Por Eliane Aquino
Foi em 2009, em Marechal Deodoro, que o ex-capitão do Exército Brasileiro, escritor Carlito Lima, então secretário de Cultura do Município, organizou e realizou a primeira Feira Literária de Alagoas. Hoje, aos 79 anos, ele continua a apostar nessa iniciativa como forma de incentivar e movimentar a cultura local, trouxe o evento para os bairros de Maceió e já prepara a segunda edição da Feira Literária do Pontal da Barra.
Com calendário definido para 2019, Carlito vai levar seu evento a Fernão Velho, Graciliano Ramos, Ipioca, Benedito Bentes, Jacintinho, na capital, e para Barra de São Miguel, Maragogi e Paripueira, no interior do estado. Entusiasmado com o projeto, ele lembra que a 1ª Flimar – Feira Literária de Marechal Deodoro – superou a expectativa de sucesso. “Surpreendeu a todos”, orgulha-se Carlito, que junto com a Secretaria Municipal de Educação realizou outras feiras na cidade.
Segundo Carlito, em 2016, após a 7ª Flimar, a Secretaria de Educação de Marechal realizou uma pesquisa entre os alunos do 8º e 9º e constatou-se que eles leram uma média de cinco livros durante o ano. Na primeira feira, sete anos antes, Carlito teve acesso a um trabalho da Unesco sobre leitura no Mundo, onde em países desenvolvidos como Rússia, França, China, Inglaterra, entre outros, cada habitante lia em torno de 12 livros por ano. Na Argentina, se lia na ocasião 4 livros/ano por habitante. No Brasil, a média era de 1,8 livros por pessoa.
A média de leitura dos estudantes de Marechal, após as feiras literárias em 2016, entusiasmou Carlito. “Isso mostra que o caminho à leitura está em feiras como essas envolvendo as escolas”, realçou o ex-secretário de Cultura de Marechal Deodoro, que deixou o cargo em 2017 após a mudança de prefeito no município. Foi a partir daí que ele decidiu levar o projeto para Maceió, buscou parceiros, e realizou a 1ª Feira Literária do Pontal da Barra (FLIPONTAL).
“O prefeito Rui Palmeira visitou o evento e me pediu para organizar a feira em outros bairros da periferia da cidade”, conta Carlito, que também recebeu a mesma solicitação de outros prefeitos municipais, e revela como é feito o projeto que já ganhou o Mundo como um case de sucesso no incentivo à leitura em Alagoas.
“O objetivo é mesmo incentivar as pessoas à leitura e o evento acontece em três núcleos”, diz, explicando que há palestras ou mesas de debate, amostra de cultura e arte, e a Festa Literária Infanto Juvenil para alunos das escolas da região, que Carlito considera o mais importante: “É gratificante ver as crianças participarem de poesia, música, oficinas, teatro, e outras invencionices das professoras, que são maravilhosas”.
Parceiros
Carlito diz que sem apoio do poder público, especificamente das prefeituras, é impossível realizar o evento. Interessado em estimular a cultura do livro no estado, ele não mede esforços para correr atrás de parcerias, e conta com apoio do Sebrae, BNB, Caixa Econômica Federal, Polícia Militar, Exército e outros.
Uma feira como essa custa em tese R$ 40 mil, informa Carlito, mas avisa que depende muito do tamanho que se queira dar ao evento. “Para colocar o cachê de um cantor famoso, por exemplo, só esse valor fica maior do que toda a festa”, acrescenta, lembrando que a curadoria e o pessoal da Comissão Organizadora e professoras são voluntários.
População é receptiva e evento faz inclusão cultural
O retorno da população do local onde se realiza o evento é satisfatório, pontua Carlito. “Os pais de alunos vibram vendo o filho participando, na Feira Literária do Jacintinho (FLIJAÇA), por exemplo, em uma oficina de escultura de madeira, os pais participaram com os filhos, foi emocionante”, destaca, contando que os shows noturnos com os artistas da terra reúnem a comunidade numa grande confraternização. “Dá gosto ver”, salienta.
Os escritores locais também têm sua parte no projeto. “Nós damos espaços na programação das palestras e também existe uma programação de lançamento de livros em uma livraria instalada na área da festa”, diz Carlito. Mas escrever e lançar uma obra não é tão fácil como participar dos projetos literários de Carlito Lima. “O custo de uma edição é caro, um livro é vendido na livraria a um valor médio de R$ 40,00 e descontado 30% para as distribuidoras, 40% para as livrarias e do saldo ainda se tem que bancar a editora”, contabiliza. “É complicado”, sintetiza.
Se a internet ajuda? Segundo Carlito, ela veio para competir com o mercado de livro que, em sua opinião não anda nada bem. “No Brasil, o mercado de livros não vai bem, duas das maiores livrarias estão fechando, a Saraiva e a Cultura”, lamenta ele. Se o novo governo brasileiro vai investir na cultura? Carlito diz que prefere aguardar, “não prejulgar”, e se coloca como defensor crítico da Lei Rouanet.
“Na prática, ela (Rouanet) é injusta. Em 2017, a captação de recursos para projetos de cultura canalizou 81% dos valores para o Rio de Janeiro e São Paulo, o restante, 19%, para o resto do Brasil. Tem que haver uma modificação na lei para que uma percentagem seja direcionada à cultura popular, principalmente a nordestina”, defende, comentando que há um projeto de lei nesse sentido mofando no Congresso Nacional há dez anos.
“Não é aprovada porque há um lobby, aliás, uma máfia”, para direcionar esses recursos para o Rio e São Paulo, e os nossos congressistas não estão nem aí para isso”, queixa-se, dizendo que vem denunciando “essa falta de federalismo na cultura”há muito tempo. “Falta uma divisão equitativa para os estados”, aponta o escritor. E afirma: “Aos 79 anos estou à disposição para orientar qualquer comunidade a realizar festas literárias e eventos desse porte, porque acredito que a redenção do pais está na educação, na leitura”.
As festas ou feiras literárias no Brasil nasceram em 2003 em Paraty, no Rio de Janeiro. Elas se alastraram e hoje são mais de 700 eventos desse porte em várias cidades brasileiras.
Quem é:
Carlito Lima - Ex-capitão do Exército Brasileiro, engenheiro, ambientalista, descobriu seu talento de escritor só aos 61 anos quando em 2001, por insistência de amigos, foi editado seu primeiro livro de memória, “CONFISSÕES DE UM CAPITÃO”. Destemido depoimento de um oficial do Exército com enfoque especial sobre o Golpe Militar de 1964. Carlito Lima servia na 2ª Cia. de Guardas no Recife durante a ditadura, teve convivência com presos políticos como Arraes, Julião, Paulo Freire, Pelópidas Silveira, Gregório Bezerra entre outros. A revista paulista CULT, colocou CONFISSÕES DE UM CAPITÃO, entre os 14 melhores livros na bibliografia sobre o golpe militar de 1964. O livro foi sucesso em todo o Brasil após entrevista de Carlito Lima no programa do Jô Soares. Descoberto como excelente contador de história, escreve uma coluna dominical, História do Velho Capita, na Gazeta de Alagoas, histórias bem humoradas baseadas em fatos reais. Edita seu blog diariamente: http://blogdocarlitolima.blogspot.com Vive na cidade de Maceió – Estado de Alagoas – Brasil.
Fonte: Painel Alagoas