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06/10/2020 às 13h30

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Frustrar parte dos apoiadores é etapa na consolidação de Bolsonaro

*Paulo Silva Pinto

Os evangélicos se juntaram aos bolsonaristas de primeira hora, os que emergiram das manifestações antipetistas nas ruas em 2013, e se tornaram sobretudo anti-políticos. Os 2 grupos se queixam da escolha do desembargador Kassio Nunes Marques, do TRF-1, para o STF (Supremo Tribunal Federal).

O presidente Jair Bolsonaro anunciou a escolha antes mesmo da aposentadoria de Celso de Mello, que será na próxima 3ª feira (13.out.2020). Marques é apoiado pela ala garantista do Supremo, que tem entre seus expoentes Gilmar Mendes e Dias Toffoli. A indicação foi elogiada também por congressistas do Centrão, como o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Bolsonaro tem uma boa razão oficial para a escolha. O desembargador apresenta 1 currículo sólido. E não é próximo ao presidente, portanto não se pode falar de escolha pessoal. Há pelo menos duas outras boas razões para a escolha do ponto de vista pragmático, ainda que não sejam possíveis de serem admitidas.

A mais óbvia é agradar congressistas do Centrão, consolidando o apoio na Câmara e no Senado. A outra é ter a simpatia de ministros do STF que possam vir a tomar decisões envolvendo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado no inquérito das rachadinhas no Rio de Janeiro –ele nega ter cometido irregularidades. Nunca é demais ter amigos no STF, nem mesmo para 1 presidente da República. Ou sobretudo para o chefe de Estado.

No caso dos anti-políticos, a queixa remete a uma frustração estrutural, quanto à falta de coerência. Eles votaram em Bolsonaro por terem entendido que ele não buscaria agradar a grupos, seja no STF ou no Congresso. Para os evangélicos, a razão é outra. Bolsonaro havia prometido mais de uma vez escolher 1 ministro do STF evangélico. Mas não deixou claro quando faria isso.

Em discurso na Assembleia de Deus em São Paulo na noite de 2ª (5.out.2020) ele disse (assista ao vídeo) que pretende escolher alguém que seja evangélico e também pastor para a próxima vaga no STF. A única pessoa que se conhece com essas credenciais é o ministro André Mendonça (Justiça). É bom lembrar que os evangélicos não são 12 grupo homogêneo. O que uns querem não é o que outros defendem, às vezes exatamente com o objetivo de esvaziar a concorrência interna nesse segmento da sociedade.

Às críticas dos antipolíticos, Bolsonaro tem respondido que precisa governar. Às de lideranças dos evangélicos, diz que o que queriam era exatamente emplacar uma indicação própria. Em outras palavras, é como dizer que estão sendo tão fisiológicos quanto o Centrão.

Esse desentendimento com os apoiadores não tem nada de surpreendente. Faz parte do que se podia notar desde o princípio como estratégia de romper com qualquer ideia de tutela. Houve outros episódios assim, com apoiadores de primeira hora, como Gustavo Bebbiano, com ministros militares, com os olavistas.

A ideia que o presidente quer passar é que todos são bem-vindos à sua volta, mas quem manda é ele. Não aceita ser tutelado por ninguém. Emplacar essa ideia é algo importante para alguém cuja capacidade de governar era colocada em dúvida antes mesmo da posse, e até mesmo por aliados.

Esses atritos fazem com que Bolsonaro perca apoio? A princípio o balanço é positivo. Em 1º lugar porque esses grupos tendem a votar em Bolsonaro nas próximas eleições por falta de opção que lhes agrade, sobretudo se houver polarização com a esquerda. Lideranças evangélicas pentecostais apoiararam Lula em 2002, é verdade, e ficaram com o PT em eleições seguintes. Mas é altamente improvável que voltem a fazer isso em 2022.

Além disso, o apoio do Centrão mais do que compensa qualquer frustração por parte dos apoiadores mais antigos. Com isso, o governo tem a perspectiva de aprovar, por exemplo, o Renda Cidadã, ou Renda Brasil, que permitirá a Bolsonaro ganhar mais votos entre os apoiadores do PT em 2018. Ou, no mínimo, permitirá ao presidente chegar de modo razoavelmente confortável a 2022. Sem isso, não existe reeleição.


*Paulo Silva Pinto Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics).


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