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02/11/2017 às 14h40

Geral

Bordado de filé, patrimônio de Alagoas

Fotos; Roberta Marques

*Naira Costa e Roberta Marques

O bordado filé é um trabalho típico e tradicional de Alagoas e é, antes de tudo, uma tradição passada de geração em geração. O nome filé vem do francês “filet” e quer dizer rede. De fato, é um bordado sobre uma rede de fios, similar a uma rede de pesca, presa nas extremidades a um tear de madeira e trabalhado em agulha e linha por meio de cores milimetricamente combinadas, através de mãos ágeis e habilidosas.

A técnica de origem europeia chegou a Alagoas através dos portugueses, que ensinaram aos pescadores da região o trançado para utilização nas redes de pesca. Com o passar do tempo, as mulheres dos pescadores substituíram o nylon das redes por linhas que deram forma ao bordado alagoano.

O filé, uma das marcas do artesanato de Alagoas, é tipicamente uma manifestação do complexo lagunar Mundaú – Manguaba e os maiores núcleos de produção estão localizadas nas cidades de Maceió, nos bairros do Pontal da Barra e Riacho Doce e em comunidades de Marechal Deodoro. O artesanato é a principal fonte de renda de diversas famílias que moram nesses locais.

Segundo Maria do Carmo de Almirante, 60 anos, moradora do Pontal da Barra e que aprendeu a bordar o filé com sua mãe aos 12 anos, “o filé sempre esteve presente na minha vida, ocupa minha mente, ajuda a inteirar minha renda. Sempre trabalhei como rendeira, tem 10 anos que consegui minha lojinha, ensinei a minha sobrinha a bordar e hoje ela me ajuda na loja”, diz.

Ela relata que atualmente as vendas não estão muito boas e que o turista só está vindo a passeio. “Acredito que só vai melhor em dezembro ou  janeiro. Esse  ano está pior do que  os outros em termos de venda”, lamenta.

A variedade de pontos e complexidade de execução dos pontos entre si, conferem ao bordado alagoano características singulares. O filé alagoano recebeu a Certificação de Indicação Geografica (IG) concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)que indica que certa região é especializada e possui capacidade de produzir determinado produto com qualidade e diferencial. Ele estabelece um padrão de qualidade ao bordado, garantindo reconhecimento, notoriedade ás peças e maior segurança aos consumidores de estar adquirindo um produto com tradição e qualidade comprovada. Ele funciona como um selo de qualidade.

A produção e comercialização do bordado é de suma importância para as comunidades que residem nesses bairros, na maioria das vezes, é a única fonte de renda dessas famílias. O filé é considerado um dos 134 símbolos mais representativos da cultura alagoana, bastante valorizado no resto do país pela tradição, autenticidade e riquezas de detalhes em todas as peças. 

Maria da Graça Silva, 63 anos, ela aprendeu a arte de bordar aos 14 anos olhando sua vizinha produzir o filé. “ensinei as minhas filhas, porém elas não quiseram ingressar no ramo por falta de paciência, por ser um trabalho muito demorado e que requer muita dedicação”, conta.

Segundo Maria, tem peça que leva até um mês para ser produzida. A demora depende do ponto, temos diversos tipos, o mais trabalhoso é o rabo de pavão.  Existem vários tipos de pontos de filé, dentre eles; antigo ou tecido, arroz, besourinho, aranhão, bom gosto ou rosa, corrente simples, cadeira, espinha de peixe, jasmin, olho de pombo, trançado ou amarradinho,cheio, casa de noca, pé de pavão, esteira, vai e vem, palhinha, ponto de risco, pontos de arremate ou acabamento.

Ela tem uma loja no Pontal há cerca de um ano, mas já trabalha com o filé há quase cinquenta anos. Maria das Graças revela que tem semanas que vende até cinco peças e que os preços variam de R$ 10,00 a R$ 1.000,00 e R$ 1.500, 00. “No começo, tirávamos entre R$ 3.000 a 4.000 mil reais por dia com a venda do filé,  hoje na alta temporada tiro em média entre 3.500 a 4.000 mil  reais mensais. Tem loja que tira mais um pouco porque explora no valor da venda”, explica. 

“O filé tinha muito valor, porém hoje em dia caiu muito. O filé está se espalhando, antes as pessoas só encontravam as peças aqui no bairro do Pontal ou em Marechal Deodoro, hoje ele continua sendo produzido aqui mais vendido em diversos lugares do nosso estado.  Não sobrevivo só de artesanato, sou técnica de enfermagem e complemento a renda com o filé e com a salário do meu marido. Tenho uma neta de oito anos e já estou ensinando o ponto de filé, espero que ela goste e repasse o bordado para suas filhas”, diz Maria das Graças.


Fonte: Painel Alagoas

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