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02/12/2019 às 08h54

Cultura

Fliara propõe busca por identidade na Cultura arapiraquense

Mesa-redonda “Literatura e Música: linguagens e tons afins”, com Paulo Franco, Pedro Augusto e Elaine Kundera - Samuel Alves/Ascom

“É a primeira vez que venho para esse evento. Ano passado, não pude vir. Fico até emocionada vendo a praça sendo tomada pela literatura. É algo incrível isso estar acontecendo na nossa cidade”, diz a estudante Laila Casado, de 17 anos.

Fã de escritores como Victor Hugo e Virginia Woolf, ela vê a necessidade de espaços assim serem abertos também para autores locais, que é o que aconteceu nesta 2ª edição a Feira Literária de Arapiraca (Fliara), na Praça Luís Pereira Lima, no Centro.

Organizado pelas secretarias municipais de Cultura, Lazer e Juventude (SMCLJ) e de Educação e Esporte, o evento ocorreu entre quarta-feira (27) e sábado (30) na Praça Luís Pereira Lima, no Centro, com palestras, oficinas, saraus, mesas-redondas, música e muita interação entre os que escrevem e os que leem.

Para o sociólogo Fernando Magalhães, manifestações como essa, que se deu em praça pública, são muito bem-vindas.

“Acaba sendo um espaço de busca de uma identidade. Assim, os arapiraquenses podem conhecer o que já existe em termos de arte aqui na nossa terra”, pontua ele, que está fazendo seu doutorado justamente sobre esse aspecto identitário.

Foi esse o maior mérito da curadora da Fliara, a poeta e professora Marta Eugênia, também superintendente de Cultura da SMCLJ – este ano, o tema foi “Ciranda das Linguagens”.

Segundo ela, todo livro merece ir a uma feira literária. “Porque para ser lida, a obra carrega em sua trajetória uma vontade coletiva e prática. O escritor é o canal primário dando corpo a tudo, com as palavras ou símbolos, desenhos, mapas, às vezes fotografias. Ele faz a ponte entre espírito e corpo”, pontua Marta.

Para a secretária da SMCLJ, Rosângela Carvalho, a função básica de uma feira como essa, além dos debates levantados, é a mostra e a venda de livros, ao passo que o conhecimento de várias maneiras pode circular, chegar ao leitor.

“Há então uma conexão. Dessa forma, entramos em roda, entramos nessa Ciranda das Linguagens, onde as letras encontram outras formas artísticas como o cinema, o teatro, as artes plásticas e a música. Essa circulação de gente pela cidade nos quatro dias de evento mostra a força que a palavra tem. Isso tudo aconteceu graças ao empenho do prefeito Rogério Teófilo, que é também um educador e sabe da importância dos livros na formação dos cidadãos, do ser humano”, coloca a secretária.

A aproximação da Fliara a temas universais e também aos que denotam extrema urgência – como a questão afro e das mulheres – mostra a necessidade de um evento assim perdurar para além das gestões municipais.

É o que acredita o professor de matemática Weverton Vieira. “O que vimos nas mesas-redondas todos esses dias diz muito sobre onde estamos situados. Os autores da terra realmente têm o que dizer, porque imprimem a nossa voz, a nossa identidade nisso. Vim no ano passado e adorei. Esse ano, essa característica de valorizar o que é nosso ficou ainda mais presente, o que é muito positivo”, diz ele.

A pernambucana Cida Pedrosa, que compôs a mesa-redonda “A Criação Literária entre a Prosa e a Poesia: veredas” no último dia da Feira, ao lado do ator, poeta e professor Nilton Resende, também crê nisso.

“A gente tem uma tendência de dar mais valor ao que é de fora, a escritores nacionais. Ora, não somos todos brasileiros? Somos um país continental. Além de escritores municipais, como referenciou Drummond, somos também escritores nacionais e do mundo. Temos que nos enxergar assim antes de tudo. A palavra não tem fronteiras”, coloca.

Por não ter fronteiras, o engajamento se fez presente nas rodas de conversa. Com a trupe do Projeto Artístico Insano Orgasmático Literário (Paiol) não foi diferente.

“Temos que usar da palavra e da possibilidade de interação com ela e o público para o engajamento. A gente faz isso pelo outro, não por nós mesmos. Esse é o real sentido de estar aqui hoje: nos importarmos uns com os outros, sempre”, ressalta o poeta Alexsandro Alves, um dos membros do Paiol, que é de Teotônio Vilela e fez parte da mesa “Literatura e Engajamento: linguagem e cultura alagoana” juntamente a Felipe Verçosa, Marlon Silva e Claudemir Calixto.

Isso ocorre de igual forma com o papel do livreiro, do comerciante de livros. Ele tem talvez a mesma importância do escritor em si, porque dá acesso ao material impresso.

É o caso de José Rocha, professor e empresário no ramo, dono da Sua Feira de Livros. “Na primeira edição, estive na Fliara como espectador. Agora retorno com um negócio formatado vislumbrando a venda de obras, sejam clássicas ou mais contemporâneas. E a resposta tem sido muito boa por simplesmente estarmos fazendo parte disso”, afirma.

Outro que participou ativamente, ajudando a elevar a palavra e a literatura de alguma forma, foi o pequeno David Lucas Silva Pereira, de 14 anos, estudante do 8º ano da Escola de Ensino Fundamental Tibúrcio Valeriano da Silva.

“Gosto muito de ler, sobretudo, o que me passam na escola. Vou sempre à biblioteca e hoje sou integrante do Clube de Leitura Pequeno Príncipe, que é organizado lá na escola reunindo professores e alunos com leituras mensais”, conta ele, que estava arrumando os livros infantis na Fliarinha, setor da Fliara exclusivo para as crianças arapiraquenses.

Acompanhando de perto toda essa movimentação, em meio às exposições, o prefeito Rogério Teófilo enfatizou que a Fliara é uma das sementes que está começando a germinar no coração do povo.

“A liberdade se dá através da Educação e da Cultura. E a leitura tem grande ênfase nesse processo de aprendizagem. Arapiraca é vanguarda nisso, então precisávamos fortalecer essa área com a realização e a consolidação da Fliara. O futuro é um capítulo em branco que estamos escrevendo no agora”, ressalta o gestor.

Coroando essas folhas em branco, prestes a serem escritas pela tinta do tempo, a presença do público irá ecoar diante do que foi vivido intensamente durante Feira, a qual contou com o apoio cultural da Faculdade Pitágoras, Dismoto Arapiraca, Comedoria Express, Pitú, Mundo Leitura, Papelaria Central, Acala, Ufal, EdUneal, EdUfal, Imprensa Oficial Graciliano Ramos e Sesc Arapiraca.

“A oportunidade foi de fincar Arapiraca no mapa da literatura nacional, mais uma vez. Temos grandes autores publicando e se relacionando com outras vertentes das artes. Vida longa a este projeto!”, comemora a cronista, poeta e servidora pública Milene Lima, que compôs a mesa “Publicação do Livro: desafios no caminho”, com Henrique Nunes.

“Não só precisamos como merecemos coisas boas. E este aqui é um desses grandes momentos”, finaliza o mestre Paulo Lourenço, o Paulo do Bar, um dos maiores incentivadores culturais de Arapiraca, que esteve presente na Fliara todos os dias, no alto dos seus 87 anos de idade. Por mais momentos de ciranda como esse, então.


Fonte: Ascom Arapiraca

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