A briga por espaço de poder na direção nacional do PSDB despedaça o partido e fragiliza o projeto dos tucanos para a eleição presidencial em 2018. O ponto de discórdia publicamente parece ser a postura do presidente da legenda, Aécio Neves, que mesmo afastado do cargo não “desgruda” do comando partidário e semana passada, num arroubo de arrogância, destituiu da presidência interina do PSDB o senador Tasso Jereissati.
Se Aécio poderia fazer isso? Legalmente, sim. O estatuto do partido diz que cabe ao presidente escolher entre os vice-presidentes quem o substitua em casos de impedimento ou vacância. Ele estava licenciado, reassumiu, tirou Tasso, indicou o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, e voltou a se ausentar. Alegou que ao se declarar candidato a presidente do partido, Tasso Jereissati tornou a disputa desigual.
Concorre com Tasso ao comando nacional do PSDB, o governador de Goiás, Marconi Perillo, aliado de Aécio Neves. A eleição é já, dia 9 de dezembro, praticamente um mês após a eleição dos diretórios e das executivas estaduais, realizadas no último dia 11. Tasso conversou com a imprensa e revelou que ele e Aécio “têm profundas diferenças” e que, em função delas, o senador mineiro não o queria na presidência do partido. Entre essas diferenças, citou “comportamento político, comportamento ético e visão de governo”.
Sim, tem o governo Temer também entre Aécio e Tasso. Aécio defende a permanência do PSDB no governo de Michel Temer, ocupando ministérios e outros cargos públicos; Tasso sempre se manifestou contra. Esse é, na verdade, um ponto que divide os tucanos e que a cada dia mina a credibilidade do PSDB como um partido de austeridade pública.
É fato que o episódio que colocou Aécio na vala comum dos “corruptos na política nacional”, desgastou o PSDB, mas era possível tratar a questão como isolada. Com alguns tucanos dentro do Palácio do Planalto, junto a Temer, a visibilidade do partido como igual a outros tantos, é bem maior. O que pode salvar os tucanos? Talvez a forma como Goldman possa agir para aparar essas arestas. Ele próprio, à imprensa, já declarou que “é preciso buscar as convergências”.
A ideia é uma candidatura de consenso, com apoio de Tasso e de Perillo. O nome pode ser o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também cogitado para representar os tucanos na eleição do ano que vem para a presidência da República. O presidente de honra dos tucanos, Fernando Henrique, já sugeriu que Alckmin assuma posição central no partido. Ou seja, que o governador de São Paulo tome a direção do barco, já que pode vir a navegar nele em 2018.
Em suas redes sociais, FHC deixou um apelo: “apelo ao bom senso e às responsabilidades nacionais dos líderes do partido para que busquem restabelecer a unidade. Tal coesão é requisito para enfrentarmos a próxima campanha eleitoral propondo as transformações pelas quais o país clama. Mais importante do que querelas internas ou do que eventual apego a posições, no partido ou no governo, é estarmos atentos ao clamor das ruas, como diz nosso manifesto de fundação”.
“Acredito que o restabelecimento da coesão, com tolerância à variabilidade das opiniões internas, mas também com firmeza de propósitos, requer que o presidente designado do PSDB, Alberto Goldman, crie condições para que líderes experientes e respeitados, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumam posição central no partido”, afirma FHC, decretando seu apoio a Tasso na hipótese da “tal convergência não se concretizar”.
“Se porventura tal convergência não se concretizar, o que porá em risco as chances do PSDB, já disse que apoiarei a candidatura do senador Tasso Jereissati à presidência do partido. Com isso, não faço ressalvas ao direito do governador de Goiás, Marconi Perillo, a quem respeito por sua fidelidade ao PSDB e pelo bom governo que faz, de ser eventualmente candidato. A vitória de um ou de outro não corresponde à vitória do bem contra o mal: precisamos permanecer juntos”, enfatiza o tucano Fernando Henrique.
Em suma, os tucanos que torcem pelo melhor desfecho na linha de FHC esperam que Goldman percorra o melhor caminho. Para ele, que terá pouco mais de 20 dias para amenizar os ânimos acirrados no partido, há três nomes que podem levar todos à convergência no quesito de comandar o PSDB: Governador Geraldo Alckmin, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e senador Antonio Anastasia.
Fonte: Cora Aciolly - Colaboradora