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16/06/2016 às 11h50

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Relembrando Zózimo Barrozo do Amaral

Estátua em homenagem a Zózimo erguida em 2001, no final do Leblon

Mesmo "ausente" há quase 20 anos, Zózimo Barrozo do Amaral(teria completado 75 anos em 28 de maio) ainda é lembrado e reverenciado como exemplo de profissionalismo e credibilidade na arte de “colunar”


No dia 18 de novembro de 1997 o jornalismo perdia um de seus mais notáveis expoentes:morria Zózimo Barrozo do Amaral.Griffe do colunismo social desde os anos 60, Zózimo transcendeu a arte de produzir colunas.Foi antes de tudo um inovador.Mudou a maneira de escrever, de diagramar, diversificou seu cardápio de informações , introduzindo esportes, beleza e saúde, entre outros assuntos, até então inéditos naquele formato de coluna.

De família rica(filho do banqueiro Boy Zózimo)herdou uma pequena fortuna ainda jovem.Abandona a faculdade de Direito e passa um tempo em Paris.De volta ao Rio de Janeiro,em 1963,arruma emprego no jornal O Globo, primeiro como correspondente esportivo, depois colaborando na coluna de Carlos Swann, tornando-se o titular da mesma em 1965.

Em fevereiro de 1969 resolve aceitar o convite do Jornal do Brasil(naquela época o maior jornal do Rio de Janeiro)para comandar uma coluna com o próprio nome.Diz a lenda que Roberto Marinho ao saber de sua saída chamou-o e vaticinou: “Meu filho você vai fazer a maior besteira de sua vida.Todo mundo sabe quem é Carlos Swann, mas ninguém sabe quem é Zózimo”. Cheio de certeza e irredutível na decisão que tomara ,Zózimo disparou: “Doutor Roberto o senhor só está reforçando meus argumentos, porque agora está na hora das pessoas saberem quem é Zózimo Barrozo do Amaral”

E logo todos ficariam sabendo.Já na sua estréia o JB estampava, em primeira página, o orgulho de ter em seu cast o jovem, porém já experiente,jornalista(naquela época com 27 anos de idade).Zózimo por sua vez previa novidades.Despia-se do rótulo de colunista social e prometia dinamismo e diversificação em seus textos.

A diversificação as vezes era tanta que gerava situações inesperadas.Ao noticiar um empurrão sofrido pelo então ministro do exército Lyra Tavares numa cerimônia militar,foi convidado a passar uns dias na prisão.Diz a lenda que ao chegar na cela começou a ser encarado sob olhos incrédulos de outros detentos que perguntaram: “Você não é o Zózimo, colunista do JB?” “Sou eu mesmo” respondeu.Depois de um rápido silêncio, uma gargalhada geral e a conclusão dos colegas: “Os militares endoidaram de vez.Estão prendendo até eles mesmos”.

Ninguém jamais ousou definir as “ideologias barrozianas”,mas a favor do regime ele nunca pareceu estar.Um de seus raros engajamentos políticos explícitos , lá pelos idos de 1984, foi manter sob fogo cruzado a candidatura ,armada no tapetão, de Paulo Maluf para presidente.

Seu estilo era inconfundível, mas o furo jornalístico foi uma de suas marcas principais naqueles tempos de JB.Noticiou em primeira mão,por exemplo,uma plástica que a Duquesa de Windsor faria com Ivo Pitanguy antes mesmo do próprio saber.

Criou jargões que marcaram época na memória de seus leitores.Foi autor do termo “esticada”que era uma espécie de segundo tempo das noitadas.Depois de um jantar regado a uísque ou champagne, encerrava-se à noite nos bares com chopp ou cerveja, muitas vezes à espera do nascer do sol.Algumas de suas frases ficaram famosas:”Brega é perguntar o que é chique.Chique é não responder”. “O problema de Brasília é o tráfego de influência, já no Rio de Janeiro o problema é a influência do tráfico”. “Quem não deve não treme”.

Muita gente não lembra que Zózimo também brilhou na telinha. Produziu para sua empresa,Press Vídeo(onde nos conhecemos e trabalhamos juntos) e veiculou pela Rede Bandeirantes, interessantíssimas entrevistas, entre elas, uma feita em Paris sobre a Maison Moet & Chandon, mostrando todo o processo de produção dos melhores vinhos e champagnes franceses.

Em 1993 aceitou levar sua coluna para O Globo, segundo ele mesmo, por  não poder resistir a excepcional proposta oferecida.

Sua seriedade profissional,e descontração social, o transformou numa griffe do jornalismo com credibilidade entre socialites,empresários, políticos e jornalistas.Dizia aos amigos mais íntimos que vivia como podia e, principalmente, como queria.Entre as muitas noitadas e as quase 200.000 colunas que escreveu, em 34 anos de carreira, começou a ter problemas com o fumo e o álcool ,mas seu bom humor de sempre deixava transparecer que tirava tudo “de letra.”

Depois de várias internações, já livre da bebida e do cigarro,entre idas e vindas de Miami, uma forte dor de cabeça prenunciou uma metástase .Sem perder o humor, Zózimo se preocupou apenas em não preocupar os que o amavam.Num de seus últimos momentos de lucidez reservou todo seu talento à Dorita, sua segunda esposa e companheira inseparável naqueles sofridos dias.Registrou com competência e elegância seu último ato de amor: “Não sofra. Está ruim viver. Não me segure aqui. Boa viagem”.

Laconicamente, com todo o poder de síntese que sempre exerceu com maestria em suas colunas, Zózimo, aos 56 anos, partia em 18 de novembro de 1997.

Em 2001, devido a identificação do seu nome com a zona sul da cidade, foi homenageado com a criação de  um espaço no final do calçadão do Leblon, no  início da subida da Avenida Niemeyer. No local uma estátua hiper-realista, reproduzindo Zózimo em tamanho natural, (1,80m), inspirada na imagem que ele tinha por volta dos seus 40 anos de idade.


*RL(Ampliado e republicado)




Etcetera por Ricardo Leal

Publicitário, radialista, poeta e escritor. Carioca, radicado em Alagoas desde 2002, trabalhou em diversas campanhas eleitorais no estado. Foi diretor da Organização Arnon de Melo (OAM) e do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP).  CEO - Press Comunicações Diretor/Editor - Revista Painel Alagoas  Editor - Coluna Etcetera (impressa e digital)

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