Contra queimaduras, Picrato de Butesin!
Ainda que 41% do volume investido em fundos esteja alocada aos de baixo risco, são as demais categorias as que oferecem a real possibilidade de maiores ganhos, o que faz com que muitos procurem tais alternativas como forma de acelerar a formação de seus patrimônios. Como fazer? Forçando você, meu querido leitor, minha querida leitora, a pensar na resposta, utilizarei os dados do relatório ANBIMA de março/2025 para montar dois cenários fictícios, onde os resultados não constituem nenhuma profecia (não sou vidente), mas sim um mero exercício numérico!
Cenário 1: Nos três primeiros meses de 2025, os fundos de renda fixa em média subiram 2,60%; enquanto os de ações, considerando o mesmo período, subiram em média 5,83%. Mantidos tais resultados, em 5 anos, R$ 50 mil hoje investidos na renda fixa virariam R$ 83,5 mil, e nas ações R$ 155,3 mil, uma diferença a favor dos fundos de ações de R$ 71,8 mil! Dá vontade de aplicar tudo nas ações, não é mesmo? Isso é que eu chamo de queimar etapas!
Cenário 2: Nos 12 meses encerrados em março de 2025, os fundos de renda fixa subiram em média 10,52% e os de ações caíram em média 2,15%. Refazendo o mesmo exercício para 5 anos (com estes novos resultados), R$ 50 mil hoje investidos na renda fixa virariam R$ 82,4 mil, e nas ações R$ 44,9 mil, uma diferença contra os fundos de ações de R$ 37,5 mil! Isso é que eu chamo de se queimar!
Como diz um grande amigo, prever passado é ciência exata e infelizmente, o “daqui a 5 anos” do exemplo, é futuro: não dá para prever com exatidão. Como então apostar em um crescimento mais rápido, sem precisar adquirir quantidades industriais do Picrato de Butesin (pomada para queimaduras)?
Leitores mais assíduos devem ter a resposta: alocando apenas parte dos seus recursos em investimentos de risco, como os fundos de ações por exemplo. No exercício, o investidor que aplicasse R$ 10 mil nas ações e R$ 40 mil na renda fixa, teria R$ 97,9 mil no primeiro cenário ou R$ 74,9 mil no segundo. Qual percentual alocar em cada classe irá variar, de investidor para investidor, em função do risco que aceita (e pode!) correr. Note que por não saber de antemão o que irá ocorrer no futuro, a estratégia de diversificar diminui o ganho no caso do cenário de alta, mas em compensação atenua a perda (nas ações) no caso do cenário de baixa. Não tenho dúvidas de que seja a perda o que mais nos incomoda, acertei?
Fundos de ações investem no mínimo 67% de seus recursos em ações de empresas. São considerados fundos de alto risco (ou agressivos) pois suas cotas ficam sujeitas às oscilações de preço das ações. Neste grupo há várias subcategorias: os indexados procuram acompanhar a evolução de algum índice de bolsa (IBOVESPA, IBX), os setoriais concentram-se em ações de empresas de um setor (por exemplo energia), ou mesmo de uma única empresa (Petrobrás ou Vale, por exemplo). Na hora de investir neste tipo, é importante verificar se o fundo escolhido admite alavancagem pois esta, como o próprio nome indica, tenta alavancar (aumentar) os ganhos, por meio principalmente da utilização dos mercados derivativos (futuros, opções), aumentando assim o risco (em casos extremos, pode levar a perdas superiores ao total investido).
No Brasil, aonde a cultura de investir em empresas não está plenamente consolidada, apenas 4% dos recursos disponíveis aos fundos de investimento são aplicados nos fundos de ações. Até março de 2025, os indexados renderam (em média) 8,26% no ano, mas apenas 1,72% em 12 meses.
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.