Observe bem!
Por conta de recente palestra que ministrei em uma empresa, pude perceber que a grande maioria dos participantes, ainda que tivessem uma razoável compreensão do mundo dos investimentos em geral, passassem batidos por questões que, no meu entender, podem gerar uma distância considerável entre os resultados esperados e aqueles efetivamente realizados. O assunto de hoje, portanto, tem como objetivo alertar aos queridos leitores, às queridas leitoras, para algumas destas questões. Vamos lá?
(1) Diversificação: Difícil estimar o que irá ocorrer no futuro, e assim, aqueles que procuram diversificar seus investimentos têm maiores chances de evitar possíveis perdas. Tal diversificação deve ocorrer não apenas entre as classes de ativos (renda fixa, bolsa, imóveis, etc.) mas ainda, dentro de cada classe, entre diferentes ativos. Neste ponto, fundos de investimento levam vantagem em relação às aquisições individuais já que suas carteiras são usualmente bem distribuídas entre inúmeros títulos. Exemplificando, alguém que possua R$ 20 mil para investir em bolsa, dificilmente conseguirá adquirir 15 ou 20 ações diferentes, desta forma concentrando o risco. E já que falei de fundos...
(2) Taxas cobradas: Fundos em geral cobram uma taxa de administração sobre o patrimônio investido, e vejo muitos decidirem por um ou outro em função do valor desta taxa. Bobagem, pois as rentabilidades anunciadas já estão deduzidas de tais taxas. Na mesma classe, compare fundos com base na rentabilidade oferecida/esperada. Alguns fundos cobram ainda a taxa de performance, geralmente atrelada a algum padrão (benchmark) de mercado. Acho a ideia interessante, desde que os resultados superem o padrão; entretanto, verifique se o padrão é adequado às características do fundo. Exemplificando, não faz sentido um fundo de ações usar como benchmark o CDI, concorda?
(3) Regras do produto: Nunca é demais ler prospectos e regulamentos explicativos, de forma a descobrir questões como liquidez, uso de derivativos, condições de resgate e liquidez, dentre outros itens. Já pensou investir em um fundo que obriga o aplicador a deixar o dinheiro parado até seu encerramento (caso dos fundos fechados)?
(4) Alavancagem: Como o próprio nome sugere, trata-se de uma estratégia que procura alavancar ganhos (o lado bom), mas que também traz o risco de alavancar perdas (o lado ruim). Tentarei explicar de forma simples: suponha que você tenha a expectativa de que uma ação vá subir 50% no próximo mês, ou seja, aplicando R$100 você a venderá por R$150. Animado com a perspectiva, você pega outros R$100 emprestados no banco, prometendo devolver R$110 e investe R$200 na ação. Se sua expectativa se realizar, ao término da operação você receberá $300 pela venda da ação e pagará o empréstimo de R$110. Sobre o que você investiu (R$100) terá obtido um ganho de R$90, equivalente a 90% (ao invés dos 50% inicialmente projetados). Por outro lado, caso a ação se desvalorize 20%, a operação alavancada pelo empréstimo irá lhe trazer uma perda de 50% (deixo as contas como exercício). Alguns fundos fazem operações similares, o que, dependendo do grau de alavancagem podem até mesmo ficar com o patrimônio negativo, exigindo de seus cotistas um novo aporte de capital, a chamada de margem. Todo o cuidado é pouco, leia o regulamento, insisto!
(5) Liquidez: Como já abordei em artigos anteriores, refere-se ao prazo em que o resgate do investimento é transformado em dinheiro em sua conta corrente. Para quem precisa de recursos em prazos mais curtos, alternativas com menor liquidez são inadequadas. Mas há outro ponto que tenho observado em alguns casos, notadamente em fundos multimercados e em alguns fundos de renda variável: o prazo a decorrer entre a data da solicitação do resgate e a data da cota de saída... Explico: suponha que sua aplicação em um fundo multimercado já tenha rendido 30% e você queira se desfazer da posição por acreditar que o mercado não tenha mais fôlego para subir... Se este fundo solicitar 60 dias para a cota de saída, você ficará 60 dias esperando para saber seu ganho final, que pode ser bem diferente dos 30% já acumulados... quase um cara-e-coroa, é mole?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.