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24/06/2024 às 08h40

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Renda fixa não tão fixa assim...


Recorde-se você, querido leitor, querida leitora, que no artigo da semana passada, abordei a aplicação nos títulos públicos pós-fixados (Tesouro Selic, no site do Tesouro Direto-TD)... Uma importante característica destes títulos recai no fato de que, por acompanharem a Selic –sempre positiva – é praticamente certo que, mesmo nos casos de resgates antecipados (antes das datas de vencimento), o investidor receberá valor superior àquele investido. Considerando que a Selic é o instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação (e até onde vai minha memória, ela sempre esteve acima do IPCA, índice oficial de inflação), é razoável supor que ao  adquirir estes títulos você conseguirá obter algum ganho real (acima da inflação).

Deve aqui ficar claro que após ter adquirido um destes títulos, a rentabilidade irá acompanhar a Selic, subindo se esta subir, caindo se esta cair. Um rápido exemplo ajudará a entender o conceito. Suponha que você hoje tenha investido R$ 1.000 em um destes títulos, com intenção de permanecer com ele pelo prazo de dois anos. Por ocasião da compra, a Selic estava em 10% ao ano e, portanto, sua projeção foi a de que daqui a dois anos você resgataria R$ 1.210 (antes do IR). Vamos imaginar que ao longo do primeiro ano, a Selic tenha permanecido em 10%, fazendo com que você nesta data tenha R$ 1.100 acumulados. Se para o segundo ano a Selic mudar para 20%, ao final deste prazo, você terá R$ 1.320 (=1.100 + 1.100 x 20%), mais do que inicialmente você projetou. Situação oposta ocorrerá caso no segundo ano a Selic mudar para 5%, fazendo você acumular R$ 1.155 (=1.100 + 1.100 x 5%), menos do que inicialmente você projetou. Conclusão: em títulos pós-fixados, o ganho aumenta quando a taxa sobe, e diminui quando a taxa cai, ficou claro?

A esta altura você pode estar se perguntando se o mesmo ocorre com os demais títulos do site TD... e é aí que mora o perigo, pois o funcionamento é justamente o inverso, confundindo muita gente! Explico devagarinho, recorrendo a mais um rápido exemplo. Suponha que você vá uma loja para comprar um smartfone que custe R$ 1.000, quando pago no cartão ou no crediário. Caso o vendedor lhe ofereça um desconto de 10% pela compra à vista, isto significa que você poderá levá-lo para casa por R$ 900, caso o desconto seja de 15%, levará por R$ 850, caso o desconto seja de 5%, levará por R$ 950. Observe que agora, o preço à vista varia na direção contrária à da taxa de desconto, ou seja, se a taxa do desconto sobe o preço à vista cai, se a taxa do desconto cai, o preço à visa sobe... Até aqui tudo bem?

Tendo isto em mente, voltemos ao TD para analisar os títulos denominados Tesouro Prefixado (nome oficial LTN ou Letra do Tesouro Nacional), não incluindo aqui aqueles com juros semestrais (ficam para futuro artigo). Estes títulos funcionam de forma idêntica ao do exemplo do smartfone, ou seja, na data do vencimento eles valerão R$1.000. A data de vencimento é sempre em 01/janeiro do ano a que se referem e, no momento da compra, a taxa oferecida determina o preço a ser pago de forma a obter o rendimento anunciado.

Um último exemplo ilustra o seu funcionamento. Em 08/03/24, André e Bruno decidiram pelos títulos Tesouro Prefixado; André optou pelo de 2027, que oferecia 10,03% ao ano, adquirindo-o por R$ 764,78; Bruno ficou com o de 2031, que oferecia 10,81% ao ano, adquirindo-o por R$ 498,91. Desde que os mantenham até o vencimento, estas serão as taxas anuais de rentabilidade que irão receber.

Entretanto, como consequência dos acontecimentos recentes – inflação dos alimentos, enchente no RS, revisão das metas do arcabouço fiscal, dentre outros – a percepção do risco aumentou, elevando com isso a taxa de juros que os participantes do mercado exigem para adquirir títulos do governo. Em 05/06/24, o de 2027 oferecia 11,25% ao ano, podendo ser adquirido por R$ 760,54; e o de 2031 oferecia 11,93% ao ano, podendo ser adquirido por R$ 478,73. Caso nossos amigos decidissem vender seus títulos nesta data, estes seriam os preços que conseguiriam, realizando perdas por se desfazerem de seus investimentos por valores menores do que pagaram. No período, André perderia 0,55% e Bruno 4,04% (aproximadamente taxas 2,18% e 15,21% negativos, em bases anuais). Podemos então concluir:

(1) Quando a taxa de juros sobe, investidores antigos recebem menos do que esperavam, como foi o caso dos nossas amigos.

(2) O recíproco é verdadeiro para a queda nas taxas de juros: Ainda que não abordado no exemplo, se em 05/06/24 as taxas fossem menores do que as praticadas em 08/03/24, André e Bruno obteriam rentabilidades que, quando anualizadas, seriam superiores àquelas pactuadas na compra.

(3) Quanto maior o prazo até o vencimento, mais forte é o impacto das flutuações das taxas. No exemplo, as taxas subiram e Bruno, com o título mais longo, foi quem mais sofreu, caso caíssem, Bruno obteria maiores ganhos que André.

(4) Marcação a Mercado: É quase certo que a instituição por meio da qual André e Bruno adquiriram seus títulos, emita seus relatórios mensais de forma a refletir os preços atualizados (de mercado) dos títulos de seus clientes. Ao recebê-los, também é quase certo que nossos amigos teriam levado um susto. Hora de muita calma... não há por que se desesperarem e resgatarem seus títulos realizando a perda... devem lembrar que caso os mantenham até o vencimento, terão obtido uma bela rentabilidade, que tal?

Um grande abraço e até a próxima semana!


Inteligência Financeira por Roberto Zentgraf

Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)

Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.

Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.


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