Colombina é uma foliã que, após dois anos de desequilíbrio entre o que ganha e o que gasta – algo próximo dos R$ 1.000 mensais – resolveu contrariar a música, decidindo não mais dançar o iê iê iê. Também pudera: como citei no meu artigo da semana passada, após quatro renegociações do saldo vermelho de seu cheque especial, ela tem hoje uma dívida de R$ 50.115, dos quais apenas R$ 24 mil foram usados em suas despesas. E o problema perdura... Como resolver?
Vocês, meus queridos leitores, minhas queridas leitoras, sempre atentos, já devem ter percebido que nossa amiga tem, na realidade, dois problemas distintos para resolver: (1) a dívida hoje acumulada: como pagar? (2) o desequilíbrio em suas contas: como se reequilibrar? Apesar de distintos, engana-se quem achar que os problemas possam ser resolvidos separadamente, já que um realimenta o outro e vice-versa.
Arriscaria mesmo a dizer ter sido este o erro da foliã há alguns carnavais passados. Ao detectar suas encrencas financeiras quando estas ainda tinham dimensões razoáveis (no oitavo mês após o início do desequilíbrio, sua dívida total era de apenas R$ 11.205, no cheque), Colombina acreditou que seria possível tratar apenas dos sintomas (a febre da dívida) sem contudo ir a fundo nas causas da sua infecção (gastar mais do que ganha).
Assim, se por um lado a sua decisão de transformar o saldo devedor do cheque em um empréstimo de 36 parcelas fixas de R$ 592 foi correta – os juros do empréstimo são menores do que os cobrados no especial –, por outro revelou-se incompleta pois, ao não alterar seu padrão de ganhos-e-gastos, acabou por aumentar seu desequilíbrio para R$ 1.592 mensais. Resultado: o prazo original de oito meses que Colombina levou até precisar renegociar o saldo devedor do seu cheque pela primeira vez reduziu-se para seis meses até necessitar uma segunda renegociação e para cinco meses, nas renegociações seguintes (ao todo quatro), lembram?
Para tudo há uma solução, e isso não é diferente para o caso que aqui relato, baseado em personagem real que assessorei. Por incrível que pareça, a parte mais fácil da resolução é fazer contas, planejar cenários. O difícil mesmo é convencer Colombinas – e Pierrots – a tomarem uma atitude. Mas vejamos as soluções propostas!
Em casos assim, a primeira coisa a fazer é eliminar toda a atual dívida, tanto a do cheque especial quanto a dos carnês. No caso em questão isto significava liquidar os R$ 50.515, conforme proposta do banco. Para isso vale sacar saldos de aplicações financeiras, vender bens de consumo duráveis – o carro, a moto, o título do clube ou qualquer outro ativo que possa ser transformado em dinheiro. Colombina topou liquidar o saldo de sua Caderneta e trocar o carro caro por outro mais barato (e de segunda mão!), zerando assim um passado financeiro nefasto.
Reestruturada a atual dívida, passemos à parte mais difícil, o reequilíbrio orçamentário. Desde que a solução não envolva novos empréstimos, os que vivem situação similar precisarão eliminar os desajustes entre receitas e despesas. Ao longo dos seis meses que se seguiram à quitação de sua dívida junto ao banco, Colombina fez das tripas coração, cortando tudo o que podia para eliminar os R$1.000 de diferença entre seus ganhos e gastos: eliminou desperdícios e supérfluos, saiu menos, andou mais de ônibus, passou a ser mais firme em negar demandas crescentes dos filhos. Foi duro, eu sei, mas teria sido pior se tivesse optado por manter seu padrão de consumo inalterado, revivendo assim o que, após dois anos, levou-a a eliminar o saldo da Caderneta e trocar de carro... o que seria desta vez, vender seu imóvel?
Claro que viver desta forma não traz alegria a ninguém, e nossa personagem não é exceção. Para voltar a ter (ou até mesmo superar) o seu padrão de vida anterior, será necessário aumentar a sua renda, o que Colombina tem diligentemente procurado aceitando pequenos trabalhos temporários fora de seu expediente normal, que tal?
Um grande abraço, ótimo Carnaval e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.