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15/10/2018 às 09h52

Geral

O rio de lágrimas e suas lendas

Cada história, de cada criatura mitológica, contada sobre o Velho Chico traz consigo um pouco de crença e de forma de explicar a realidade concreta

Cbhsf - Tantoexpresso / Edson Oliveira

Cadu Amaral

Sabe-se lá quando, no local atualmente conhecido como Serra da Canastra, em Minas Gerais, uma índia chamada Irati vivia com sua tribo tranquilamente até que um dia, seu amado, um guerreiro, saiu da aldeia com outros homens para lutar uma guerra. A quantidade de guerreiros era tão grande que por onde eles passavam a terra afundava e deixou uma enorme falha na trilha por onde caminharam. Desta batalha o amado de Irati nunca regressou. Incon­solável, a índia danou-se a chorar de saudades de seu amor por dias seguidos. As lágrimas derramadas por Irati deram origem ao Rio São Francisco. 

A história acima é uma das muitas lendas que fazem parte do imaginário do que é o Velho Chico, como é conhecido o Rio São Francisco, um dos mais importantes do país.

Muitas das lendas do São Francisco são contadas por pescadores, geração após geração. As mais conhecidas são o Caboclo – ou Nego – D’água e a Mãe D’Água. O primeiro é uma criatura de cabeça grande e um olho no meio da testa. Ele mora numa gruta de ouro localizada nas profundezas do Velho Chico e tem como hábito virar pequenos barcos ou canoas, espantar peixes e desabar barreiras. Uma forma de despistá-lo é pintar estrelas no fundo das embarcações ou lhe oferecer fumo para agradar.

Já a Mãe D’água é um tipo de sereia que vive no São Francisco. Para os barqueiros, o rio dorme à meia-noite por cerca de dois ou três minutos. Nesse momento sua correnteza para – até as cachoeiras deixam de cair –, os peixes se deitam no fundo do Velho Chico, as cobras perdem seu veneno e a Mãe D’água vem à superfície em busca de uma canoa para pentear os cabelos. Enquanto ela se embeleza, as almas das pessoas que morreram no rio seguem para as estrelas.

Outra lenda é a do Minhocão, uma serpente gigantesca e que vive embaixo do chão do São Francisco. Ele viaja por léguas sem fim em busca de cidades para destruir. O monstro também escava grutas em barrancas e afunda barcas. 

O botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, no final do século 19, chegou a catalogar o Minhocão após tomar o depoimento de barqueiros do São Francisco.

“É um bicho enorme, preto, meio peixe, meio serpente, que sobe e desce este rio em horas, perseguindo as pessoas e as embarcações; basta uma rabanada, para mandar ao fundo uma barca como esta nossa. Às vezes toma a forma de um surubim, de um tamanho que nunca se viu; outras, também se diz, vira num pássaro grande, branco, com um pescoço fino e comprido, que nem uma minhoca; e talvez por isso é que se chama o minhocão”, registrou Auguste de Saint-Hilaire.

Uma das lendas mais conhecidas dos alagoanos, ao menos sua imagem, é a Carranca. Ela é um monstro capaz de assustar até o Caboclo D’água. Sua imagem é colocada nos barcos e, de acordo com as histórias, a Carranca avisa aos barqueiros quando a embarcação está prestes a afundar com três gemidos.

A Carranca, símbolo de campanha pela preservação do Rio São Francisco, é uma protetora contra maus espíritos. Sua imagem é bastante comercializada atualmente como peça de artesanato.

Cada história, de cada criatura mitológica, contada sobre o Velho Chico traz consigo um pouco de crença e de forma de explicar a realidade concreta. Os antigos, por exemplo, não tinham conhecimento cientifico suficiente para detalhar o porquê de um rio existir ou mesmo o que causava um desabamento ou a calmaria das madrugadas.

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Fonte: Painel Alagoas

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