Eliane Aquino*
Ataques a escolas, de quem é a responsabilidade?
O ministro da Educação, Camilo Santana, está propondo a criação de um grupo para tratar de questões relacionadas a ataques em escolas, como o ocorrido recentemente em São Paulo, em que uma professora foi morta por um aluno, segundo informou a jornalista Andréia Sadi, apresentadora do Estúdio I, na Globonews, comentarista de política da CBN.
A ideia é envolver outros ministérios, como o da Justiça e o de Direitos Humanos, e a Secretária-geral da Presidência da República, sob a qual está a Secretaria Nacional da Juventude. A proposta inclui, ainda, a participação de prefeituras e estados para pensar ações concretas multisetoriais.
Desde 2002, o Brasil já registrou 23 ataques em escolas, de acordo com levantamento de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com um total de 36 mortes. Desde agosto do ano passado, foram nove casos. Em todos eles os assassinos eram alunos ou ex-alunos da instituição de ensino invadida.
O episódio com o maior número de vítimas ocorreu em 2011 e ficou conhecido como o Massacre de Realengo. Na ocasião, 12 pessoas morreram após um ex-aluno atirar em jovens na Escola Municipal Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio.
Segundo levantamento da Unicamp, ao longo dos anos os fatores que levam crianças e jovens a realizarem esse tipo de ação mudaram.
Se antes a principal motivação era bullying, hoje, aponta o estudo, além de algum sofrimento vivido pelo estudante, os casos se relacionam ao consumo de cultura extremista. E o pior, a sociedade vive um momento em que se encoraja, direta ou indiretamente, atos agressivos e de violência.
O ataque ocorrido no final de março passado na Escola Estadual Thomazia Montoro, segue um mesmo padrão dos anteriores levantados pelo estudo da Unicamp, de meninos ou homens, quase sempre brancos, atraídos por discursos de ódio e racismo dentro de grupos da internet, conforme explicou Cleo Garcia, mestranda em educação na Unicamp e especialista em justiça restaurativa.
"Discurso de ódio, misoginia principalmente, talvez baseada em baixa autoestima, em ter sido rejeitados por meninas, mas todos eles tem um discurso muito forte contra meninas. Outra coisa é essa questão de frequentarem esses chats que a gente considera que fazem especificamente discursos de ódio voltados para esse público, e fazem cooptação e engajamento desses adolescentes", defende a mestranda.
Um dos caminhos propostos para a resolução de conflitos dentro das escolas é a Justiça Restaurativa, a de resolução dos conflitos sem, necessariamente, envolver punição e com o foco voltado a reparar danos às vítimas.
Desde 2010, o estado de São Paulo regulou a figura do professor mediador nas escolas estaduais, no entanto, Cleo Garcia avalia que não é o suficiente, sendo necessário o envolvimento de todos da comunidade escolar, alunos, professores e pais para que os conflitos sejam resolvidos dentro da lógica da justiça restaurativa.
É óbvio que a escola não é a única responsável, mas ela precisa trabalhar essas temáticas e abrir um canal de escuta para apoiar crianças e adolescentes, além de espaços de mediação de conflitos, rodas de conversa que são importantes neste contexto. Porém, mais do que isso, é preciso uma responsabilização coletiva. Uma união da escola, famílias, mas, principalmente, uma participação dos governos com políticas públicas. E quando falamos de política pública, não estamos falando de policiais dentro da escola, mas de programas escolares e também de assistência social e de saúde mental para apoiar os estudantes. De uma forma mais ampla, também estamos falando de uma política de controle de armas, por exemplo, já que muitos atentados foram com arma de fogo.
Não se pode levar para o individual o que é responsabilidade de todos.
*Publicado como editorial na edição 68 da revista Painel Alagoas
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