Pedro Pinto de Oliveira*
A pergunta do título, “quem faz viver Marielle”, é uma provocação heurística. Contraponto e desdobramento à pergunta que não queria calar sobre o assassinato da ativista e vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Pedro Gomes, mortos em uma emboscada no centro da cidade do Rio de Janeiro em abril de 2018: “quem matou Marielle”?
A sociedade brasileira soube agora, em 2024, quem mandou matar, porque mandou matar, e quem matou Marielle: gente poderosa da milícia, o crime organizado incrustado nas instituições do estado. Mandantes e executores denunciados pela Polícia Federal foram ou são membros de instituições como as Polícias Civil e Militar e o Poder Legislativo, onde a milícia mantém seus tentáculos.
Para que usamos a nova pergunta: quem faz viver Marielle? Para não deixar a figura pública cair no “Buraco da Memória”. Marielle construiu como legado uma poderosa estratégia comunicativa que precisa ser avivada: sua capacidade de manter os limites da comunicabilidade no diálogo com os seus contrários, uma forma de tolerância articulada. Projetamos assim o foco na sua vida política de ativista brilhante, para a reflexão de aspectos relevantes das ações da figura pública em questão que merecem ser analisados de forma específica.
Fazer viver Marielle é jogar luz e situar a sua competência política diferenciada: a imensa capacidade de dialogar com o outro, fora das bolhas e de grupos. Usava uma estratégia de sustentar os limites da sua comunicabilidade que permitia expor as incoerências e violências dentro das próprias instituições, como, por exemplo, a Polícia Militar.
O assassinato da vereadora Marielle tem a dimensão de crime político: ela atuava de forma criativa e corajosa no embate da democracia contra a extrema direita no Brasil que mostrou a sua face cruel e radical a partir da eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Marielle tornou-se um ícone da intolerância à diferença e uma vítima da violência que nos assombra. A ativista era vista pelos extremistas como inimiga ideológica a ser eliminada. Sua imagem ainda hoje é atacada pela extrema direita com o ácido social cuja fórmula mistura ódio, preconceito e violência. Pela visada humanista e democrática, a sua memória viva é referência na luta pelas pelos direitos dos negros, das mulheres, dos pobres favelados, periféricos, LGBTQIA+ e pela preservação das áreas públicas do município.
*Pedro Pinto de Oliveira é jornalista e professor da UFMT. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e doutor em Comunicação pela UFMG, com pós-doutorados na UBI/Portugal e no Instituto Politécnico de Coimbra/Portugal, e pesquisador do Grupo Multimundos.
* Jornalista e professor da UFMT. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e doutor em Comunicação pela UFMG, com pós-doutorados na UBI/Portugal e no Instituto Politécnico de Coimbra/Portugal, e pesquisador do Grupo Multimundos.
*Publicado originalmente no Blog do Noblat
*Publicado na edição de junho da revista Painel Alagoas
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