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Sobre coronavírus - certezas e incertezas

10.05.2020 às 08:00

 

A ciência avança e deixa cada vez mais claro que as incertezas permanecem

O que se sabe até agora é que o novo coronavírus terá vida longa.Mas, dependendo da localização geográfica e das políticas em vigor, exibirá dimensões e dinâmicas variadas. “Não é uma questão de atravessar o pico, como algumas pessoas parecem acreditar”, explica Marc Lipsitch, epidemiologista da T.H. Chan School of Public Health, de Harvard. Ele quer dizer que uma única rodada de distanciamento social — fechar escolas e locais de trabalho, limitar aglomerações e lockdowns de durações variadas — não será suficiente a longo prazo. Lipsitch é coautor de duas análises recentes — uma do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota e a outra da Chan School, publicada na Science. Nelas, ele descreve uma variedade de formas que a onda pandêmica pode assumir nos próximos meses.

“Existe uma analogia entre previsão do tempo e modelagem de doenças”, explica o professor. Ambas são simples descrições matemáticas de como um sistema funciona: baseando-se na física e na química no caso da meteorologia; e sobre comportamento, virologia e epidemiologia, no caso de doenças infecciosas. “É claro que não podemos mudar o clima. Mas podemos mudar o curso da pandemia com nosso comportamento, equilibrando e coordenando fatores psicológicos, sociológicos, econômicos e políticos.”

O estudo de Minnesota descreve três possibilidades. O cenário número 1 mostra uma onda inicial de casos — a atual — seguida por uma corrida constante de ‘picos e achatamentos’ que diminuirão gradualmente ao longo de um ou dois anos. O cenário 2 supõe que a onda atual será seguida por um ‘achatamento’ maior, com ondas menores subsequentes, semelhante ao que ocorreu durante a pandemia de gripe de 1918-1919. O 3 sugere um intenso pico seguido de uma ‘combustão lenta’, com altos e baixos menos pronunciados. Os autores concluem que, independentemente da realidade que se materialize (considerando as medidas de mitigação em andamento enquanto aguardamos uma vacina), “devemos estar preparados para, pelo menos, 18 a 24 meses de atividade significativa do Covid-19, com hot spots surgindo periodicamente em diversas áreas geográficas.

No artigo da Science, a equipe da Harvard examinou de perto os vários cenários da dinâmica de transmissão usando os dados mais recentes do Covid-19 e de vírus relacionados. Os resultados viraram uma série de gráficos que projetam um futuro igualmente ondulado. Um dos possíveis cenários (os detalhes diferem geograficamente) mostra a trajetória das infecções, em vermelho, em resposta aos regimes de ‘distanciamento social intermitente’, representados por faixas azuis.  O distanciamento social é ativado quando o número de casos atinge uma certa prevalência na população — por exemplo, 35 casos por 10.000. É desativado quando os casos caem para um limite mais baixo, 5 casos por 10.000. Essa estratégia visa impedir que o sistema de saúde seja sobrecarregado. Outro gráfico representa o aumento correspondente, embora muito gradual, da imunidade da população. “O limiar de imunidade de rebanho no modelo é de 55% da população, ou o nível de imunidade necessário para que a doença pare de se espalhar sem outras medidas”, disse Kissler.

No modelo é assim. Na vida real, ainda não se sabe qual porcentagem total da população seria necessária para atingir a meta desta imunidade do rebanho. Pode chegar a 80% da população. Alguns especialistas prevêem que pelo menos 70% precisarão estar imunes ao vírus para chegar lá. Outra interação mostra os efeitos da sazonalidade — uma propagação mais lenta do vírus nos meses mais quentes.

O exemplo da Suécia, que rejeita o bloqueio total, demonstra que uma estratégia de imunidade direcionada a rebanhos também não faz muito para proteger populações em risco. As mortes de idosos por lá foram dolorosamente altas. Em um país mais densamente povoado, como os Estados Unidos, e com uma proporção maior de pessoas vulneráveis, a perda humana de uma estratégia de imunidade de rebanho pode ser devastadora. “Quando somos bem-sucedidos no distanciamento social, menos pessoas contraem a infecção, que é exatamente o objetivo”, disse a pesquisadora Christine Tedijanto. “Mas se a infecção levar à imunidade, o distanciamento social bem-sucedido deixaria mais pessoas suscetíveis à doença. Como resultado, assim que suspendermos as medidas, o vírus se espalhará novamente.”

É ainda mais complicado. Uma das grandes questões em aberto é se pacientes recuperados estão imunes. “Ainda não sabemos se o vírus protege você contra o vírus”, afirma Jared Baeten, professor de medicina e saúde global da Universidade de Washington. A OMS enfatizou que não se sabe se recuperados podem adoecer novamente. Basta pensar nos vírus respiratórios comuns que causam a gripe ou o resfriado — você pode receber vacinas todos os anos e ainda assim adoecer. Existem centenas de vírus que causam resfriados, mas a exposição a pelo menos uma cepa pode tornar as infecções subsequentes menos graves. A imunidade também pode desaparecer com o tempo, e é por isso que as doses de reforço são comuns para prevenir infecções como o tétano. Outras vacinas geralmente duram a vida inteira, como a SRC, ou tríplice viral, para caxumba, sarampo e rubéola. Só conseguiremos imunidade de rebanho se a grande maioria das pessoas for vacinada, diz Baeten. Dudley concorda: “A vacina é nossa melhor esperança.”

Um grande estudo com pessoas de Nova York que tiveram Covid-19 traz o que parece ser uma boa notícia: a maior parte dos infectados desenvolveu anticorpos. O estudo, ainda não revisado por outros pesquisadores, analisou 1.343 pacientes com Covid-19 confirmada em testes ou com sintomas autodeclarados da doença. Dos 1.343, 624 tiveram confirmação da Covid-19 por PCR. Destes, 511 tinham altos níveis de anticorpos presentes (o que os tornava também possíveis doadores de plasma sanguíneo para pacientes ainda afetados pelo novo coronavírus, uma opção terapêutica em estudo), 42 tinham níveis fracos e, em 71, não foram detectados os anticorpos.

Mas tudo sobre o coronavírus continua incerto. No lugar da suposta imunidade natural generalizada ou de uma vacina, o distanciamento social desempenha a mesma função, quebrando essas cadeias de transmissão, impedindo que os hospitais entrem em colapso. Mais pessoas sobrevivem. Portanto, na falta de uma vacina, nosso estado de pandemia pode persistir até 2021 ou 2022. Surpreende até especialistas.


Testes

Os testes generalizados são importantes para obter informações sobre a sua disseminação nos EUA. Mas um segundo aspecto merece atenção: precisão. Segundo Maureen Ferran, professora associada de biologia no Rochester Institute of Technology, é difícil determinar a precisão de um teste de coronavírus e entender como isto afeta os dados que as autoridades de saúde pública usam para tomar decisões.

Hoje, há dois tipos principais de teste em uso. O primeiro é um de reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa, ou RT-PCR. Este é o de diagnóstico mais comum usado para identificar pessoas atualmente infectadas com SARS-CoV-2. Ele funciona detectando o RNA viral nas células de uma pessoa — geralmente coletadas pelo nariz. O segundo teste usado é o sorológico ou de anticorpos, que analisa o sangue de para ver se houve produção anticorpos para o coronavírus. Se um teste encontrar esses anticorpos, significa que uma pessoa foi infectada.

A precisão de um exame médico é determinada pela medição de duas aspectos: sensibilidade e especificidade. Se um teste for 90% sensível, ele identificará corretamente 90% das pessoas infectadas. No entanto, 10% dos infectados obteriam um resultado falso negativo — têm o vírus, mas o teste diz que não. Um teste específico identificará com precisão as pessoas sem a doença. A especificidade mede os negativos corretos. Se um teste for 90% específico, identificará corretamente 90% das pessoas que não estão infectadas, registrando um verdadeiro negativo. Para reiterar: a sensibilidade mede a precisão positiva; a especificidade mede a precisão negativa.

Os testes de RT-PCR são excelentes em condições ideais, considerados o padrão-ouro para a detecção de muitos vírus. Na Suíça, pesquisadores avaliaram cinco testes Covid-19 RT-PCR e descobriram que todos atingiam 100% de sensibilidade em amostras positivas e pelo menos 96% de especificidade em amostras negativas. Mas, no mundo real, as condições e o processo de teste estão longe de perfeitos. Ainda não sabemos qual é a taxa real de falsos positivos, mas a sensibilidade clínica dos testes de RT-PCR varia de 66 a 80%. Isso significa que quase uma em cada três pessoas infectadas testadas receberá resultados falsos negativos.

Coletar boas amostras não é fácil e é nisto que a maioria dos especialistas considera que está o problema. Provavelmente, resultados falsos negativos estão ocorrendo porque os prestadores de serviços de saúde não estão coletando amostras suficientes com o vírus. Isso pode acontecer porque alguém não insere um cotonete com profundidade no nariz. Falsos negativos também podem ocorrer se uma pessoa for testada muito cedo ou muito tarde durante a infecção e não houver muitos vírus em suas células. E, finalmente, erros podem ocorrer se uma amostra ficar muito tempo esperando antes de ser testada, o que permite que o RNA viral se quebre.

O risco relativamente alto de falsos negativos é o motivo pelo qual os médicos não confiam apenas em um teste para determinar se uma pessoa tem o coronavírus. Quando alguém apresenta sintomas e está em uma área de surto, médicos fazem o diagnóstico mesmo com testes negativos.

Já a maioria dos testes de anticorpos procura evidências da reação de “primeira resposta” — IgM (imunoglobulina-M) —, que aparecem cerca de uma semana após a infecção, bem como anticorpos IgG (imunoglobulina-G) de maior duração, produzidos entre duas e quatro semanas após a infecção. Recentemente, pesquisadores da Universidade da Califórnia compararam 10 testes sorológicos. A sensibilidade dos testes estava acima de 90%, mas a especificidade é mais importante ao verificar evidências de uma infecção passada. Outro ponto importante: leva de uma a duas semanas para que um paciente produza anticorpos para um vírus. Isso também significa que esses testes não devem ser o principal meio usado para diagnosticar uma infecção atual.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, é possível que os testes atuais de anticorpos reajam de maneira cruzada com outros coronavírus humanos, resultando em falsos positivos. Outra questão em potencial é que pessoas assintomáticas e com sintomas leves podem produzir menos anticorpos contra o vírus do que pessoas doentes. Portanto, um teste sorológico que pode detectar com precisão anticorpos em pacientes graves pode ser menos capaz de identificar pacientes com menos anticorpos no sangue. Assim como os testes de RT-PCR, isso resultaria em falsos negativos.

Nem a PCR nem os testes sorológicos são perfeitos, mas são muito melhores do que nada e oferecem informações valiosas. E mesmo com as incertezas atuais, no momento, o principal desafio não é a precisão dos testes, mas o fato de que não há pessoas suficientes sendo testadas. No Brasil a situação é bem pior.


Vacina

O vírus SARS-CoV-2 foi geneticamente mapeado faz já quatro meses. É o primeiro passo para que uma vacina apareça — e já há três opções diferentes e promissoras sendo avaliadas.

Vacinas em geral passam por três fases antes de distribuição em massa. Na primeira, são testadas em algumas dezenas de pessoas. Daí em algumas centenas e, tudo dando certo, em algumas milhares.

O Instituto Jenner da Universidade de Oxford começou a segunda fase de testes da sua. Como os pesquisadores já haviam trabalhado com um ‘irmão’ do novo coronavírus, aquele que causa a MERS, saíram na frente. Mas, nos EUA, a farmacêutica Moderna também foi autorizada a iniciar a fase dois da sua vacina e começa a busca por voluntários. São pessoas que a tomarão e serão expostas à doença. Enquanto isso, a chinesa CanSino Biologics também já está na segunda fase de testes de uma terceira versão.

Não são as únicas opções. Há ainda três vacinas distintas, uma da mesma CanSino, outra da Pfizer alemã, e uma terceira da americana Inovio, todas passando pela primeira fase.

Nesta história há uma questão delicada. O padrão é que vacinas sejam testadas por pelo menos dois anos para ter certeza de que não provocam efeitos colaterais graves. A maioria dos danos possíveis costuma surgir logo, mas não todos. Tanto a OMS como os órgãos regulatórios de EUA, China e Europa estão dispostos a acelerar este processo.

Ainda assim, o processo é lento. Na terceira fase, além dos pacientes vacinados há também um grupo de controle — pessoas que recebem placebos. A avaliação dos resultados é lenta, dura meses. Dificilmente, portanto, uma vencedora poderia aparecer em menos de um ano. Para não falar da questão logística — produção e distribuição.

Até os tubos onde a vacina é depositada, um vidro especial, são gargalos.


*Com informações de Folha, Estadão, NYT, Science Magazine, Popular Science, Wired e ABC News



Postado por Painel Opinativo

Pior que a crise política é a crise pandêmica

No pior dia da pandemia, Brasil ultrapassa a marca de 8.500 mortos

07.05.2020 às 12:45
Alexandre Schneider/Getty Images


O Brasil registrou 615 mortes decorrentes do novo coronavírus nas últimas 24 horas, segundo atualização feita ontem pelo Ministério da Saúde. São 8.536 mortes, no total, registradas por Covid-19. Na quinta passada eram 5.901 mortos. No mundo, são mais de 264 mil mortes até o momento, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

O chamado lockdown (confinamento radical) para cidades que estejam enfrentando uma transmissão mais grave do coronavírus já é uma possibilidade avaliada pelo governo, admitiu ontem o ministro da Saúde.

Em Belém e outros nove municípios do Pará, o confinamento radical já é uma realidade a partir de hoje. Com o objetivo de aumentar os índices de isolamento social e diminuir o número de casos de Covid-19 no estado, a restrição se estende por dez dias. Supermercados, farmácias, feiras e bancos seguem funcionando. Quem desrespeitar as medidas estará sujeito a advertências e multas de R$ 150 para pessoas físicas e R$ 50 mil para pessoas jurídicas. 

Para a Fiocruz, o confinamento radical no Rio pode acontecer de forma intermitente por até dois anos. O relatório enviado ao governo do estado e à prefeitura do Rio é bastante duro e assertivo na defesa de adoção de medidas mais rígidas de isolamento. Segundo a Fundação, a adoção tardia de lockdown "resultaria em uma catástrofe humana de proporções inimagináveis para um país com a dimensão do Brasil".

A inércia política aumenta número de mortes, indica estudo de três universidades federais brasileiras (UFPR, no Paraná; UFS, de Sergipe; e UFPE, de Pernambuco). Já com intervenções brandas (como o isolamento apenas de casos suspeitos) até 35 dias, a probabilidade de prevenir novas mortes é de apenas 10%. Intervenções drásticas (como a imposição de isolamento rigoroso) até 25 dias depois da primeira morte confirmada foram capazes de impedir até 80% de novas mortes em um país. Se a decisão demora 35 dias, a eficiência cai para 50%. Em outras palavras, quanto mais um governo demora para agir, maior é o número de óbitos.

Giovani Vasconcelos, físico do Departamento de Física da UFPR: “Governos devem agir logo, pois a 'janela' de oportunidade para conter o avanço do vírus é muito estreita. Não dá para esperar”.

Por falar em governo, o ministro da Saúde, Nelson Teich, anunciou a divulgação “em um ou dois dias” da data de início de uma campanha publicitária com orientações do governo sobre o coronavírus. A campanha do governo foi anunciada pelo ministro mais de dois meses (70 dias) após o registro do primeiro caso de coronavírus no Brasil, em 26 de fevereiro.

E a OMS declarou ontem que está pronta para trabalhar com os estados no Brasil. Mas, para isso, precisará haver um pedido do governo federal. O comentário foi feito por Michael Ryan, diretor de operações da OMS, numa coletiva de imprensa.

O Brasil está entre os países com maior número de profissionais de enfermagem mortos pela Covid-19. De acordo com os dados reunidos pelo jornal El País, 73 profissionais morreram em decorrência da doença. O número supera o registrado pela Itália e Espanha juntas, os dois países que acumulam o maior número de mortes de enfermeiros pelo novo coronavírus.

Mais de 90% dos leitos de terapia intensiva destinados ao tratamento de pacientes com Covid-19 estão ocupados em quatro estados brasileiros. Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará e Roraima são os que vivem a situação mais grave —o número muda diariamente, de acordo com a liberação de leitos por alta médica e mortes. 

Com o colapso da rede pública e privada de hospitais e a falta de leitos de UTI em Manaus e Belém, pacientes mais ricos destas e outras cidades das regiões Norte e Nordeste têm utilizado UTIs aéreas para fugir principalmente até São Paulo e Brasília em busca de tratamento adequado. O Uol fez um levantamento junto a cinco empresas de aviação executiva que prestam o serviço de UTI aérea. O aumento na demanda neste tipo de voo destas cidades em direção à capital paulista e a capital federal vai de 30% ao dobro no número de voos e orçamentos realizados.


*Com informações de FolhaSP, G1, O Globo, BBC e UOL

Postado por Painel Opinativo

O "Delírio Coletivo" de quem nega o Covid-19

01.05.2020 às 10:04


Já há algum tempo, não somente o Brasil mas o mundo tem presenciado um levante negacionista, ou seja, um movimento que tende a negar alguns fatos da realidade, refutando-os com teorias mirabolantes. O exemplo mais conhecido e propagado ultimamente é o de quem acredita que o planeta Terra é plano. Existem outros, como a negação do vírus da AIDS, do aquecimento global e agora, como já era esperado, do próprio coronavírus.

O grande problema deste movimento é a sua cegueira. A maioria dos negacionistas afincos sofrem de um delírio coletivo, isto é, uma convicção errônea para a Ciência e para quem não é negacionista, mas aparentemente super verdadeira para quem defende o movimento. Não existe prova científica ou dialética que os faça mudar de ideia, pois esta convicção não depende de fatos e dados, mas de crença, e não há nada mais forte para o ser humano do que crer em algo. Não à toa, temos milhares de provas históricas de indivíduos que morrem por suas ideologias e deuses.

Não é difícil encontrar hoje alguém comentando sobre o coronavírus: "eu não sei, você conhece alguém que esteja com o coronavírus? Parece que é coisa da mídia". Isso é uma típica frase delirante. É verdade que se deve ficar atento às fake news; no entanto, esta dúvida extrapola o limiar da realidade, fazendo o indivíduo não aceitar os fatos do mundo, seja por estar vinculado a uma ideologia política, seja por ele se identificar com líderes políticos que também deliram ou até mesmo como um mecanismo de fuga da realidade, porque tem medo das adversidades do mundo.

É incrível e até mesmo absurdo como a humanidade avançou em tão pouco tempo no que tange à Ciência e tecnologia, porém regrediu ao primitivismo das crenças que promovem um delírio em ideologias ocas e pensamentos negacionistas. Faltou, talvez, levar mais da Ciência e tecnologia para a população e não guardá-la nas patentes secretas que visam lucros econômicos.

Resta saber o quanto esses delírios coletivos cresceram e isso, infelizmente, ficará muito claro após a pandemia do coronavírus. Afinal, a pessoa que nega uma situação mundial como essa não está cega somente para a sua morte como possibilidade, mas também cega para a morte de quem ela contagiar, caso contraia o vírus.


*Leonardo Torres

Professor e Palestrante, Doutorando em Comunicação e Pós-graduando em Psicologia Junguiana

Postado por Painel Opinativo

Os benéficos efeitos ecológicos da pandemia

25.04.2020 às 11:20
Estrada sem movimento de veículos em Los Angeles


Canais de Veneza mais limpos. O Himalaia visível depois de décadas. Com cerca de 2,6 bilhões de pessoas em quarentena, o impacto humano sobre o ambiente começa a ficar mais visível. Enquanto a pandemia dá uma ideia de como seria a vida com menos poluição — mesmo que de forma temporária e a um custo humano alto —, também está deixando mais claro a escala de uma outra crise que já vinha ocorrendo: a climática.

A pandemia pode provocar uma queda de 6% nas emissões globais de CO2 neste ano, projeta a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Seria a primeira redução anual desde a Segunda Guerra Mundial. Em São Paulo, em três semanas de quarentena, a emissão de carbono caiu em 32% em relação ao mesmo período do ano passado. O mesmo se repete em outras partes do mundo. A China, por exemplo, teve uma queda de 25% em quatro semanas após o Ano Novo Chinês no final de janeiro.

Mas… uma baixa é natural com as paralisações. O crescimento econômico ainda é fortemente ligado às emissões de carbono em escala global. E essa redução ainda está longe de afetar o aumento projetado de 1,5°C de aquecimento até o final do século. Para evitá-lo, as emissões globais precisariam cair 7,6% a cada ano nesta década, segundo o Carbon Brief.

Dificilmente esse cenário se torne realidade. Cada queda nas emissões durante crises desde os anos 60 foram seguidas por um efeito rebote. O colapso de 2008, por exemplo, teve uma queda geral de 1,3% em CO2. Mas pacotes de estímulo econômico resultaram em uma recuperação de 5,1% nas emissões globais em 2010 — muito acima da média de longo prazo.

O efeito rebote já está dando sinais. O número de usinas a carvão aprovadas na China nas três primeiras semanas de março foi superior ao aprovado durante todo o ano de 2019, de acordo com o Global Energy Monitor. O mesmo pode se repetir pelo mundo. Trump prometeu garantir fundos para o setor de petróleo e gás. Enquanto alguns líderes da UE já levantaram a possibilidade de deixar de lado durante a pandemia o Acordo Verde Europeu — um pacote de políticas que obriga os países a zerarem as emissões até 2050.

A paralisação econômica também desacelerou projetos sustentáveis. Uma grande parte de painéis solares, turbinas eólicas e baterias é produzida na China. A BloombergNEF já rebaixou suas expectativas para 2020 nos mercados de energia solar, bateria e veículos elétricos. E se os preços do petróleo continuarem baixos, também pode ser uma má notícia para o clima. A energia mais barata geralmente leva os consumidores a usá-la com menos eficiência.

Pois é… o coronavírus chegou exatamente quando o movimento climático parecia estar ganhando força. Em 2019, o Reino Unido e a França definiram metas para zerar suas emissões. Greta Thunberg criou um movimento mundial e diversos bancos começaram a falar sobre sustentabilidade nos seus investimentos. Mas a paralisação deixou esse tema de lado e parou inclusive as pesquisas climáticas. Os vôos de pesquisa para o Ártico foram interrompidos e o trabalhos de campo ao redor do mundo foram cancelados.

Mas pode ter efeitos positivos. Alguns especialistas acreditam que os novos comportamentos durante a pandemia podem se tornar definitivos, mesmo que em escalas menores. Viagens de trabalho para apenas uma reunião podem ter ficado no passado depois do boom das videoconferências. Um estudo de 2018 na Suíça, por exemplo, descobriu que quando as pessoas não podiam dirigir e recebiam acesso gratuito à bicicletas elétricas, elas dirigiam muito menos quando finalmente recuperavam o carro.

E... para enfrentar a Covid-19, os cientistas têm compartilhado e publicado descobertas em níveis recordes. Para Bill Gates, se esse tipo de trabalho global continuar, poderá acelerar a ação ambiental coletiva.


Com informações de Valor, Carbon Brief, CNBC, New York Times, Finacial Times, BBC e outras editorias internacionais

Postado por Painel Opinativo

A testagem em massa e a pesquisa do Ibope: como uma boa ideia se degenera

22.04.2020 às 11:50


*Fernando Rodrigues

Parece haver 1 consenso (e 1 sonho) sobre os benefícios de testar a maioria da população do país. Paulo Guedes falou em 40 milhões de testes para conceder passaportes de imunidade para aqueles cujo resultado fosse negativo para covid-19.

Para todo problema complexo sempre há uma solução simples. Em geral, errada.

Nesta semana tornou-se conhecida a intenção de o governo aplicar 100 mil testes para covid-19 no Brasil inteiro. A escolha das pessoas seria na modalidade de uma pesquisa de opinião. O Ibope (empresa contratada) iria a todas as 27 unidades da Federação. Sortearia pessoas para serem abordadas em suas casas. Os brasileiros escolhidos seriam entrevistados e fariam o teste para verificar se estão ou não infectados pelo coronavírus.

“Que ideia maravilhosa. Estudos estatísticos nos permitem saber, com uma pequena amostra da população, o que acontece no conjunto completo da sociedade. Com 100 mil testes para covid-19 realizados em todo o país, incluindo todos os grupos demográficos, o Brasil saberá em uma semana a taxa de infecção em sua população. Será 1 dado fantástico para que os governos desenhem com mais precisão suas políticas públicas para combater a pandemia”.

A frase acima não foi dita por ninguém. É só uma compilação do idílio imaginado pela equipe do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta e pelo próprio político agora desempregado.

Por que essa ideia (legado de Mandetta) é simplista? Por que o resultado será perto do inútil, exceto para o Ibope que receberá R$ 10 milhões para aplicar os testes?

Há 3 aspectos iniciais a serem considerados:

  • privacidade – uma empresa privada (Ibope) terá acesso ao resultado de 100 mil testes de covid-19, além das entrevistas com as pessoas que submeterem a essa testagem;
  • a coisa errada no lugar errado – empresas de pesquisas até podem ter seus funcionários treinados para furar o dedo das pessoas, coletar duas gotas de sangue e depois colocar no medidor com o reagente para ver se o teste dá positivo ou negativo para coronavírus.
    Mas será que é apropriado empresas de pesquisa sejam contratadas para fazer isso? Será que não seria mais correto montar convênios com empresas de saúde, com enfermeiros/as que já são treinados para esse serviço?
  • os testes (in)apropriados – a Coreia do Sul testou muita gente e isso virou uma espécie de “Santo Graal” na prevenção da covid-19. OK. Mas quais testes devem ser usados? Quantas pessoas foram de fato testadas? No caso da Coreia, o estudo está detalhado aqui, inclusive a lista de reagentes usados (com indicação de origem e do fabricante) para verificar se as pessoas estavam ou não contaminadas.
    Mas e no Brasil, como será esse processo?
    Pois bem, quem produz a maioria (talvez todos) os kits de testes em massa já usados no Brasil são fabricantes chineses.
    Propagar preconceito ou xenofobia é algo que deve ser abjurado por todos. Mas o fato é que os chineses têm péssima reputação na produção desses kits de testes para covid-19.
    Espanha comprou 640 mil testes da China e teve de devolver o material: só 30% dos kits funcionavam direito.
    República Tcheca comprou 300 mil testes da China e só 20% tiveram desempenho aceitável quando aplicados.
    Reino Unido adquiriu 2 milhões de testes da China e também teve de descartar o material, por serem kits não confiáveis.
    Com o material chinês sendo contestado, começou uma corrida entre várias empresas para tentar criar 1 teste rápido e eficaz para detectar o coronavírus.
    No Brasil, importadores entraram em guerra para desovar por aqui os testes chineses que têm sido rejeitados em países desenvolvidos.

Depois desses 3 aspectos preliminares apontados acima, é importante complementar esse debate respondendo a esta pergunta: por que muitos testes rápidos disponíveis (sobretudo os da China) para covid-19 têm problemas?

Pelo seguinte:

1) só depois de 7 dias – os testes rápidos só detectam a doença se a pessoa está infectada há, pelo menos, mais de 7 dias. Ou seja, centenas de milhares de infectados que fizerem o teste rápido vão ter resultado negativo –mas poderão estar infectados e continuarão sem saber.

2) imprecisão – a acurácia desse teste chinês que o Ministério da Saúde comprou é de 78% (isso está em texto publicado pelo Poder360, inclusive com uma descrição detalhada). Ou seja, mesmo que a pessoa esteja com o coronavírus há mais de 7 dias, o teste só terá resultado positivo (com sorte, pois isso varia) em 78% dos casos.

Para complicar, o Ministério da Saúde acaba de lançar 1 “chamamento” para empresas venderem mais 12 milhões de kits de testes rápidos. A única exigência: que sejam homologados pela Anvisa. Essa homologação é apenas 1 carimbo. Por causa da pandemia de covid-19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária está dispensada de fazer investigação científica prévia sobre a acurácia desses testes. Terá de acreditar nos papéis que os fabricantes apresentarem de supostos estudos conduzidos em outros países.

O que poderia ser feito, então?

Primeiro, abandonar a ideia de que com testes rápidos aplicados por uma empresa de fora do setor de saúde será possível saber o que se passa no Brasil inteiro.

No caso da testagem da população em geral (ainda que seja com os testes chineses, que podem ter até 70% de imprecisão nos resultados), obviamente que isso seria desejável. Mas essa estratégia só seria aceitável se houvesse 150 milhões ou 200 milhões de kits disponíveis no Brasil –e muito dinheiro do Orçamento sobrando. Mas não haverá esse volume de testes. E o dinheiro público deve ser gasto de maneira eficiente.

Usar testes rápidos para qualquer pessoa, de maneira aleatória, neste momento é 1 crime contra a população, pois o efeito prático disso é nulo. Joga-se dinheiro pela janela sem ter nenhum resultado aproveitável para a saúde pública nem muito menos para efeitos estatísticos.

Esses testes rápidos (que agora já foram comprados pelo governo federal e por vários governos estaduais) podem ser usados em pessoas mais expostas à contaminação. São milhões de brasileiros. Por exemplo, funcionários do setor de saúde, de segurança, de supermercados, de transportes e de entrega em domicílio. Enfermeiros, caixas de supermercado, motoristas de ônibus e motoqueiros: heróis que mantêm o país funcionando e levantam da cama diariamente sem saber se já foram ou não atingidos pelo coronavírus.

Essas pessoas poderiam ser testadas a cada 7 dias com os testes rápidos (inclusive os vindos da China). Isso seria 1 grande serviço e uma demonstração de consideração e reconhecimento do Estado brasileiro para com os trabalhadores que não tiveram a opção de ficar em casa e longe da covid-19.

Aplicar o teste em 100 mil pessoas no Brasil, como se fosse uma pesquisa, é perto do inútil. Milhares dessas pessoas podem estar infectadas há menos de 7 dias. Nesses casos, o teste não vai detectar absolutamente nada. E mesmo nas infectadas, a taxa de acurácia do resultado é de apenas 78% –no teste adquirido pelo Ministério da Saúde.

Em Brasília, o governador local, Ibaneis Rocha (MDB), comprou testes chineses. As pessoas fizeram fila dentro de seus carros no Parque da Cidade neste 21 de abril de 2020 para terem seus dedos furados e o sangue testado em menos de 15 minutos. Tudo “de graça”. Para que serve isso? Para alguns habitantes ricos da capital federal saírem dali, dentro de seus automóveis, com a falsa impressão de que estão sem a doença. E para que a administração do Distrito Federal passe a falsa impressão de que se preocupa com os cidadãos.

Vale registro o alto preço da experiência de Brasília. Ibaneis Rocha adquiriu 300 mil testes rápidos da China por R$ 65 milhões. Custo unitário: R$ 216,67. Produtos chineses equivalentes custam R$ 150 até quando vendidos em pequenos lotes.

Atualização: o governo de Brasília informou que foram realizados 3.196 exames e 46 tiveram resultado positivo na 3ª feira (21.abr.2020). Nenhum (isso mesmo: nenhum!) cidadão testado foi diagnosticado como já imunizado para a covid-19. Obviamente, a testagem brasiliense não serve para o que buscam todos os governos: identificar quem está doente, quem não está e quem já está imunizado.

Tudo considerado e de volta ao caso da pesquisa/testagem com 100 mil pessoas, a ser conduzida pelo Ibope, as evidências indicam que o valor estatístico da informação resultante será mínimo. O que vai se ganhar com esse tipo de apuração? Muito pouco. Possivelmente, nada. De novo, exceto o Ibope, cujo contrato fala numa remuneração de R$ 10 milhões.

Seria muito melhor e mais útil testar a cada 7 dias os milhões de trabalhadores que atuam nos serviços essenciais. Mas aí o impacto desejado por alguns políticos não seria o mesmo.


*Fernando Rodrigues é o criador do Poder360. Repórter, cobriu todas as eleições presidenciais diretas pós-democratização.


Postado por Painel Opinativo

Teorias da conspiração ligam Bill Gates ao Coronavírus

17.04.2020 às 14:33

O cofundador e ex-CEO da Microsoft, Bill Gates, é o mais novo centro de teorias da conspiração sem embasamento científico a respeito do novo coronavírus. Segundo um relatório da empresa de análise Zignal Labs, o executivo virou alvo nas redes sociais de grupos como os antivacina e de extrema-direita, sendo listado até mesmo como um possível responsável pela pandemia do novo coronavírus.

De acordo com o jornal The New York Times, mais de 16 mil postagens no Facebook comentadas e linkadas mais de 900 mil vezes foram identificadas neste ano estabelecendo uma ligação entre Gates e a covid-19. Além disso, os dez vídeos mais populares no YouTube relacionando o executivo com a doença já acumulam mais de cinco milhões de visualizações.

Uma das evidências utilizadas na teoria é um discurso feito por Gates em 2015 sobre a possibilidade de a humanidade encarar uma pandemia global no futuro de forma despreparada. Segundo os conspiracionistas, isso prova que ele tinha conhecimento a respeito do assunto e poderia utilizá-lo para "controlar o sistema global de saúde". Em outras postagens, ele é diretamente responsabilizado por criar o vírus para lucrar a partir do desenvolvimento posterior de uma vacina.

Papel de luta

Na verdade, Gates faz o caminho oposto das conspirações. Junto com a esposa, Melinda, ele mantém a entidade sem fins lucrativos Bill & Melinda Gates Foundation desde 2000. A instituição realiza investimentos e financia pesquisas ao redor do mundo para buscar fontes de energia alternativa e ajudar populações com problemas de saúde pública, incluindo projetos para combater a falta de saneamento básico e também campanhas de vacinas para doenças como a poliomielite.

A fundação investiu também em um teste caseiro rápido para a detecção do novo coronavírus e, recentemente, Gates criticou o governo dos Estados Unidos por suspender o apoio financeiro à Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele atualmente tem dedicado a maior parte do tempo à fundação, já que até deixou em março deste ano o cargo de membro do conselho da Microsoft.

O executivo não comentou o assunto ao jornal. O YouTube chegou a remover conteúdos igualmente conspiratórios que ligavam o coronavírus ao 5G, mas até o momento não tomou medidas similares em relação aos vídeos envolvendo Gates. O Facebook também possui medidas anti desinformação na plataforma, removendo algumas publicações e avisando usuários a respeito de notícias falsas.


Texto extraído daqui 

Postado por Painel Opinativo

Violência doméstica na Quarentena

08.04.2020 às 18:05

*João Augusto Facchinetti Santos

É diretor do Instituto Erickson de Alagoas; Professor em cursos de Formação em Psicoterapia Breve e Hipnose Ericksoniana (Maceió e Aracaju); Psicoterapeuta Ericksoniano; Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Psicologia pelo Centro Universitário Cesmac; é Mestre em Psicoterapia Ericksoniana – México.  É membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Alagoana de Psiquiatria.


Não é de hoje que o Brasil enfrenta uma “epidemia” de violência doméstica, relatórios da Human Rights Watch (HRW) e da ONU (Organização das Nações Unidas) são importantes documentos que alertam sobre o assunto. Com a orientação para que as pessoas fiquem nas suas residências, por causa da pandemia do coronavírus, o número de ocorrências entre as pessoas em casa, como briga entre marido e mulher, briga entre irmãos, tem aumentado muito. O médico e psicólogo, Dr. João Facchinetti tem discutido sobre os aspectos e complexidades da violência doméstica e vem alertado também sobre os efeitos sociais da quarentena, com agravamento da violência doméstica.

A Policia Militar em diferentes estados tem divulgados dados que apontam um índice crescente de violência domestica neste período de isolamento. Os casos de violência doméstica no Rio de Janeiro, por exemplo, aumentou 50% durante o período de confinamento para evitar a disseminação do novo coronavírus. O dado foi divulgado no último dia 23 de março.  As autoridades se surpreenderam com o aumento do movimento no Plantão Judiciário. A maioria das pessoas que busca ajuda da Justiça é de mulheres vítimas de violência.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, registrou que, no Brasil, o aumento foi de quase 9% nas ligações para o Disque 180, serviço de denúncia e de apoio às vítimas. Na China, o número de casos triplicou e, na França, o governo decidiu pagar quartos para as vítimas, além de abrir centros de aconselhamento. 

 O acirramento das tensões dentro de casa pode resultar em feminicídios, que é a morte de mulheres. As meninas também estão dentro de um cenário muito arriscado de violência sexual, assim como as mulheres idosas, que são agredidas pelos filhos adultos. A violência contra as mulheres constitui, atualmente, uma das principais preocupações do Estado brasileiro, pois o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial dos países com mais crimes praticados contra as mulheres.

O médico e psicólogo João Facchinetti, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Alagoana de Psiquiatria, tem discutido o assunto sobre os aspectos e complexidades da violência doméstica com objetivo de informar a população sobre os traumas psicológicos sofridos no seio familiar. Tendo em vista que, a violência doméstica é todo tipo de violência  praticado entre os membros que habitam um ambiente familiar em comum, que pode acontecer entre pessoas com laços de sangue (como pais e filhos), ou unidas de forma civil (como marido e esposa ou genro e sogra).

João Facchinetti chama atenção também para o fato de que a violência doméstica não se trata apenas da violência física, existe outros tipos, que pode ser psicológica, sexual, patrimonial e moral. Também é considerada violência doméstica o abuso sexual de uma criança e maus tratos em relação a idosos. E mesmo quando a violência doméstica não é dirigida diretamente à criança, esta pode ficar com traumas psicológicos.



Postado por Painel Opinativo

Outro Patamar - Desemprego no Brasil pós-coronavírus

02.04.2020 às 06:00



*Ernani Reis, da Capital Research 

Diariamente, acompanhamos a cobertura sobre o coronavírus nos principais meios de comunicação e a importância de achatar a curva de contágio nas primeiras semanas da epidemia. Medidas e estímulos do governo estão sendo anunciados semanalmente para auxiliar no combate ao vírus e reduzir o efeito prolongado sobre a economia, sobretudo o desemprego. E aos poucos, as incertezas vão abrindo espaço para uma nova realidade de milhares de brasileiros.

Começando por esta semana, o Banco Central divulgou a sua primeira leitura negativa para o PIB de 2020, projetando uma retração de 0,48% para o ano, o que, apesar de ainda não ser considerada uma recessão "técnica", já é vista como indicativo de algo inevitável neste momento. De qualquer forma, mesmo sendo uma notícia negativa, a nova previsão retira da equação a expectativa de crescimento neste ano e o mercado passa a se orientar por uma nova realidade. O ponto de estresse agora passa a ser o aumento do desemprego, que não só atinge a milhões de pessoas, como torna o processo de recuperação econômica ainda mais lento.

Para piorar o quadro, na manhã desta terça-feira (31), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a taxa de desemprego entre os meses de dezembro e fevereiro, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Os números apontaram para um aumento de 0,4 ponto percentual em relação ao trimestre anterior (de novembro a janeiro), chegando a 11,6%. Esse valor representa o aumento de 479 mil desempregados com a inclusão de fevereiro e exclusão de novembro da conta, porém, ainda significa 711 mil desempregados a menos no comparativo com o mesmo período do ano passado.

Vale ressaltar, porém, que os dados ainda não contemplam o impacto do coronavírus na economia, o que deve mudar exponencialmente nos próximos 70 dias. No entanto, o número indicado pelo IBGE serve para elevar o patamar de desempregados do qual nós estamos partindo para enfrentar essa crise.

Para tentar remediar isso, o governo vem tomando medidas na direção da preservação dos postos de trabalho. Entre a suspensão do depósito do INSS e do pagamento de alguns impostos, a medida mais polêmica foi o anúncio da liberação para a redução de até 70% do salário dos empregados por parte das empresas.

No entanto, tal medida deve beneficiar mais diretamente o médio empresário, já que as grandes empresas ainda devem optar por outros recursos como a antecipação de férias adquiridas, determinação de férias coletivas e/ou uso do banco de horas neste primeiro momento, enquanto para o pequeno empresário, que é mais diretamente afetado pelo isolamento social, a medida deve ser insuficiente para impedir que ocorra um processo de demissões mais agudo. Isso sem contar o grande número de trabalhadores autônomos e informais, que não entram na conta dos desempregados, mas também devem aumentar a fila dos dependentes do governo nos próximos meses.

O sinal de alerta foi ligado para o Brasil ainda na semana passada, quando o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou o aumento do pedido de seguro-desemprego em 3,283 milhões de pessoas, ante a projeção de 1,5 milhão, que já era considerada acima das médias anteriores do período.

Entre os setores mais atingidos, comércio, serviços, hotelaria, companhias aéreas, bares e restaurantes estão na linha de frente, pois dependem diretamente da circulação de pessoas pelas ruas que se encontram vazias devido ao isolamento social. Já o setor de combustível deverá ter os resultados prejudicados tanto por conta da queda de demanda quanto pela queda do preço de petróleo, que ronda US$20 por barril no tipo WTI.

Como antídoto a tudo isso, o modelo adotado pela China de reforçar o isolamento nos primeiros 60 dias em busca de uma retomada mais rápida após o período é a única referência positiva que temos até o momento. E os índices PMI industrial (52 em março contra 35,7 em fevereiro) e PMI de serviços (52,3 contra 29,6) divulgados na segunda-feira (30) confirmam isso.

Porém, replicar o modelo adotado pelos chineses em um país em desenvolvimento como o Brasil, que ainda precisa atravessar o pico da epidemia nas próximas semanas e não possui a mesma estrutura financeira do gigante asiático e ainda atravessa um momento de instabilidade política é um desafio e tanto. Dessa forma, se o isolamento social se prolongar além de abril, o número de desempregados no Brasil deve escalonar rapidamente e estender ainda mais a curva da tão desejada retomada econômica.

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Trabalho remoto exige organização e disciplina

Empresas e trabalhadores devem encarar o home office como medida essencial para barrar a transmissão da doença e manter empregos e negócios

26.03.2020 às 19:40


O mercado de trabalho brasileiro sente profundamente as mudanças impostas pela chegada do coronavírus ao País. As companhias se preparam para dias incertos com medidas que vão desde a higienização diária do ambiente de trabalho até a implementação de home office para toda a equipe ou, ao menos, parte dela.

As medidas são importantes para evitar a contaminação em massa dos funcionários, principalmente os que estão nos grupos de risco. "O trabalho de casa é a melhor opção neste momento", afirma Ricardo Alves, consultor de carreira do Cedaspy, rede de escolas de capacitação para o mercado de trabalho.

O especialista comenta que as mudanças não podem afetar totalmente o cotidiano dos trabalhadores, que precisam se adaptar para manter o ritmo de trabalho o mais próximo do normal. "Profissionais das áreas administrativa, financeira, marketing e conteúdo conseguem desenvolver suas atividades de qualquer lugar", diz.

De fato, o trabalho remoto é realidade em muitas empresas. O formato é incentivado como benefício, oferece flexibilidade de horário, qualidade de vida e melhora os resultados positivos para a instituição. "Em casos de pandemia mundial, como a que passamos agora, o home office mantem os negócios em movimento e garante o emprego do colaborador", completa Alves.

Como se organizar

O home office exige comprometimento e organização. É importante manter as atividades bem próximas do cotidiano dentro da empresa. A carga horária deve ser mantida, bem como as ações e entregas diárias.

Antes de iniciar o trabalho remoto, é preciso avaliar, junto com a empresa, a infraestrutura necessária para o desempenho da função fora do ambiente corporativo. Se for preciso, leve para casa computador, internet móvel e objetos utilizados no dia a dia.

"Neste formato, é importante separar a vida pessoal da profissional. Escolha o ambiente mais tranquilo da casa para trabalhar, de preferência um local isolado e sem interferência externa. Isso é essencial para atender ou fazer ligações de voz ou vídeo, por exemplo", finaliza o consultor. 

Dicas para trabalhar de casa

- Escolha um lugar calmo e arejado para trabalhar;

- Se não puder se isolar, avise os demais moradores previamente sobre as mudanças no cotidiano da casa;

- Esteja completamente disponível no mesmo horário em que presta serviço na empresa;

- Certifique-se que a internet da sua casa tem capacidade para o trabalho;

- Compare seus equipamentos eletrônicos com os que você usa no trabalho. Se for o caso, leve para casa computador, modem e o que mais precisar;

- Não trabalhe de pijama! Vista-se adequadamente – isso vai ajudar a entrar no clima do trabalho.

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Por que é tão difícil inovar?

09.03.2020 às 11:59

*Marília Cardoso

Inovação já está virando assunto de boteco. As rápidas e impressionantes transformações sociais e dos negócios estão preocupando tanta gente que o tema já não é mais algo exclusivo das reuniões corporativas ou bancos acadêmicos. Duas pessoas reunidas onde quer que seja, já são suficientes para que o papo - e todas as dificuldades e mitos que o cercam - entre em pauta.

Mais que uma modinha passageira, a inovação se tornou um conceito impossível de passar despercebido. Por mais que alguns ainda teimem em manterem-se deitados eternamente em berços esplêndidos, mais dia menos dia, a água vai bater no nariz, obrigando a gente a fazer alguma coisa para não morrer afogado.  

Inevitavelmente, seremos obrigados a rasgar nossas cartilhas, aquelas recheadas de certezas e verdades absolutas que já não servem mais para quase nada. E fazer isso dói. Dói muito! É como se nos perdêssemos dentro de nossa própria identidade, questionando o até então inquestionável. Entramos num ciclo de desaprender para reaprender, sendo obrigados a jogar velhas crenças na lata do lixo.

Por mais que o homem inove desde sempre - caso contrário não teríamos chegado até aqui - o século XX trouxe tantas facilidades que acabamos criando falsas zonas de conforto, acreditando que tudo o que precisamos é de um diploma na parede, um bom emprego, contas pagas e um corpo sarado. Não! A vida não se resume a pagar boletos e tentar emagrecer. É preciso ir além.

Para isso, precisamos nos render ao que o psicólogo Hermann Ebbinghaus definiu em 1885 como curva de aprendizagem. Segundo ele, há uma certa negação no início, uma tendência a acharmos que já sabemos o suficiente. Até que chega um momento inevitável, como já está acontecendo com diversas empresas e segmentos profissionais. A partir desse momento, inicia-se a fase de preparação, onde o indivíduo se prepara para aprender coisas novas.

Logo vem a fase chamada de adoção, que é seguida da curva de aprendizado, que muito se assemelha a um vale sombrio e perigoso, já que desperta a sensação de que tudo o que você sabia então, não serve para mais nada. É a hora do desespero, da decepção, da derrota. É só quando o aprendizado começa a fazer sentido, por meio do chamado aprendizado experiencial, é que a retomada acontece, seguindo uma curva ascendente. Aí, o indivíduo é capaz de encontrar benefícios reais e torna-se melhor do que era antes.

Não por acaso, essa curva é muito semelhante à do luto, definida pela psicóloga Elisabeth Kubler-Ross. No começo, há sempre a negação, a raiva e a barganha. Até que, convencido que a morte é imutável, caímos no vale da depressão. Com o tempo e força de vontade, saímos do limbo para entrarmos na fase de consciência, aceitação e atitude.

Talvez, essa comparação seja a melhor explicação para o fato de inovar ser algo tão difícil e desafiador para a grande maioria dos reles mortais. O processo de aceitar que o que se sabe não é mais suficiente dói tanto quanto a perda de uma pessoa querida. Só que no caso, o que perdemos é um pedaço de nós mesmos. Uma parte que lapidamos com a relevante ajuda dos nossos pais, professores e amigos.

Em suma, quem realmente quiser inovar em sua carreira, sua empresa ou sua vida, precisará encarar de frente a dura realidade de que nada mais será como antes. Será necessário encarar a descida da “desaprendizagem” para que a subida seja, de fato, transformadora. Dói, mas compensa. É melhor chegar ao fundo do poço e subir do que passar a vida inteira fingindo que não tem nada acontecendo. Se joga! Erre rápido para aprender mais rápido ainda.


*Sócia-fundadora da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação.

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