A cineasta alagoana Laís Santos Araújo foi selecionada para participar da Résidence do Festival de Cannes, um dos programas de formação e criação cinematográfica mais reconhecidos do mundo. A iniciativa reúne seis novos talentos de diferentes países para um período de imersão artística e desenvolvimento de projetos autorais em Paris, com apoio da Fundação do Festival de Cannes.
Com o lema “revelar as vozes do cinema de amanhã”, o programa já acolheu nomes consagrados como Lucrecia Martel (Argentina), Carla Simón (Espanha), Nadav Lapid (Israel) e Karim Aïnouz (Brasil), que hoje se destacam internacionalmente. Nesta 50ª edição, Laís representa o Brasil ao lado de artistas do Irã (Baran Sarmad), Ucrânia (Maksym Nakonechnyi), África do Sul (Dian Weys), Eslováquia (Alica Bednáriková) e Argentina (Federico Luis).
O projeto selecionado é o longa-metragem “Infantaria”, uma expansão do universo do curta homônimo, que terá suporte do festival, com consultorias, participação em eventos de cinema e tempo para focar no roteiro do filme que será gravado em Alagoas.
“É um projeto que possui verba de editais federais via Ancine. É inspirado no universo que foi criado no curta-metragem, mas a história vai para novos lugares”, falou.
O projeto da alagoana já havia se destacado em outros momentos. O curta-metragem Infantaria (2022), gravado na Barra de São Miguel e contemplado em edital lançado pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), foi premiado no Festival de Berlim, finalista do Grande Prêmio Brasileiro e exibido em mais de 70 festivais.
O projeto também foi selecionado para a Incubadora Paradiso e participou de laboratórios e mercados no Brasil e fora, incluindo o La Fabrique Cinéma, que aconteceu durante o Festival de Cannes deste ano.
“Com a possibilidade de focar exclusivamente no projeto, vou poder chegar a uma versão do roteiro que eu acredito mais, para iniciarmos o processo de gravação. Acredito que a construção narrativa leva um tempo para amadurecer, e por isso a residência é tão especial: há poucas oportunidades de passar tanto tempo como um foco específico na escrita, e menos ainda de fazer isso numa cidade que parece ser tão instigante como Paris”, destacou a diretora.
“Infantaria” é uma produção da Aguda Cinema, produtora alagoana dedicada à criação de filmes autorais e à formação de novos profissionais do audiovisual. O longa tem produção do também alagoano Pedro Krull. A Aguda Cinema assina ainda a co-produção de “Marina”, longa-metragem gravado em Alagoas entre novembro e fevereiro, co-dirigido por Laís Santos Araújo e Pethrus Tibúrcio.
“Marina foi a minha primeira experiência na co-direção de longa-metragem e acredito que o filme agitou muita coisa no setor local. Gerou mais experiência para quem já era da área, e incluiu várias pessoas que nunca tinham atuado no cinema e agora estamos na fase de edição. Estou super animada para o futuro, quando vamos compartilhar o filme”, ressaltou.
Processo seletivo
A diretora conta que a notícia chegou após um processo de seleção rigoroso. “Eu havia passado pelo processo de seleção — envio do roteiro traduzido, entrevista — e estava há alguns dias esperando essa notícia, ciente de que seria muito difícil passar, mas com expectativas. Então foi maravilhoso receber a notícia”.
Segundo Laís, o interesse em participar da residência vem de longa data. “Em 2018, foi a primeira vez que pensei em me inscrever na residência, mas não tinha um lastro de trabalho que tornasse realista a inscrição. Então esperei para me inscrever neste ano, 2025, e sentia que era um projeto maduro o suficiente para isso”, explica.
O processo de seleção é totalmente online, feito no site oficial do Festival de Cannes. “Você responde algumas perguntas sobre sua trajetória profissional e envia o material do filme — no meu caso, enviei uma versão traduzida do roteiro do longa-metragem. Entre os requisitos está o de ter algum filme de sua direção exibido em festivais considerados A. Neste caso, o curta Infantaria havia ido e sido premiado na Berlinale, o que tornou a inscrição possível”.
A residência, que vai durar quatro meses e meio, já começou em Paris e Laís compartilha o entusiasmo com essa nova etapa. “Eu cheguei em Paris na quarta-feira e já está sendo muito massa o que estou vivenciando, compartilhando a residência com diretores de vários lugares do mundo. Espero ter muito tempo para focar no projeto, aproveitar a vida cultural de Paris, e conhecer pessoas”, falou.
Cinema alagoano
Representando o cinema alagoano e brasileiro nesse importante espaço internacional, a diretora ressalta o caráter coletivo da conquista. “Me sinto feliz e orgulhosa, acho que é uma super conquista em várias formas: coletiva — da cena de Alagoas, do projeto — que vem sendo produzido por Pedro Krull e participou de vários importantes laboratórios, e minha, como autora”, fala a realizadora.
Laís também destacou o avanço recente do cinema produzido em Alagoas e a importância de políticas públicas para o fortalecimento do setor. “Mais investimentos precisam ser anunciados, e com previsibilidade. Seria maravilhoso que esse tanto de conquistas — Candangos, CineMundi, BrLab, Cannes — virasse um impulso para que os entes locais criem um calendário anual de investimentos no setor”, destacou.
“E não apenas os resultados artísticos e culturais: mas os econômicos também”, explica. Como exemplo do efeito econômico, há a recente Lei Paulo Gustavo, que gerou R$ 6,51 para cada R$ 1 aplicado na cultura e os diversos estudos que mostram o efeito na empregabilidade e no crescimento do turismo em espaços que abrigam produções audiovisuais.
Para a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, a seleção de Laís para a residência do Festival de Cannes é motivo de grande orgulho para Alagoas. “Ela representa uma geração talentosa de realizadores que têm mostrado a força do nosso audiovisual e a importância dos investimentos na cultura”, destacou Mellina.
“O Governo de Alagoas, por meio da Secult, é comprometido em valorizar e dar visibilidade a esses talentos que projetam o nosso estado para o mundo A conquista reafirma o crescimento do cinema alagoano e o impacto das políticas públicas de incentivo à cultura, que têm possibilitado a formação e projeção dos nossos talentos no cenário internacional”, reforçou a gestora.
Sobre Laís Santos Araújo
Natural de Maceió (AL), Laís Santos Araújo é uma das vozes mais promissoras do cinema contemporâneo brasileiro. Diretora e roteirista, tem obras exibidas e premiadas em importantes festivais nacionais e internacionais, consolidando uma trajetória marcada por sensibilidade e força autoral.
Em 2022, conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Berlim (Berlinale), na categoria Generation 14plus, com o curta-metragem “Infantaria”, que também foi qualificado ao Oscar após vencer o Grand Prix no Festival de Curtas do Rio de Janeiro. O filme foi finalista do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, promovido pela Academia Brasileira de Cinema, e selecionado para mais de 70 festivais ao redor do mundo.
Seu primeiro curta de ficção, “Como ficamos da mesma altura” (2020), foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR), um dos eventos mais prestigiados da Europa.
Laís também é roteirista do longa “Marina”, que recebeu o prêmio de desenvolvimento do Hubert Bals Fund (Holanda) e o prêmio de Melhor Roteiro no Nederlands Film Festival (NFF). O projeto passou pelo laboratório Porto Iracema das Artes, com tutoria do cineasta Karim Aïnouz, e encontra-se atualmente em pós-produção.
Com o projeto de longa “Infantaria”, Laís participou de importantes laboratórios e iniciativas internacionais, como La Fabrique Cinéma, BrLab, CineMundi, MAFIZ e CineLatino Toulouse, além de integrar a Incubadora Paradiso 2024.
Fundadora da produtora Aguda Cinema, a diretora também atua na formação de novos profissionais por meio do projeto Sala de Roteiros, que também conta com incentivo do Governo do Estado e já ofereceu mais de 700 vagas de capacitação em cinema em Alagoas. A produtora é responsável pelo desenvolvimento de três longas-metragens atualmente em fase de desenvolvimento e pré-produção.
Fonte: Daniel Borges / Ascom Secult