Com o objetivo de discutir a identificação e a abordagem de pessoas com risco de suicídio, a Coordenação Geral de Atenção Primária, através do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (Nasf) e em parceria com a Gerência de Saúde Mental da SMS, promoveram nesta quarta-feira (14) o seminário “Prevenção ao suicídio na Atenção Primária: Como ajudar pessoas com risco de suicídio?”, direcionado a profissionais que atuam na atenção básica do município. O encontro ocorreu no cinema do Cine Arte Pajuçara.
De acordo com Berto Gonçalo, coordenador do Nasf da SMS, o seminário busca estabelecer um diálogo intersetorial. “Buscamos firmar parcerias com a educação e com a assistência social, pois essa é uma condição que vem crescendo bastante e que perpassa pelas mais diversas áreas. Em Maceió, nos oito distritos sanitários observamos um número crescente na questão do suicídio, então estamos tentando puxar essa temática para mais perto das pessoas, para que elas possam ser trabalhadas nas unidades de saúde, pois ainda há muita resistência em falar sobre o assunto”, destaca o coordenador.
“A Estratégia em Saúde da Família é a porta de entrada de todo o SUS, então estamos tentando desenvolver uma estratégia para que as pessoas tenham acompanhamento, e para isso, temos a parceria com a Gerência de Saúde Mental. Além dos psicólogos, profissionais capacitados para atender esses casos, o Nasf conta com uma equipe multiprofissional, preparados para identificar os potenciais casos e encaminhar os pacientes”, completa Berto Gonçalo, coordenador do Nasf da SMS.
Durante o evento, os profissionais assistiram ao documentário “The Bride – A Ponte” (2006), com posterior discussão interativa com a plenária. Logo em seguida, os participantes do seminário se dividiram em grupos para trabalhar em três casos de tentativa de suicídio ocorridos em Maceió de forma a elaborar estratégias de intervenção, favorecendo o processo de identificação, abordagem e manejo desses pacientes.
Já de acordo com Izolda Dias, gerente de Atenção Psicossocial do município, existem dois profissionais técnicos – um psicólogo e um assistente social – que trabalham especificamente essa questão na atenção básica. “Esse é um tema que precisa ser falado, abordado. Nós fazemos reuniões mensais com as unidades de saúde e estamos sempre em contato com as equipes de saúde para vermos formas de melhorar esse diálogo com os profissionais, pensando de que forma a atenção básica pode atuar na identificação desses casos. Contamos ainda com a parceria da Vigilância em Saúde com dados estatísticos sobre suicídio no município para com isso planejar melhor nossas ações”, afirma.
Como os profissionais podem ajudar esses pacientes?
Valfrido Leão de Melo, professor adjunto de psiquiatria da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), afirma que o suicídio é um comportamento multifatorial e inclui tanto história pessoal quanto problemas externos à pessoa. “Pessoas que tem uma história pessoal, que tem histórias de traumas de infância, problemas de abuso físico, sexual, abandono afetivo durante a infância, podem ter uma vulnerabilidade maior a desenvolver transtornos mentais que muitas vezes estão associados a um comportamento suicida”, explica.
Para o profissional, o transtorno mental é condição necessária para que haja o suicídio, mas não é suficiente para explicar tudo. Existem ainda os problemas sociais, de relacionamento, desemprego, luto, isolamento social, solidão, que vão agravar o quadro de uma pessoa que está sofrendo com algum problema mental, principalmente se for uma pessoa mais impulsiva.
“Os profissionais da atenção básica podem atuar na identificação de pessoas que tem um comportamento que possa representar um suposto transtorno mental, algum sofrimento emocional, de humor e em pessoas que possam viver em situações de vida mais estressantes. As minorias sociais são mais vulneráveis, nesses casos, assim como vítimas de bullyng, humilhação. Então é preciso estar atento a essas situações que causam angústia e sofrimento”, destaca Valfrido Leão de Melo.
Quais os principais sinais de alerta?
“As pessoas geralmente dizem frases de alerta como ‘queria dormir e não acordar mais’, ‘não queria ter nascido’, ‘sou um peso pras pessoas’. Quando as pessoas dizem essas coisas já é um sinal de alerta e a gente precisa sentar e conversar com elas, oferecer ajuda, mas não da boca pra fora. Se você disser que vai ficar tudo bem e não fizer nada pra ajudá-la, você pode piorar o quadro dessas pessoas, porque ela pode concluir que até a pessoa que está oferecendo ajuda tá pouco fazendo. Ignorar os sinais de alerta aumenta o risco”, afirma Valfrido Leão.
Fonte: Ascom/SMS