O último dia de julgamento do caso Ceci Cunha teve início com a expectativa da acusação pela condenação de Talvane Albuquerque e os outros quatro réus. Serão mais de 11 horas de debate, nesta quarta-feira (18) entre defesa e acusação no Fórum da Justiça Federal, no bairro da Serraria, em Maceió, onde serão apresentadas as teses de cada lado para assim o júri decidir pela condenação ou absolvição.
Esta é a fase mais aguardada pela família que acredita, após 13 anos do brutal assassinato de Ceci Cunha e três parentes, no veredicto favorável a condenação do ex-parlamentar, apontado durante as investigações policiais como o autor intelectual do crime, que teve conotação política.
O dia será longo já que não existe previsão para o término do julgamento, que deve se estender durante toda a noite. Serão três horas e meia para a acusação mostrar aos jurados que o crime foi encomendado por Talvane Albuquerque e executado pelos assessores. Em seguida, a defesa terá a palavra tentando reverter a situação, já que segundo o advogado Welton Roberto, não existem provas concretas de que seus clientes estão envolvidos na chacina da Gruta, como ficou conhecida.
Com a palavra, a acusação
O primeiro a usar a palavra é o Procurador do Ministério Público Federal, Rodrigo Tenório, que inicia falando sobre a importância dos jurados, lembrando que os jurados representam o povo no júri e que são eles que acusarão o réu como sendo culpado ou inocente. O procurador diz que quando os réus assassinaram Ceci Cunha, eles mataram uma representante do povo porque a política foi escolhida por meio de uma eleição democrática.
Rodrigo Tenório exibe o resultado das eleições em 1998 quando o ex-deputado e 1º suplente recebeu mais de 24 mil votos. Em seguida, ele explica o plano de eliminar os deputados Augusto Farias e Albérico Cordeiro, apresentando um laudo da conversa, por telefone, entre Talvane Albuquerque e Maurício Guedes "Chapéu de Couro" onde eles negociaram R$ 200 mil reais.
“O dinheiro foi pago em três parcelas. Uma entrada de R$ 50 mil foi paga em Juazeiro no dia da negociação. Chapéu de Couro e os outros pistoleiros receberam mais R$ 50 mil no dia em que chegaram a Maceió. Os restantes R$ 100 mil foram quitados 30 dias depois do assassinato”, explicou Tenório, completando que os valores foram pagos pelos assessores de Talvane à irmã de Chapéu de Couro – confirmado em depoimento.
O procurador relaciona o ano do plano contra Augusto Farias, 1996, quando Paulo César Farias foi assassinado. Um vídeo é exibido onde, em depoimento, Chapéu de Couro afirma que o Talvane Albuquerque estava disposto a pagar muito dinheiro para assassinar Augusto e chegar ao poder. Segundo Chapéu de Couro, a morte de Augusto Farias não levantaria suspeita para Talvane já que poderia ser relacionada com a morte de PC Farias, já que o deputado estava sendo acusado do homicídio.
Na continuação do depoimento do Chapéu de Couro à Polícia Federal num hotel em São Paulo, por vídeo, conta sobre o encontro na churrascaria Frei Damião, em Juazeiro-BA, para marcar o pagamento. Na gravação, o pistoleiro Chapéu de Couro diz que colocou a sua vida em risco ao negociar com Talvane. Ele chegou a questionar o deputado se teria dinheiro suficiente para encomendar o crime, já que o serviço sairia bastante caro.
O representante do MPF exibe o comprovante da pousada onde os réus se hospedaram em Juazeiro, além de provar usando os depoimentos de ontem que a irmã do Chapéu de Couro recebeu o dinheiro.
Gravação mostra planejamento do crime
Uma gravação de áudio feita pelo perito da Unicamp Ricardo Molina onde consta uma conversa entre Talvane e Maurício, exibida ontem, quando os acusados planejam o crime, é reapresentada pela acusação, que resalta as expressões "vestimenta e "careca". Sobre a denúncia de Talvane Albuquerque sobre a adulteração da fita, o procurador do MPF mostra uma segunda edição da fita em que mostra a gravação inteira e diz que a perícia comprova a voz de Pedro Talvane Luiz Gama de Albuquerque Neto. "A fita é verdadeira".
Rodrigo Tenório avalia as gírias na gravação. Rodrigo diz que "Careca" falava em terceira pessoa porque, na época, tinha raspado os cabelos e que "vestimentas" se refere aos coletes à prova de bala que Jadielson falou que o ex-deputado Talvane teria comprado dois coletes para os seguranças do Talvane.
Ele exemplifica ainda que duas pessoas entraram na casa de Ceci Cunha. Através do diálogo gravado, ele mostra que os coletes foram comprados para entregar aos assassinos de Ceci Cunha.
O procurador federal avaliou também o depoimento de "Zé Piabas" que se contradiz nos depoimentos anteriores quando alegou que sofreu tortura. Alécio, Jadielson, Mendonça e José Alexandre (o ex-pm) participaram da chacina e prova que Alécio comprou um carro Uno verde que foi queimado a caminho de Arapiraca após o assassinato de Ceci Cunha.
Tenório fala sobre o depoimento de Mendonça em fevereiro de 1999, e demonstra elementos usados para torturá-lo que nunca foram apresentados nos depoimentos anteriores como: a macaxeira e a vassoura. Tenório diz que não houve tortura.
Sobre a véspera do assassinato, ele diz que os réus mentiram durante o interrogatório. Rodrigo fala sobre o depoimento do porteiro do prédio de Talvane, Cassemiro, que falou sobre o Fiat Uno quando o veículo apareceu na porta do prédio de Talvane.
A promotoria segue falando sobre as ligações entre Talvane, Jadielson e Mendonça no dia do crime, momentos antes e depois. Talvane Albuquerque viajou à Brasília e pediu licença antes do crime, no dia 16 de dezembro de 1998.
Trajeto para a morte
Em seguida, o procurador exibe um vídeo com a animação, feito baseado no rastreamento das ligações, que mostra o trajeto de Ceci Cunha e seu esposo Juvenal. "No Uno tinham três e no Santana estava Medeiros", diz Tenório. Em seguida, o promotor mostra o trajeto da fuga e diz que o Uno foi encontrado a poucos metros da última ligação no dia do crime.
“Após a diplomação, Ceci Cunha e o marido deixam o local, levam uma parente até a Bomba do Gonzaga. Eles continuam o caminho até a cena do crime. Os pistoleiros seguem em fuga, deixam Maceió no sentido Atalaia onde o carro foi incendiado. A torre mostra o local onde eles estavam”. As ligações foram detectadas pelas torres por meio de celulares.
Sobre a afirmação de Talvane Albuquerque que o ex-governador Mano teria motivos para assassina a deputada, devido uma dívida que ela tinha, Rodrigo Tenório mostra que não há provas no Tribunal Regional Eleitoral dessa dívida. “Isso tudo é uma conspiração senhores? Réu pode falar o que quiser, pode chorar, é direito deles. Mas os senhores como jurados precisam julgar levando em consideração as provas”, relembra.
Na sequencia, Rodrigo Tenório mostra fotos da fachada da casa e da cena do crime, onde aparece Ceci Cunha e os outros parentes mortos, momento em que a família da deputada assassinada deixa o auditório do Fórum. A promotoria fala que a arma usada no crime foi uma espingarda calibre 12 e que Ceci Cunha foi atingida pelas costas.
O procurador nega agora que a gravação do depoimento da irmã de Ceci Cunha, Claudinete Maranhão, foi falsificada e afirma que os assessores de Talvanes, Winer e Valdeir fugiram para Brasília.
Rodrigo Tenório avalia alguns dos depoimentos dos réus e mostra que após o crime ligaram para um pistoleiro em Jauzeiro-BA, encontro de Talvane com Augusto Farias que estava ameçado de morte pelo réu, por exemplo.
Tortura e laudo da defesa
O procurador federal, Rodrigo Tenório, mostra a contradição no depoimento de Mendonça sobre as torturas, cujos materiais que o réu alegou existir como vassoura e saco plástico, assim como a mandioca para o abuso sexual não existiram. Depois analisa o laudo do perito contratado pelos réus, Jorge Sanguinetti, que alega que o réu sofreu lesões nos punhos e na face que, segundo a promotoria, Mendonça não teve.
Rodrigo Tenório disse que os réus mentiram durant os depoimentos desse julgamento e que Talvane mandou matar Ceci Cunha. "Esse Estado (Alagoas) não pode continuar nas mãos do Coronelismo. Eu peço que condene todos os réus pelo assasinato", finaliza o procurador.
Fonte: Cada Minuto