Convivo diariamente com histórias de casais que, apesar de aparentarem harmonia e amadurecimento nos principais aspectos da vida a dois, vivem uma permanente batalha quando o assunto é dinheiro. Parece-me também que o problema afeta os mais variados grupos de casais: com ou sem filhos, ambos ou apenas um empregado, alta ou baixa renda, etc. O fato de a questão não ser privilégio de nenhuma classe específica, me fez pensar sobre o assunto, tema deste e de artigo futuro.
Algumas reflexões iniciais: (1) Se você e seu parceiro(a) já compartilham o mesmo teto, cama e mesa, se discutem sobre o que fazer nas férias e fins de semana, se conversam sobre a educação e escola dos filhos, por que então não compartilhar também as finanças? É hora portanto, de acabar com aquela história de um ficar escondendo do outro quanto ganha ou quanto gasta!
(2) Porque, mesmo com a mulher ocupando um espaço cada vez maior no mercado de trabalho, a maioria dos casais ainda insiste em manter o padrão histórico do marido-provedor e da mulher-dona-de-casa? Acho que já é hora de mudarmos isso também, não é mesmo? Até porque já tem muita mulher ganhando mais do que o marido!
(3) Porque as decisões financeiras sobre quanto, onde e quando investir ficam, na maioria das vezes, na mão dos maridos? Quem foi que disse que as mulheres não têm capacidade financeira? Tenho um monte de alunas cursando Finanças e, afirmo: não ficam a dever a nenhum dos alunos da sala!
Na minha percepção, “estar casado” corresponde a buscar harmonia, compartilhamento e união, objetivos que podem ser estendidos às finanças do casal (noves fora o excelente conteúdo para quem gosta de “discutir a relação”).
Compartilhar neste caso significará administrarem a renda do casal de forma conjunta, não apenas nas questões mais simples e de curto prazo como as compras do mês ou o uso dos cartões de crédito, mas também nas questões mais complexas e de longo prazo, como as metas para a aposentadoria ou quais investimentos fazer. Harmonizar neste caso significará serem capazes de ouvir e dialogar sobre os temas financeiros mais polêmicos como por exemplo investir em ações. Unir neste caso significará reconhecer (e valorizar!) quais qualidades e capacidades cada um tem de melhor... por exemplo, esposas usualmente administram melhor as despesas da casa, enquanto maridos usualmente lidam melhor com o risco em aplicações financeiras.
Bem, falar (ou melhor, escrever!) é fácil, mas infelizmente não é o que vejo acontecer: há casais em que cada um faz a sua própria administração (perdendo-se assim eficiência, organização e tempo, já que muitas tarefas são feitas em duplicidade), casais em que um entrega ao outro o dinheiro para administrar (o que, nos casos de dificuldades financeiras, poderá ser o motivo de uma separação, com o tomador de decisão sendo declarado culpado), casais em que um (geralmente o que ganha mais) exerce o total controle sobre as finanças, deixando o outro totalmente de lado no processo. Percebo que nestes casais falta o diálogo financeiro... Que pena!
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.