Caso Prático(2)
E então meu querido leitor, minha querida leitora, descansou bem nos feriados prolongados? Pois é justamente sobre descanso que iremos falar hoje, dando continuidade ao artigo publicado semana passada onde mostrei como estimar a reserva necessária para a complementação de renda a partir da aposentadoria.
Refrescando a memória, usei o exemplo de Rodrigo, 35 anos, renda atual de R$ 25 mil, pretensão de parada aos 65, expectativa de vida até os 90 e necessidade de renda complementar anual de R$ 96 mil (ou R$ 8 mil mensais), valores expressos com poder de compra atual, já que na simulação trabalhamos com taxa real de juros (além da inflação), estimada em 2% ao ano. Duas alternativas foram apresentadas: (a) viver somente com os juros de suas aplicações (precisaria acumular R$ 4,8 milhões, as após sua morte, os recursos seriam transmitidos aos herdeiros) ou (b) viver com o saldo de suas aplicações (precisaria acumular R$ 1.874.252, que terminariam quando completasse 90 anos).
Tanto em um como no outro caso, acumular tais recursos em 30 anos não é tarefa fácil, considerando-se que salvo raríssimas exceções, as taxas reais que remuneram aplicações mais conservadoras, têm girado entre 1% e 2% ao ano, por conta de custos com administração, carregamento e outros. A 1%, por exemplo, chegar aos 65 anos com R$ 1.874.252 o obrigaria a guardar R$ 53,881 anuais (R$ 4.490 mensais, equivalentes a 17,96% de sua atual renda), valor que subiria para R$ 137.990 anuais (R$ 11.499 mensais, equivalentes a 46,0% de sua atual renda) caso optasse por chegar à aposentadoria com os R$ 4,8 milhões acumulados.
A 2% ao ano os valores citados caem para R$ 46.200 (R$ 3.850 mensais, equivalentes a 15,40 % de sua atual renda) e R$ 118.320 (R$ 9.860 mensais, equivalentes a 39,44% de sua atual renda) respectivamente e, se simularmos para taxas mais atrativas, a redução é ainda mais surpreendente: a 4% ao ano, Rodrigo precisaria guardar R$ 33.418 anuais (para acumular R$ 1.874.252) ou R$ 85.584 anuais (para acumular R$ 4,8 milhões).
Note que os valores a acumular vieram do artigo da semana passada, onde a hipótese foi a de que a partir de seus 65 anos, os recursos do Rodrigo estariam aplicados a 2% ao ano; para taxas diferentes desta, tais valores deverão ser recalculados.
Note também que durante a fase de poupança, quanto maior a taxa anual que irá remunerar as aplicações, menores serão os valores a guardar anual ou mensalmente, ainda que taxas maiores envolvam aplicações com maior risco. Da mesma forma, quanto maior o prazo de contribuição, menor o valor a contribuir... Exemplificando: alguém que hoje tenha 25 anos e planeje parar aos 65 (40 anos de contribuição) precisaria guardar R$ 31.030 anuais, a 2% ao ano, para acumular R$ 1.874.252, bem inferior aos R$ 46.200 necessários ao Rodrigo (30 anos de contribuição).
Como se percebe, o planejamento de uma previdência complementar envolve muitas variáveis que você precisará decidir, sendo o tempo de sobrevida, o prazo de acumulação dos recursos e o valor a acumular as principais. Quanto à taxa de juros, é de fundamental importância que todo o estudo seja feito com base na remuneração real, isto é, aquela além da inflação. Mas atenção: encontrados os valores a guardar periodicamente: 1) verifique se a rentabilidade oferecida pelos instrumentos que você irá utilizar (fundos ou planos de previdência, por exemplo) cobrem a inflação e a taxa utilizada na simulação (por exemplo, para os 2% ao ano do Rodrigo, se a inflação for de 6%, o fundo ou plano precisará render 8,12% anuais); 2) a cada ano corrija sua contribuição do ano anterior pelo valor da inflação (por exemplo, os R$ 46.200 anuais do Rodrigo, diante de uma inflação de 6% passarão a R$ 48.972 anuais).
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.