Carlo Castor Daudt*
O famoso baterista Bill Bruford, ex-integrante das bandas Yes, King Crimson, U.K., Bruford, Earthworks e outros, em sua recente auto-biografia (Bill Bruford – The Autobiography) elabora sobre o Rock Progressivo:
“Sem os Beatles, ou alguém que tivesse feito o que os Beatles fizeram, é justo admitir que provavelmente não existiria o Rock Progressivo. A música emergiu do estilo psicodélico e folk pastoral do final dos anos 60 e teve uma era de ouro até meados dos anos 70. Bandas psicodélicas como Pink Floyd, The Moody Blues, Procol Harum, e o Nice, todos em formação, lançaram as fundações do estilo entre 1966 e 1970.
O lançamento do álbum "In The Court Of The Crimson King", pelo King Crimson, em 1969, sinalizou o surgimento do estilo de rock progressivo maduro que atingiu seu ápice comercial e artístico entre 1970 e 1975 na música de bandas como Jethro Tull, Yes, Genesis, ELP, Gentle Giant, Van der Graff Generator e Curved Air.
Demograficamente, Rock Progressivo era a música do sudeste inglês, na maioria feito por simpáticos garotos ingleses de classe média como eu. O seu ambiente era de "colarinhos brancos" e seus pais membros destacados na sociedade. Nunca da classe trabalhadora, o Rock Progressivo era a expressão vital de uma boêmia e inteligente classe média."
Aqui no Brasil o “Rock Progressivo”, conhecido também como “Prog.” começou a dar as caras no final dos anos 60 com Os Mutantes, mas ainda em fase muito experimental, e o estilo só se estabeleceria na década de 70, como no resto do mundo. Bandas como O Terço, O Som Nosso de Cada Dia, A Bolha, Casa Das Máquinase outras, acharam seu espaço e se multiplicaram, mesmo sob a “sombra onipresente” da Ditadura Militar, que odiava aqueles “hippies cabeludos malucos” e seus sons incompreensíveis.
O “Rock Progressivo” se caracteriza, principalmente, por composições complexas e longas, com ritmos intrincados e passagens elaboradas. A “Tropicália” também aproveitava elementos desta nova onda e muitos artistas brasileiros começaram a incorporar elementos e instrumentos de música erudita e de jazz em seus discos. Assim o “Prog.” se estabelecia como uma música de elite, a exemplo da “Bossa Nova”, pois somente pessoas com muito estudo, cultura e instrumentos e equipamentos muito caros tinham acesso a este estilo.
Muitos músicos acabavam construindo seus próprios equipamentos, pois o custo era astronômico. Transportar um órgão ou um teclado eletrônico, na época, era um feito notável e caro. A elite era outra, mais jovem e antenada, mas ainda uma elite das classes média e alta.
Desnecessário dizer que rapidamente o “PROG” virou “POP”, se tornando um estilo muito popular e lucrativo e desencadeando um “boom” de bandas pelo mundo todo, inclusive no Brasil. O Genesis chegou a fazer shows aqui em 1977, (ainda com o guitarrista Steve Hackett), o que na época era inédito, pois estas super-bandas eram praticamente inacessíveis a nós, meros mortais. Assistir a este show do Genesis na época foi como um sonho para muitos, como eu.
Muitos talentos da Música Brasileira foram forjados nesta “Oficina Progressiva”. A banda Vímana, que tinha Lobão, Lulu Santos eRitchie é um ótimo exemplo disto. Chegaram a assinar um contrato de gravação com um grande selo ainda nos anos 70, mas quis o destino que o famoso tecladista Patrick Moraz (ex-Yes) os fizesse rasgar este contrato e os contratasse para ser sua banda de apoio. No final o projeto não decolou e cada um saiu em busca de sua carreira (o que funcionou muito bem nos vindouros anos 80).
Este acontecimento é emblemático de uma época e assinala uma enorme transformação que viria a acontecer na música mundial, com a chegada do “Punk” e do “New Wave”, a resposta da classe trabalhadora ao elitismo do “Prog.”
Mas esta é outra curiosa estória para um próximo post. Cheers!
*É músico, publicitário e designer gráfico
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