Onde cortar?
Olá, meu querido leitor, minha querida leitora!
Se você chegou a ler o artigo da semana passada, certamente percebeu o que um dinheirinho guardado todo mês, quando aplicado, pode realizar de sonhos, desde que se tenha a paciência para vê-lo crescer. Com efeito, a dupla juros-tempo é capaz de transformar pequenas quantias em valores consideráveis: com R$ 100 aplicados religiosamente todos os meses (a 0,80%am), após 30 anos, pode-se chegar a R$ 209.302... E veja: R$ 100 mensais correspondem a um pouco mais do que R$ 3,00, ao dia, o que, convenhamos, não irá tirar a alegria de viver de ninguém, não é mesmo?
Animado com o conceito, nesta altura você pode estar se perguntando como fazer caso queira aumentar o valor a guardar a cada mês... já se imaginou guardando R$ 500 mensais e após 30 anos ter mais do que R$ 1 milhão acumulados (= R$ 209.302 x 5)?
Não há mágica, e a resposta é simples: para isso acontecer, será preciso que suas receitas (tudo o que você recebe como salário, comissões, aluguéis de imóveis, dentre outros) superem as suas despesas, gerando assim uma sobra periódica. Agora reflita: o que é mais fácil você conseguir, aumentar seus ganhos ou reduzir suas despesas? Acertou se optou pela segunda alternativa, já que as despesas são itens sob seu controle, enquanto as receitas não, pois irão depender de fatores fora de sua influência... Será que seu patrão concorda com um aumento de salário, por exemplo?
Tendo chegado à conclusão de que reduzir despesas é a solução, observo, entretanto, que, mesmo fortemente motivados, muitos desistem no meio do caminho, mais por falta de estratégia do que por ausência de disciplina. E é aí que entra a minha sugestão, que a partir de agora chamarei (pomposamente!) de Plano Estratégico de Cortes (PEC).
Um PEC bem sucedido começa com você listando (e classificando) todos os gastos que teve nos últimos três meses, de forma a evitar distorções devido à sazonalidade. Faça um esforço para não se esquecer de nada, incluindo aí juros, taxas bancárias, impostos, etc. Encontre seu gasto mensal para cada item dividindo os totais encontrados por três.
O passo seguinte é classificar estes gastos em: (1) Financeiros: aqueles que você paga aos bancos, financeiras, cartões, dentre outros; (2) Desperdícios: aqueles que você pode eliminar e não sentirá falta, como por exemplo o clube que você não frequenta, ou o ar-condicionado que nunca é desligado; (3) Supérfluos: aqueles associados a pequenos prazeres, mas que, diante de um objetivo maior (o seu futuro milhão), poderão ser eliminados. Por exemplo: o cafezinho, o cigarro, a ida de carro diariamente para o trabalho, as compras de roupas em excesso; (4) Essenciais: aqueles sem os quais você não vive: o aluguel, as contas de luz, gás, telefone, a escola das crianças, o plano de saúde, o lazer, o plano de previdência.
Com tudo isto pronto, agora é obedecer à regra de ouro na hora de aplicar a tesoura nas despesas: corte os gastos onde doer menos... A ideia, conforme citada no início do artigo, é não tirar a sua alegria de viver, combinado? O que corresponderá a seguir a ordem da classificação citada no parágrafo anterior. Inicie pelos gastos financeiros (por que deixar de ir ao cinema para pagar juros bancários?) e, quando terminado, passe para a categoria seguinte, os desperdícios (por que deixar de almoçar fora com a família para deixar o ar-condicionado funcionando em um quarto vazio?). Observe que os gastos para estes dois grupos (financeiros e desperdícios) não trazem qualquer qualidade de vida, razão pela qual devem ser eliminados rapidamente, concorda?
Já as tesouradas finais significarão algum sacrifício, seja por reduzirem aqueles pequenos prazeres (os supérfluos), seja por reduzirem o que considero gastos essenciais. Tente primeiro reduzir os supérfluos e, somente após tê-los ajustado, caso ainda necessário, parta para os essenciais. Torço para que você nunca precise chegar a tanto!
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.