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02/12/2024 às 07h40

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Real ganho...


Envolvido em planejamento financeiro pessoal há pelo menos duas décadas, percebo nas conversas, nas consultorias, nas aulas ou palestras, que a cada dia que passa, mais e mais pessoas têm interesse em ampliar sua capacidade de guardar, conseguindo assim realizar sonhos de médio e longo prazos. A princípio, ótima notícia poder constatar essa mudança de hábito, mas vejo também que a maioria se preocupa mais em aumentar seus ganhos para assim conseguir enfrentar gastos maiores sem perder o espírito poupador do que reduzir gastos. Fiquei refletindo: será que esquecem que um real ganho a mais tem o mesmo valor que um real gasto a menos?

E você, meu querido leitor, minha querida leitora, também pensa desta forma? Acredita, portanto, ser mais fácil aumentar ganhos do que reduzir despesas? Taí, não consigo me convencer disso, e minha descrença baseia-se no fato de que, para aumentar suas receitas, uma pessoa ou empresa, precisa combinar com o outro lado, não é mesmo? Exemplifiquemos: (a) um colaborador de uma empresa, para ter suas receitas aumentadas, precisa pedir aumento ao chefe ou, nos casos em que a empresa admite a possibilidade e existe o que fazer, ficar algumas horas extras no trabalho; (b) um profissional liberal sem vínculo empregatício (médico, advogado, dentista) precisa ou aumentar o preço de suas consultas ou a sua base de clientes para conseguir a receita adicional, o que nos leva a questionar: seus atuais clientes concordarão com o novo preço? Conseguirá atrair mais clientes ao seu consultório? Mesmo uma empresa deve analisar criteriosamente qual efeito irá prevalecer em suas receitas diante das alternativas: aumentar preços unitários e eventualmente vender menos com maior margem ou reduzir preços unitários para ganhar no volume maior vendido?

Por outro lado, quando pensamos em redução de custos ou despesas, fica claro que a estratégia neste sentido depende muito pouco (ou quase nada!) de variáveis externas, salvo nos casos em que a economia de gastos acarrete impactos negativos nas receitas, o que aconteceria por exemplo, se um restaurante decidisse cortar custos reduzindo a qualidade dos produtos que usa nas refeições que serve. Não é à toa que boa parte das empresas bem sucedidas implementa rígido programa de controle de custos, visando sobretudo o desperdício. Mesmo um profissional liberal, procura otimizar seus gastos profissionais procurando opções mais baratas em termos de telefonia, atendimento, fornecimento de material, dentre outros insumos.

Bem, e no caso daqueles que vivam exclusivamente de salário, onde seria possível a redução? Revendo o parágrafo anterior, já temos uma dica: na medida do possível, nunca nas despesas essenciais, tais como escolas, prestação da casa ou do carro, condomínio, supermercado e outros. Costumo sugerir que comece pelos itens que menos lhe causem sacrifícios, conforme ilustra a seguinte sequência:

(1) Gastos associados ao descontrole: Correspondem àqueles que não lhe trazem qualquer benefício ou prazer, e o melhor exemplo desta categoria recai em multas, juros e taxas por conta de pagamentos não feitos ou feitos em datas posteriores ao vencimento. Pagar tudo em dia é eliminar parte ou todo este grupo.

(2) Gastos associados ao desperdício: Correspondem àqueles que você incorre por adquirir bens e serviços que não usa ou por pagar sobrepreços por falta de pesquisa. Se um aparelho de TV modelo XYZ tem preços diferenciados em lojas distintas, adquira-o na loja mais barata; se você paga uma academia que não frequenta, pense em cancelar o plano.

(3) Gastos associados ao supérfluo: Correspondem àqueles pequenos luxos que, à primeira vista você não pensa em abrir mão, mas que numa emergência ou diante de um sonho maior, formam o terceiro grupo destinado à tesoura. Cada um sabe o que entra aí, só não vale confundi-los com os essenciais. Esclareço: ir ao restaurante com a família de vez em quando faz parte do lazer, da convivência, do prazer. Não é supérfluo na minha forma de ver. Mas, em um fim de semana frequentar cinco, já passa da conta, concorda?

(4) Gastos essenciais: Correspondem a todos aqueles não listados nas categorias anteriores. Inclua lazer, saúde, moradia, vestuário, transporte dentre outros. Eles formam a essência de sua vida; proteja-os contra cortes procurando alternativas menos dolorosas. Só mesmo uma emergência deveria justificar você mexer com eles!

Até a próxima e um grande abraço!


Inteligência Financeira por Roberto Zentgraf

Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)

Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.

Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.


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