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20/09/2021 às 14h40

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Suicídio: precisamos falar sobre isso

 Ilana Pinsky*

Psicóloga clínica, mestre, doutora e pós-doutora em psicologia médica, foi professora associada da Columbia University,e pesquisadora visitante na City University of New York (Cuny)


Deixar de viver é uma saída considerada por muitos em momentos de crise. Embora ainda seja tabu admitir isso, a ideia de abandonar a vida aparece em pessoas de todas as idades. Em estudo com mais de 1.000 adolescentes em Santa Catarina, por exemplo, 14% admitiram já terem pensado seriamente em não mais viver. E esse número preocupante está abaixo do índice mundial, de cerca de 20% da população jovem.

É evidente que há uma distância entre; considerar o ato; e tentar efetivamente executá-lo.

Entre os profissionais de saúde mental, costuma-se falar em passos em relação a comportamentos suicidas. O primeiro é ter desejado estar morto ou ir dormir e não mais acordar (o que chamamos de ideação suicida passiva), considerado um sinal, mas de baixo risco, principalmente quando o pensamento é eventual. As perguntas para identificar o risco vão então em um crescente, que incluem pensamentos de se matar e a organização de planos para a realização desses pensamentos; e, depois, a intenção, com data marcada e comportamentos concretos para terminar com a própria vida; o que seriam as situações de maior risco.

A ligação do comportamento suicida com doenças mentais; principalmente depressão e uso excessivo de bebidas alcoólicas ; é algo bastante estabelecido. Outros fatores relacionados incluem a exposição a situações de abuso, violência, isolamento emocional e dor crônica, assim como momentos de crise, incluindo término de relacionamento, morte de pessoas próximas e até problemas financeiros ; todos relacionados com a sensação de falta de esperança.

Em resumo, o suicídio tem determinantes complexos e não é incomum que características impulsivas façam parte da equação, particularmente em homens, principalmente quando conjugadas ao consumo de álcool e outras drogas. Ao que parece, a impulsividade faz com que os homens, embora tentem menos do que as mulheres, sejam mais ;eficazes; ao realizar o ato suicida do que elas.
A pergunta que não quer calar é: deve-se falar sobre o assunto? Isso não pode funcionar como estímulo à própria prática do suicídio? A literatura recente tem mostrado que, ao contrário, conversar sobre o tema, de modo sério, com base científica, pode ser uma das melhores maneiras de prevenção do ato. Não estamos falando de divulgar episódios pela imprensa e pelas mídias sociais, falando de detalhes pessoais mórbidos, ou o método utilizado por determinado indivíduo. Isso, sim, poderia estimular o chamado suicídio por contágio.

Estamos falando aqui de buscar compreender e lidar de modo responsável com o desespero e a dor, de tentar acompanhar o percurso de sentimentos que, às vezes, nascem e se desenvolvem nas pessoas.

Por seu lado (e isto é muito im­portante), sentimentos suicidas são temporários. O que aparece como a única solução em um mo­mento frequentemente muda de figura minutos, horas ou dias de­pois. E é justamente aí que técnicas de prevenção têm sido propostas nos últimos anos.

O Plano de Segurança para Pre­venção do Suicídio, criado por pesquisadores da Universidade de Co­lumbia, é um dos métodos que po­dem ser utilizados individualmente ou como parte de um programa de tratamento. Trata-se de intervenção breve e construída de ma­neira colaborativa entre profissional e paciente com ênfase em uma lista de estratégias de enfrentamento para serem utilizadas durante o início de uma crise suicida.

Seu objetivo é auxiliar o indivíduo a recobrar o sentimento de controle ao ter em mão uma lista de recursos objetivos e individualizados que o ajudarão a enfrentar a angústia em momentos em que a capacidade de resolver problemas se encontra muito reduzida.
Comportamentos suicidas não são raros, principalmente em épocas de crise. A saúde mental precisa e pode colaborar com os que precisam de ajuda nessas horas.


*Publicado na edição 51 da revista Painel Alagoas


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