Pois é, meu querido leitor, minha querida leitora, estamos sempre tão preocupados com a rentabilidade das aplicações financeiras em geral, que por vezes esquecemos que o combustível necessário aos investimentos vem de nossa capacidade de gerar (e guardar!) renda e, salvo algumas exceções virtuosas (artistas, atletas, dentre outros) o cidadão comum, obtém esta renda no mercado de trabalho. Por conta disso, resolvi dar uma espiada no que acontece com quem se dispõe a investir em sua própria educação. Entendo que em assunto tão complexo, haja inúmeras variáveis que afetem sua decisão, mas, fiel ao espírito da coluna, manterei a análise sob o enfoque estritamente financeiro.
Assim, pesquisando na Internet, encontrei sites que, gratuitamente, listam os salários médios pagos a diferentes categorias profissionais em empresas de grande porte. No caso da área financeira, por exemplo, um auxiliar financeiro recebe R$ 2.363 mensais, um analista financeiro R$ 5.156 e um contador pleno R$ 7.634. Supondo que uma faculdade de contabilidade cobre em média – mensalidades e livros – algo próximo dos R$ 1.500 mensais, durante cinco anos, vejamos algumas situações. Deixo as conclusões para você!
Caso 1: Estudar sem trabalhar: Ao terminar o segundo grau, João foi direto trabalhar e hoje é auxiliar de contabilidade; José, por outro lado, preferiu esperar enquanto estudava. Durante seu estudo, seu custo será, na realidade, de R$3.863 mensais, correspondentes ao valor da mensalidade e livros de sua escola acrescido do salário (de auxiliar) de que abriu mão. É um alto investimento, não há dúvida, mas daqui a cinco anos, admitindo que consiga o cargo de analista, obterá um salário R$2.793 maior que o de seu amigo (são amigos, esqueci de avisar!) e, supondo que ambos mantenham suas posições pelos 35 anos seguintes, seu investimento terá lhe rendido 0,89% ao mês, valor que sobe a 1,44% se, formado, conseguir diretamente o cargo de contador.
Caso 2: Estudar e trabalhar: Agora suponha que Joaquim, outro amigo, aguente o esforço adicional e, mesmo cursando a faculdade, não largue o seu emprego de auxiliar. Neste caso, durante seu período de estudo, seu investimento mensal será de R$1.500, equivalente apenas à mensalidade e livros de sua escola. Se, da mesma forma que José, Joaquim conseguir o cargo de analista, seu investimento terá lhe rendido 1,77% mensais, valor que sobe para 2,54% se conseguir o cargo de contador.
As rentabilidades obtidas nas simulações anteriores superam a maioria dos resultados obtidos em aplicações financeiras, mesmo aquelas que apresentam maior risco, sugerindo, portanto, valer a pena investir em educação. Mas atenção: entendo que a formação profissional seja condição necessária à consolidação de uma carreira, mas não suficiente, já que outros fatores, tais como liderança, capacidade de comunicação, carreira escolhida, condições do mercado de trabalho, dentre outros, também contribuem para uma boa colocação.
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.