João Aderbal
Médico e articulista
A Voz de Teo e o Espírito de Tavares Bastos
Na manhã de 9 de maio, o Parlamento alagoano se engrandeceu ao receber o ex-governador e ex-senador Teotônio Vilela Filho. Não foi apenas uma presença ilustre, mas uma manifestação de inteligência política, sensibilidade histórica e compromisso com o bem público. O discurso proferido por Teo, no momento em que se homenageava o legado de Aureliano Cândido Tavares Bastos, foi de tal forma bem estruturado e eloquente que se impôs como peça digna dos anais da Casa.
Dividido em três movimentos claros — como uma sinfonia bem composta —, o pronunciamento teve início com uma justificativa que transcendeu o mero protocolo. Teo se mostrou grato e honrado em retornar àquela tribuna, mas não se deteve em reverências: transformou o gesto em ato político, reafirmando seu pertencimento à vida pública e ao destino de Alagoas.
Na segunda parte, o tom se elevou. Num libelo vigoroso em defesa da paz, evocou com firmeza o episódio sombrio do tiroteio de 1957, não como lembrança mórbida, mas como advertência. O passado, disse ele com sutileza, nos chama à razão quando o presente parece se embriagar com a intolerância. Foi uma crítica serena e contundente aos tempos de ódio que hoje insistem em se impor — uma exortação à convivência democrática, ao diálogo, ao resgate da civilidade.
Por fim, a consagração: Teotônio mergulhou com reverência e precisão na trajetória de Tavares Bastos. Fez do nome que batiza a mais alta comenda da Casa um espelho para os dias atuais. Evocou o tribuno visionário, o reformista incansável, o defensor da descentralização, do progresso e da liberdade. Mostrou que Tavares Bastos não é apenas um personagem do passado, mas uma inspiração viva para os que não se rendem ao atraso nem ao comodismo.
Foi uma solenidade marcada pela elegância, pelo peso simbólico e por um raro senso de oportunidade. A política, tantas vezes rebaixada ao trivial, reencontrou hoje em Alagoas sua dimensão nobre e necessária. E Teo, mais uma vez, provou ser um dos poucos capazes de unir passado e futuro com a lucidez dos que sabem ouvir a História — e nela deixar sua própria marca.
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