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22/02/2021 às 08h00

Geral

O urbano e as pessoas nas fotografias de Gustavo Pereira e Márcio Valença

As pessoas, suas relações com as cidades e o mundo em que vivem estão sempre presentes nos trabalhos desses dois grandes talentos na arte de fotografar

Gustavo Pereira e Márcio Valença

Por Nicollas Serafim/Blog Aqui Acolá

O Dossiê Fotografia Alagoana abre sua segunda edição para os artistas Gustavo Pereira e Márcio Valença. Com quase o mesmo tempo de trajetória na fotografia, os maceioenses adquiriram em suas bagagens estéticas algumas similaridades e outras diferenças de estilo. Contudo, as pessoas, suas relações com as cidades e o mundo em que vivem estão sempre presentes nos trabalhos de ambos. O Aqui Acolá bateu um papo com os dois para mais uma matéria especial, dando sequência à segunda temporada do projeto.

Gustavo Pereira

O engenheiro de estruturas Gustavo Pereira sempre foi curioso com relação à fotografia. Mas há aproximadamente 6 anos, depois de frequentar um curso ministrado pela professora Adriana Lima, resolveu se dedicar de maneira mais concentrada nos estudos e práticas com a câmera. “Dizem que depois que você é picado pelo mosquitinho da fotografia, mais nunca você acha a cura”, brinca. Incentivado por Adriana, que notou nele um olhar diferente durante o transcorrer do curso, Gustavo seguiu se aperfeiçoando e desenvolvendo suas imagens.

Tanto que de três anos para cá, o que antes era só um hobby passou a se configurar como mais uma atividade intensa em sua vida. “Comecei a vender algumas fotografias e ao mesmo tempo me cobrar um padrão de qualidade maior, até de impressão, inclusive”, afirma. Apesar da timidez inicial, os retratos são os tipos de fotos mais presentes em sua produção. “No começo eu tinha muita vergonha em me aproximar das pessoas e pedir para tirar uma foto delas”, revela. “Mas hoje é um dos meus estilos prediletos, principalmente quando retrato pessoas em situações de rua, como trabalhadores ambulantes e mendigos, que tenho tentado fotografar bastante”.

Suas primeiras saídas acontecem sem a câmera, até que um vínculo seja criado através de uma conversa inicial, para depois se transformar em fotografia. “Tem um artista chamado Lee Jeffries que faz um trabalho muito interessante com pessoas de rua. Ele criou uma instituição que vende as fotos tiradas e boa parte do dinheiro é revertido para trabalhos com essas pessoas”. Gustavo tenta, numa escala menor, fazer um trabalho parecido. “Em Maceió não tive sucesso ainda, mas consegui fazer isso com um morador de rua em São Paulo. Fui uma vez lá e o fotografei, posteriormente fiz uma impressão e entreguei a ele, com meu nome, contato e sugestão de valor e tal. ” Para sua surpresa, no outro dia recebeu uma mensagem de alguém que tinha comprado a foto e elogiando o trabalho.

“Esse é um trabalho que pretendo me debruçar muito ainda, espero que se desdobre em uma exposição futura”, projeta. “Apesar de saber que é um tema muito espinhoso”. Além das pessoas, Gustavo é adepto das fotografias de rua e de ensaios, aliados a algumas brincadeiras com luz e sombra. “Também gosto muito de fotografar a religiosidade, apesar do documental não ser muito minha praia”, diz ele. “Busco nas minhas fotos uma pegada estética bem forte, justamente por eu não ser muito do documental”.

Imagens capturadas em velocidade baixa e em longa exposição fazem parte de suas produções. “Fiz algumas fotos noturnas nesse estilo em favelas com a ideia de fazer painéis gigantes retratando um pouco da vida dessas pessoas”. O cotidiano e o inusitado também são temas buscados por ele em suas fotografias.

Seus fotógrafos inspiradores são, além do citado Lee Jeffries, o brasileiro German Lorca, Cartier-Bresson, Sebastião Salgado, Pierre Verger e Mário Cravo Neto. “Os alagoanos João Facchinetti, Roberto Fernandes, Celso Brandão também são referências para mim”, diz ele.

Dentro desses seis anos de estudo e prática, Gustavo Pereira acumulou algumas imagens em séries, que segundo ele ainda estão inacabadas e em produção. “No começo eu fotografava tudo, eu apertava muito o dedo e não pensava tanto. Hoje a situação já se inverteu um pouco”, afirma. “Atualmente tenho mais planejamento, mais pensamento e trabalho consistente”.

Para Gustavo, o mercado de fotografia tem um potencial gigante, mas carece de organização. “Acho que a gente não está se movimentando e se organizando para que o mercado de fotografias de artistas daqui se consolide, vire um costume e uma realidade. Tanto financeiramente como de cultura, de costume, já que muito pouca gente compra ou consome arte aqui”. Contudo, para ele, o cenário maceioense está muito propício para a produção fotográfica devido aos eventos, cursos e festivais que vem acontecendo.

“Fotografia, como toda arte, é uma delícia. A abstração da realidade é uma coisa muito prazerosa, que relaxa e renova”, comenta ele. “Uma coisa muito bacana que eu percebi, desde que comecei no primeiro curso, foi que ao tomar contato com a fotografia a gente começa a procurar ver o lado melhor das coisas, de alguma forma”.

Márcio Valença

O alagoano Márcio Valença lembra que desde adolescente, mais precisamente aos 13 anos de idade, começou a se interessar por tecnologia. E foi nessa época que teve os primeiros contatos com a máquina fotográfica. A partir daí, o equipamento e o registro das imagens passaram a acompanhar sua vida, porém com o intuito puro e simples de gravar e recordar os momentos vividos.

Aliado a isso, sua paixão por viajar casou perfeitamente com o desejo de fotografar. “Também comecei a filmar algumas coisas, ainda com as antigas Super 8 e depois com outras máquinas mais novas”, lembra ele. “Então, de uns cinco anos para cá, eu quis dar um embasamento mais técnico às fotos que tirava, foi quando eu fiz um curso com João Facchinetti”.

Márcio revela que se surpreendeu com o tamanho do engajamento dos fotógrafos em Alagoas. “Quando comecei a participar de reuniões, a visitar as exposições do grupo Perambular Fotográfico, para mim foi uma grata surpresa ver que o cenário da fotografia alagoana é tão movimentado”.

Entusiasmado, começou a se dedicar com mais afinco aos estudos, inclusive a participar dos festivais nacionais de fotografia, como o de Paraty no Rio de Janeiro e o de Tiradentes em Minas Gerais. “Meu intuito era não somente tirar fotos como registro de momentos familiares ou dos locais e monumentos que visitava, mas também de enxergá-los com outros olhos”.

Ele afirma que seu estilo predileto é a fotografia de rua, o que lhe permite trabalhar mais com a luz. “Houve uma mudança muito grande de foco, tanto que hoje o que eu menos gosto de fotografar são festas, aniversários, enfim”. No início, Márcio gostava de usar muito o zoom da câmera, contudo hoje ele acredita que as melhores imagens são feitas quando se está próximo do seu objeto de interesse. “Atualmente eu utilizo muito a objetiva de 50mm, a famosa cinquentinha. Apesar de ter uma preferência maior pelo preto e branco, também gosto do colorido de algumas formas”.

Alguns dos lugares mais interessantes que passou com sua câmera, os quais lhe renderam boas imagens foram a savana africana, o Quênia e o sul da Argentina e suas paisagens de gelo. “Outra viagem que fiz há pouco e estou publicando algumas fotos interessantes no Instagram foi para a Índia. Achei um lugar muito cênico que me impressionou muito, tanto com relação às pessoas como às ruas”. Além dela, ele pretende mostrar uma série de fotografias de texturas, tanto em preto e branco como coloridas, que vem fazendo em suas viagens.

Márcio revela que se inspira mais nos fotógrafos alagoanos. “Tem muita gente interessante aqui. Outro que admiro muito é Valdemir Cunha, de Belém. Fiz um workshop com ele e as suas fotografias de rua me inspiram muito”.

Atualmente, suas atenções estão mais voltadas para uma série de fotografias que vem fazendo das pessoas que trabalham na praia – jangadeiros, ambulantes e comerciantes que vivem e tiram seus sustentos das areias e do mar. Além disso, tem se dedicado às paisagens do litoral alagoano. Ele participa há pelo menos quatro edições da exposição coletiva anual do Perambular Fotográfico. “Perambular é um grupo fantástico, todo mundo se ajuda, estuda, dá dicas. As pessoas de lá são muito acolhedoras com quem está começando”.

Segundo ele, apesar do mercado de fotografia de arte ser muito escasso no estado, nota-se um desbravamento forte em razão das movimentações que estão sendo feitas e articuladas pelos fotógrafos da cidade. “Mesmo assim, acho que no primeiro momento vem a fotografia e a arte. Logicamente, se você puder juntar o lado comercial com a arte é ótimo, mas que também você não se perca”.


Fonte: Painel Alagoas

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