O recente debate sobre a inclusão dos motoristas de aplicativo entre os beneficiários da previdência oficial, trouxe-me de volta à questão do que chamei em artigo anterior (Seguro morreu de velho) de seguro de vida longa. Trata-se, na realidade e de forma sucinta, de formarmos uma rede de proteção financeira quando não mais estivermos em vida laboral ativa!
E vocês, meus queridos leitores e minhas queridas leitoras, estão atentos a isso? Para provocar a sua reflexão, lembrei-me de palestra onde perguntei à minha audiência sobre como estes três fatos afetariam suas vidas: (1) O brasileiro está vivendo mais; (2) A taxa de juros está caindo; (3) Está cada vez mais fácil consumir. Como eu já esperava, a maioria respondeu que os três lhes afetariam positivamente, ou seja, hoje estariam melhores do que ontem. Mas será isso mesmo? Indo mais a fundo, como isto impacta a nossa maior longevidade?
Não tenho dúvidas de que todas essas notícias sejam ótimas notícias, mas lembro que quem trabalha na iniciativa privada e ganha mais do que R$ 7.786 (teto do INSS em 2024), precisará complementar sua aposentadoria caso queira manter seu padrão de vida. Xiii! Começo a me preocupar. E, para mostrar a você porque, imaginei inicialmente que José, 30 anos, com um salário atual de R$ 8.800 mensais, quisesse/precisasse um complemento de renda de R$ 1.000 mensais quando atingisse 65 anos, de forma a manter o seu atual padrão de vida. Supondo que ele consiga aplicar os recursos à taxa real (além da inflação) de 4% ao ano, sua contribuição mensal deverá ser de R$ 150,96 caso viva até os 80 anos. Avaliemos cada uma das afirmativas que deixaram meus ouvintes satisfeitos:
(1) O brasileiro está vivendo mais: Isto significa que ao invés de 80 anos, José possivelmente viverá até os 85 ou 90 anos. Ora, se sua sobrevida após parar de trabalhar aumenta e o seu tempo de contribuição não, será necessário aumentar sua aplicação mensal para compensar o prazo dos benefícios, que ficou maior. Se José viver até os 85 anos, precisará poupar R$ 184,52 mensais. Se chegar aos 90, esse valor subirá para R$ 212,11. Vejam que paradoxo: se por um lado o aumento da expectativa de vida é bom – irá nos deixar em contato com nossos queridos por mais tempo – por outro irá obrigar-nos a aumentar o sacrifício, renunciando ao consumo de hoje para manter um padrão razoável no futuro.
(2) A taxa de juros está caindo: Isto significa que ao invés de receber 4% ao ano sobre os valores que poupava, José passaria a receber menos, suponha que 2% ao ano. Para os endividados, esta pode ser uma boa notícia, mas para José não! Para manter seu complemento de R$ 1.000 no futuro, ele precisará contribuir com R$ 257,01, caso viva até os 80 anos e mantidas as demais condições constantes. Bem mais do que calculamos antes (R$ 150,96), não é mesmo?
(3) Está cada vez mais fácil consumir e, por conta disso, a decisão de começar a contribuir para o seu seguro de vida longa tem sido adiada. Assim, supondo que José espere até os 35 ou 40 anos para começar a guardar (parando a contribuição aos 65, vivendo até os 80 e à taxa de 4% ao ano), sua contribuição precisará passar respectivamente para R$ 198,24 ou R$ 266,97, mais que os R$ 150,96 originais.
A esta altura você deve estar se perguntando sobre o que aconteceria caso José vivesse muito (até 90) e iniciasse sua poupança mais tarde (aos 40) em um ambiente de juros baixos (2% ao ano). Éééé... ficará caro mesmo pois, neste caso, a contribuição mensal passará para R$ 609,53 para fazer frente aos efeitos combinados! Conclusão: nem tudo é exatamente aquilo que parece ser, não é mesmo? E agora, o que você responderia se estivesse assistindo à minha palestra?
Um grande abraço e até a próxima!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.