Aquele 3 de abril de 1997 era para ser apenas mais um dia na rotina de Dimas Holanda, 34 anos, pai de dois meninos, Arthur e Douglas. No final da tarde, depois de tomar um café com uma de suas tias, Madalena Fonseca, no Conjunto Santo Eduardo, em Maceió, Dimas despediu-se para ir ao Senac, onde estava fazendo um curso técnico. Não chegou a alcançar o carro, foi executado com 20 tiros, 12 de pistola 9 milímetros, que atingiram cheio a sua cabeça, ainda na calçada.
Vinte e um anos depois, o acusado de contratar pistoleiros para matar Dimas, o deputado estadual João Beltrão, continua protegido pela imunidade parlamentar e nunca chegou a sentar no banco dos réus. O caso vagueia pelo Poder Judiciário e só não foi prescrito porque, enfim, depois de quase vinte anos, em 21 de março do ano passado, a denúncia do Ministério Público Estadual foi aceita por unanimidade pelo Tribunal de Justiça de Alagoas, mas embargos apresentados pela defesa do acusado continuaram a arrastar o processo nos trâmites legais.
Semana passada, por meio da Assessoria de Comunicação, o Tribunal de Justiça informou que “os embargos estão sendo analisados e serão julgados em 17 de abril próximo pelo Pleno”. A defesa do parlamentar nega qualquer participação de seu cliente no assassinato e tenta, nas contestações, desqualificar a denúncia. Os acusados de executar materialmente o crime foram identificados como Eufrásio Dantas, o Cutita, o ex-sargento PM Daniel Sobrinho, José Carlos Ferreira, o Ferreirinha, Paulo Nei e Valdomiro Barros, nenhum preso por essa execução.
De 1997 para cá, a família de Dimas vive cobrando justiça e confiando nas instituições. A mãe faleceu há poucos anos, sofrida, angustiada, dizendo que a única coisa que poderia confortar sua dor era saber que os matadores de seu filho tinham sido, pelo menos, julgados pela lei. Isso não aconteceu. O pai, Jaime Holanda, ex-vereador de São José da Laje, também se entregou à tristeza e, doente, diz que não perde a esperança de saber que houve justiça para seu filho Dimas.
Coube a um dos irmãos, David, virar o porta-voz da família nessa tragédia. “Que país é esse que tem uma lei que dá imunidade a acusados de crime de homicídio? ”, desabafa. “Minha tia faleceu abalada ao ver o corpo do sobrinho coberto de sangue em sua porta, minha mãe começou a morrer quando mataram Dimas, meu pai, que era um homem cheio de saúde, de energia, de alegria, e agora é doente, sem brilho”, diz David. “Meu irmão era uma pessoa de bem, nunca teve arma, não tem histórico de violência, mataram um inocente”, acrescenta. “Os filhos cresceram sem pai e sem ver a justiça ser feita”, lamenta.
Em 1997, João Beltrão era deputado estadual e de lá para cá, já se reelegeu em 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. As informações dão conta de que ele será candidato também na eleição deste ano, apesar de estar enfrentando um câncer e ter problemas sérios de diabetes. Nos últimos tempos, tem vivido mais de licença médica do que de presença no parlamento. A motivação para mandar executar Dimas teria sido ciúme de uma possível “namorada” de Beltrão, aponta a acusação.
O juiz Maurício Brêda, da 17 Vara Criminal de Maceió, teria dito, em juízo, que ouvira do próprio João Beltrão a confissão de que Dimas fora morto por “dois amigos” do deputado. Também em juízo, o ex-coronel PM Manoel Cavalcante, envolvido, denunciado e condenado em crimes da chamada gangue fardada, teria apontado o parlamentar como o autor intelectual do assassinato de Dimas.
Até o ano passado, o caso Dimas Holanda no Poder Judiciário ocupava seis volumes em 1.402 páginas. “Só queremos justiça, só queremos sepultar de vez nosso irmão, queremos dar paz ao meu pai e a todos nós, queremos que os filhos e netos de Dimas não desacreditem nas instituições, na Justiça”, declara David Holanda.
Fonte: Redação