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14/08/2021 às 13h40

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Braskem, crime sem castigo


Pela primeira vez assisti ao documentário “A Braskem passou por aqui. A catástrofe de Maceió”. Recomendo a todos que assistam, mas previno que é chocante, impactante e com muita emoção e revolta do começo ao fim. O filme é o retrato vivo, bem contado e traz a verdadeira história da destruição de quatro bairros.

O autor da obra é o cineasta e ativista Carlos Pronzato, premiado internacionalmente por várias obras e teve o apoio do Sindicato dos Servidores Públicos Federais da Educação Básica e Profissional no Estado de Alagoas, entidade representativa dos docentes e técnicos administrativos do Instituto Federal de Alagoas.

A tragédia foi observada após um tremor de terra ocorrido em fevereiro de 2018 no bairro do Pinheiro, onde surgiram as primeiras rachaduras. Contudo, após um ano, outros bairros apresentaram o mesmo problema, como o Mutange, Bebedouro e Bom Parto. Ao estudar as razões do problema, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) identificou que a extração de sal-gema, feita durante quatro décadas pela Braskem, sem a fiscalização das autoridades públicas, foi a causa do desastre

Vítimas esquecidas, terra ferida

O desastre dos bairros de Maceió, já conhecido internacionalmente, maior que as barragens de Brumadinho e Mariana, em desalojamento de famílias, danos ambientais e prejuízos a pequenos estabelecimentos, tem recebido quase nenhuma atenção dos poderes públicos, apáticos e inertes ao processo de indenizações das vítimas e negociações com a empresa responsável pelo bárbaro e hediondo crime.

Política e demagogia

Nunca os escombros dos bairros afetados foram tão visitados como na última eleição. Olhando para a imensidão de casas destruídas, usando de cenário para discursos demagógicos, cada candidato gravou para seu guia eleitoral, bradando fingida emoção, articulada por seus marqueteiros, na busca de angariar votos no desespero e na dor de milhares de pessoas. Passadas as eleições calaram-se as vozes, sumiram os palanques e carros de som, como haveria de ser, tratando-se de políticos.

Quando os poderes de se calam

As queixas são unânimes entre as vítimas da tragédia, espalhadas pelos quatro cantos da cidade, alguns em casas de parentes, outros em imóveis alugados, comerciantes que perderam seus negócios, pessoas que deixaram suas vidas para trás, sonhos interrompidos cruelmente. Estão abandonados pelos políticos, pelo Ministério Público e Poder Judiciário. E fazem a pergunta: que poder é esse da maldita Braskem, que roubou vidas e patrimônios e nada lhe acontece?

Uma imprensa que cala

No documentário sobre o repugnante crime da Braskem o jornalista Joaldo Cavalcante, autor do livro “Salgema, do erro à Tragédia”, faz várias intervenções, com as quais nos conduz à barbaridade e irresponsabilidade, com mais clareza. Ressalte-se , Joaldo é um dos poucos da imprensa alagoana, com coragem e o espírito voltado para o interesse público, a abordar com profundidade o tema e sair em defesa dos atingidos. Os veículos convencionais (jornais, televisões e rádios), em sua maioria se calam, junto com aqueles das redes sociais. As únicas “matérias” publicadas são as propagandas da Braskem. Aí dá pra imaginar os “negócios”.

No fim, a destruição

Toda essa destruição ocasionada pela ganância da Braskem está registrada sob a visão do cineasta. Ao longo da construção do documentário, Pronzato conta o quanto se impressionou ao ver inúmeros imóveis desocupados.

 “É impressionante. Conseguimos driblar os tapumes para entrar nos imóveis. Não conseguimos entrar nas minas. É impressionante. E a noite piora, porque não conseguimos fazer entrevistas.

Durante os percursos encontramos uma cidade perdida. Apenas da compensação da Braskem, os moradores perdem sua história. Teve gente que nasceu no local e perdeu tudo, é muito triste. Isso por causa da negligência de uma empresa, pois tinham tudo para prever a tragédia. Nunca tinha visto algo do tipo”, afirmou o cineasta ao se deparar com uma “cidade perdida, um cenário de guerra”.

Fosse em um país onde a lei seja cumprida e os direitos da sociedade respeitados, os responsáveis há muito estariam presos e pagas todas as indenizações, inclusive os danos causados ao patrimônio público e ao meio ambiente. (Fonte de pesquisa Sintietfal).

Pílulas do Pedro

Enquanto os moradores expulsos dos bairros afetados choram suas dores, políticos frequentam a Braskem, para tomar cafezinho e se confraternizar.

O que está acontecendo nos poderes que ninguém foi punido pelo hediondo crime da Braskem? Ai tem coisa.


Pedro Oliveira por Pedro Oliveira

Jornalista e escritor. Articulista político dos jornais " Extra" e " Tribuna do Sertão". Pós graduado em Ciências Políticas pela UnB. É presidente do Instituto Cidadão,  membro da União Brasileira de Escritores e da Academia Palmeirense de Letras.

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