Comporte-se!
Que tal saber que o Marcelinho não pode comer bolachas pela manhã? Ou que o homem de terno marinho não irá sair hoje com sua namorada? Surpreso? Eu também! Vivemos o tempo em que as orientações, os convites e, em alguns casos, os detalhes amorosos – nem sempre publicáveis – são discutidos a céu aberto, via celular. A bem da verdade, os casos que relato não ocorreram a céu tão aberto assim, pois estávamos no metrô... Com atrito e barulho, imagine, caro leitor, cara leitora, a que volume eu e os demais passageiros fomos obrigados a compartilhar destas pequenas intimidades alheias. Chegamos ao fim da privacidade? E o que dizer então do permanente exibicionismo nas redes sociais? O que você acha de tal comportamento?
Refletindo sobre o tema, lembrei-me do que tenho lido ultimamente, sobre Finanças Comportamentais, área de estudo e pesquisa que pouco a pouco ganha espaço em publicações e cursos ministrados em faculdades de ponta; a idéia central é combinar teorias da psicologia e das finanças para explicar porque as pessoas nem sempre tomam decisões racionais.
Observando o que tem ocorrido nos mercados financeiros em geral, e consciente de que a insegurança em como investir aumentou consideravelmente, achei oportuno listar algumas armadilhas comportamentais a que estamos sujeitos... Quem sabe, conhecendo-as, não sejamos capazes de maior autocontrole para decisões futuras?
(1) EXCESSO DE CONFIANÇA E OTIMISMO: Responsável por nos fazer acreditar que somos acima da média em prever não apenas os melhores ativos a investir, mas também o melhor momento para comprar ou vender. Risco: relutarmos em nos desfazer de posições perdedoras por não aceitarmos que erramos, ou então entrarmos e sairmos de posições com muita freqüência, trazendo a alegria para corretores e tristeza para o bolso!
(2) EFEITO MANADA: Fazer o que todos fazem (se todos fazem, deve estar mesmo certo!) nos trás conforto e segurança, até mesmo porque, ao errarmos em grupo, o “mico” é menor, não é mesmo? E, pelo que percebi, esta distorção é tão maior quanto maior ou mais prestigiado e poderoso for o grupo! Risco: participarmos ativamente de bolhas especulativas, entrarmos em esquemas do tipo pirâmide e muitos outros, por vezes sem termos sequer conhecimento sobre onde estamos investindo!
(3) PASSADO RECENTE: Informações que recebemos de passado recente exercem influência em nossa habilidade de julgamento, o que explica, por exemplo, o aumento dos aportes em bolsas e fundos de ações após sucessivos meses de alta ou o resgate descontrolado após meses de baixa. Ou seja, o princípio lógico e largamente difundido, de que para se ganhar dinheiro em mercados de risco deve-se comprar na baixa para vender na alta, é, aparentemente violado de forma consistente por investidores influenciados excessivamente pelas últimas informações. Risco: nas épocas de alta expormos nosso patrimônio a um nível de risco maior do que podemos suportar (o aumento das cotações faz crescer a participação da renda variável no total de nossos ativos), e, nas épocas de baixa, a um nível inferior, deixando-nos fora de boas oportunidades.
Enfim, o tema é muito interessante... e extenso, por isso continuarei na próxima semana. Por ora, comporte-se! Um grande abraço e até!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.