Por conta dos artigos que escrevo e das orientações financeiras que me pedem, tenho sido frequentemente questionado por familiares, amigos e leitores que, diante dos recentes aumentos da cotação do dólar, estão aflitos por conta de viagens internacionais programadas para agora, no mês de julho. É o eterno dilema: viajarão já ou adiarão as férias para outra ocasião?
Sem dúvida não se trata de decisão fácil, com o dólar batendo na casa dos R$ 5,49 (cotação de fechamento do mercado em 06/07/2024), alta de 13,20% em relação à cotação de 30/12/2023, de R$ 4,85. Decidir por adiar pensando que o dólar irá cair pode se revelar uma atitude equivocada, caso a cotação continue a subir: a viagem ficará ainda mais cara! No extremo oposto, decidir por viajar logo também trará sua dose de risco caso a cotação da moeda americana caia pois perde-se a oportunidade de no futuro viajar mais barato ou ainda, pelo mesmo valor hoje planejado, ficar uns dias a mais, caso o dólar caia.
Para quem acha que tenho bola-de-cristal e consigo prever o futuro, sinto informar: não tenho, e, portanto, não faço a menor ideia sobre os próximos passos do dólar, ajudando assim na decisão. Mas posso sugerir alternativas para que você, meu querido leitor, minha querida leitora, desfrute do prazer das férias imediatas, contornando o custo que aumentou sem se desesperar: o racional deve prevalecer sobre o emocional!
(1) Faça as contas e avalie corretamente qual o real impacto do dólar mais caro no custo de sua viagem. Será que é tanto assim? Por exemplo, se você já pagou hotéis e passeios, seja por conta própria, seja por meio de uma agência de viagens, é possível que a alta mais recente ainda não o/a tenha pego. O mesmo vale para as passagens aéreas, muitas vezes adquiridas com milhagem dos cartões de crédito. A alta da moeda, neste caso, somente irá afetar programas, refeições e compras. Exemplificando, se o orçamento inicial para a sua viagem foi de R$ 30 mil e já foram pagos R$ 20 mil, entre passagens, hotéis e demais despesas, um avanço de 13.20% na cotação, aumentaria sua conta em R$ 1.320, equivalente a 4,40% sobre seu orçamento inicial. Não é isso que iria tirar você da viagem, não é mesmo?
(2) Fixe seu gasto em reais. Por exemplo, se você ia gastar US$ 2.000 dólares com o câmbio a 4,85 (equivalente a R$ 9.700) agora poderá gastar aproximadamente 1.766 dólares com o câmbio a 5,49, uma redução de menos de 12%. Um dia a menos em uma viagem de dez dias já resolve o problema, que tal?
(3) Cuidado com os gastos no cartão. Em uma viagem internacional em que os gastos são feitos em dólar, sobre o valor da fatura que irá chegar, ainda haverá a cobrança de 6,38% do Imposto sobre Transações Financeiras, o IOF. Talvez algumas alternativas hoje disponíveis (cartões em que você deposita em reais para gastar na moeda do país visitado) sejam vantajosas por não cobrarem o IOF, mas deve-se tomar cuidado em verificar qual cotação da moeda será utilizada na conversão.
(4) Compras: No passado, quando as cotações estavam mais civilizadas, havia uma boa vantagem em adquirir determinados itens, como vestuário, livros, eletrônicos, dentre outros. Com o dólar neste patamar, tal vantagem desapareceu! Um rápido exemplo, uma camiseta de malha comum, vendida a U$ 15 (aproximadamente R$ 82,35), pode ser facilmente encontrada no Brasil a preços bem melhores que o da camiseta importada, que tal?
(5) Plano B: No caso de você ainda não ter fechado a viagem, sugiro selecionar roteiros alternativos com os respectivos orçamentos devidamente levantados. Dá trabalho, claro, mas evita que você vá para locais onde o custo de vida seja muito alto transformando o que deveria ser diversão em dor-de-cabeça. Na montagem do orçamento considere as passagens, taxas de embarque, traslados, aluguel de automóvel, seguros, hospedagem, alimentação, diversão e compras. E, por margem de segurança, acrescente 20% adicionais, para evitar surpresas. Sendo feito em dólar, multiplique o total encontrado pela cotação atual da moeda.
E se realmente após verificar as dicas que citei, você chegar à conclusão de que realizar a viagem agora ficou fora do seu orçamento? Bem, ainda que eu classifique o lazer, o estar junto à família como despesas essenciais, cabe lembrar que viagem a passeio não chega a compor seus itens fundamentais, como alimentação, moradia ou saúde, por exemplo. Na pior das hipóteses, aceite não viajar agora e aproveite o período em que programou seu descanso para alternativas mais de acordo ao seu bolso. Sem dúvida não é o melhor dos mundos mas entendo que pior do que isso seria você atropelar sua segurança financeira e ficar sem recursos para escola, planos de saúde, prestação da casa, concorda?
Um grande abraço e até a próxima!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.