Por Arthur Virgílio Neto*
A descrença na
pesquisa e na ciência, aliás, se tornou ainda mais evidente nesse
período, com corte nos investimentos direcionados à área. Por outro
lado, vimos gastos de custeio sendo aumentados no Congresso Nacional.
Uma vergonha, desrespeito ao povo brasileiro, desrespeito à vida. E o
resultado dessa marcha contra à sensatez na saúde pública é o triste
número de milhares de brasileiros e brasileiras que perderam a vida por
causa do novo coronavírus e, no Amazonas, muitos foram cruelmente
asfixiados pela falta do oxigênio.
Cheguei a propor para o ministro
Guedes, que estimo e respeito, que usasse apenas o resultado de parte
das aplicações financeiras dos cerca de 360 bilhões de dólares já
acumulados, atingindo como base para o socorro ao povo mais necessitado,
praticamente todo o universo dos que hoje experimentam dias duros,
desemprego exorbitante e um quadro de desorganização social, do jeito
que vemos agora. Isso seria muito bom para desempregados, para os que
desistiram de procurar trabalho, para camelôs, autônomos, artesãos,
cantores, artistas da noite, pequenas e microempresas em geral.
Vantagens:
Não se criaria nenhum imposto novo, ou velho, que somente serviria para
desmoralizar a reforma tributária que está sendo decifrada por técnicos
do governo e por parlamentares lúcidos. A proposta não atrai taxas
extras de inflação. E as reservas, bem poderosas, permaneceriam
intocadas, apenas uma parte das aplicações financeiras vindas das nossas
reservas cambiais seriam utilizadas. Os recursos do Tesouro não seriam
postos em posição de aumentarem o déficit primário – receita menos
despesa, sem incluir a conta juros, porque se mede o outro déficit, o
nominal, incluindo nos cálculos essa mesma conta juros. Mas, o déficit
primário pode muito bem ter ingressado em números de trilhão.
O
quadro é grave, é ameaçador, para o equilíbrio político e econômico. Por
isso, fiz essa sugestão para socorrer o futuro da nação. Nada de mais
endividamento, não teria mais inflação. Usar-se-iam apenas os resultados
das aplicações das reservas cambiais. O atendimento ao povo necessitado
seria mais constante, volumoso, forte.
Cientistas respeitáveis
temem mais ondas. O isolamento social poderia fracassar e ser, de novo,
prejudicado pela falta de recursos. Mas, com a família passando fome, os
responsáveis pela sua prole sairão, inevitavelmente, às ruas para
alimentar os seus queridos. Entre o empirismo e suas fórmulas “mágicas” e
a ciência, fico abertamente com esta última, fico com os cientistas.
Sabem
as leitoras e os leitores que, por exemplo, a decretação de um lockdown
exige dinheiro nas mãos do povo, regras duras de isolamento social e
curta duração. A Covid-19, reforçada pelas novas cepas, cada vez mais
resistentes e letais, tem de ser enfrentada pelo bom comportamento aqui
relatado e por campanhas vitoriosas de vacinação em massa. O Brasil
vacina com a lentidão de um jabuti, quando a postura correta seria
correr como os campeões de Fórmula 1.
*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus
*Publicado na edição 48 da revista Painel Alagoas