não há – ou há muito pouco – registros de corrupção daquele período. O regime foi todo marcado pela corrupção era muito forte, especialmente entre empresários e o regime, dentro das estatais, tortura, perseguição política, cerceamento da liberdade e expulsão de pessoas do país”, ressalta Carlos Martins.

Corrupção

No início do mês de junho deste ano, documentos do governo do Reino Unido vieram à tona e mostraram como a ditadura acobertou casos de corrupção na compra de fragatas – navios de escolta – construídas pelos britânicos na década de 1970. Segundo os documentos, os fatos ocorreram nos governos dos generais Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979). A revelação deste material é parte das pesquisas do cientista político e historiador João Roberto Martins Filho, da Universidade Federal de São Carlos.

Também no início de junho, um telegrama secreto enviado pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil para o Departamento de Estado Americano em 1984 foi revelado pela imprensa e relatava que casos de corrupção envolvendo regime ditatorial estariam abalando a confiança da população. 

O documento faz parte dos 694 documentos enviados em um lote pelo governo do então presidente Barack Obama ao de Dilma Rousseff. Entre 2014 e 2015, três remessas foram enviadas à Comissão da Verdade, que investigou abusos de direitos humanos no período ditatorial.

Ainda em 2015, o portal UOL – do Grupo Folha – publicou reportagem com dez casos de corrupção no período da ditadura. Os episódios vão desde contrabando na Polícia do Exército a uso de dinheiro público para beneficiar polí­ticos ligados ao regime.

Apoio da imprensa

Durante o período dos militares no comando político do país, carros da Folha de S. Paulo eram usados por agentes fede­rais na captura de opositores à dita­dura. O jornal O Globo marcou época ao utilizar seus editoriais em apoio ao golpe de 1964 e a manutenção de sua estru­tura quando as manifestações pelo seu fim passaram a ganhar força no Brasil.

A Rede Globo de Televisão surgiu devido a esse apoio, inclusive com trans­gressão à Constituição da época que proi­bia a presença de grupos estrangeiros no sistema de radiodifusão brasileira. A TV Globo surge no Brasil em sociedade com o grupo Time-Life, dos Estados Unidos.

O comportamento do maior grupo de comunicação brasileiro rendeu, inclusi­ve, uma mea culpa em agosto de 2013, em todos os veículos do grupo. Na tevê, ela foi lida no Jornal Nacional.

“O Globo, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como 'O Estado de S. Paulo', 'Folha de S. Paulo', 'Jornal do Brasil' e o 'Correio da Manhã', para citar apenas alguns. Fez o mesmo par­cela importante da população, um apo­io expresso em manifestações e pas­sea­tas organizadas em Rio, São Paulo e ou­tras capitais. Naqueles instantes, justi­ficavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo pre­sidente João Goulart, com am­plo apoio de sindicatos — Jango era cri­ticado por tentar instalar uma “república sindical” — e de alguns segmentos das Forças Armadas”, diz o texto divulgado pela Globo.

A tese de que João Goulart daria um “golpe sindicalista” no Brasil ganhou força entre setores conservadores da sociedade brasileira devido ao clima de Guerra Fria (Estados Unidos versus União Soviética) vivida no planeta naquela época.

Guerra fria segue no imaginário

A reportagem da Painel Alagoas conseguiu se inserir em grupos de Whatsapp de pessoas que defendem a tomada do poder político pelos militares. Em todos o discurso é baseado na “guerra ao comunismo”, “no combate à corrupção” e na defesa da defesa de valores cristãos. Eles também enxergam a Operação Lava Jato como instrumento de salvação nacional.

Os participantes desses grupos de troca de mensagens associam a corrupção ao comunismo. Para eles, os partidos PT, MDB e PSDB são comunistas. Mas esta não é a única contradição presente nas mensagens: Defender uma candidatura à Presidência da República como forma de garantir a intervenção militar no país: Jair Bolsonaro (PSL). 

As informações usadas por eles para garantir que o país vive sob uma “dita­dura comunista” são sites desconhecidos e apócrifos cujos textos e vídeos apontam para uma “conspiração vermelha”. Até mesmo o lucro dos ban­cos é parte disso. 

Texto escrito em um dos grupos de WhatsApp:

“BRASIL, DITADURA COMUNISTA

Fora o crime, o único negócio que garante o lucro no Brasil é banco.

Por quê?

Porque os governos terroristas da “Nova República” têm atacado o capitalismo no Brasil, para tentar implantar o comunismo na nossa terra.

Os sinais são muito claros e inequívocos:

a) juros incompatíveis com a produção;

b) confisco tributário;

c) terrorismo administrativo;

d) corrupção;

e) criminalidade sem controle;

f) ambientalismo;

g) nações indígenas;

h) cotas raciais;

I) quilombolismo;

J) reforma agrária;

k) degradação do ensino;

l) contrabando de minérios;

m) insegurança do direito;

n) falso pluralismo;

o) perseguição ao produtor rural;

p) controle social;

q) regramento invasivo;

r) desemprego;

s) endividamento de pessoas e empresas;

t) genocídio de 10 milhões de brasileiros;

u) degradação do sistema de saúde;

v) relativização da privacidade e das liberdades individuais;

Estes exemplos comprovam o TERRORISMO de ESTADO contra qual­quer empreedimento econômico, que não seja ligado ao sistema financeiro, para o qual deságuam todos os recursos do Estado e da sociedade , via confisco tributário, multas e juros.

Em síntese, desde o governo Sarney, a Nova República tem atacado o capitalismo privado, para impor o comu­nismo, que é o capitalismo de Estado.

Esse anacronismo ideológico objeti­va submeter o Brasil e a Nação Brasileira aos interesses da pirataria internacional, se­dia­da na City de Londres. É a guerra de quinta geração contra o Brasil, através dos traidores, que usur­param o Poder do Estado, impondo a Dita­dura do Crime Organizado. Os instrumentos do con­trolador externo são os políticos de todos os matizes, le­vados ao poder através de mecanismos eleitorais viciados.

A defesa da Pátria impõe a INTERVENÇÃO CÍVICO-MILITAR, para afastar os traidores do Poder do Estado.

BRASIL! ACIMA DE TUDO !

Muitos também aprovam as medi­das de Donald Trump, presidente dos Es­ta­dos Unidos.

A equipe da Painel Alagoas tentou entrevistar os participantes alagoanos destes grupos, mas ou eles não atenderam às ligações ou não quiseram falar com a reportagem.

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Fonte: Painel Alagoas

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