Isaac Neves
Por Nicollas Serafim/Blog Aqui Acolá
As tradições e cores dos folguedos e da cultura popular alagoana acompanham a trajetória artística de Salles Tenório há muito tempo. Com 40 anos de atuação, o artista visual é um dos mais longevos em intensa produção cultural em Maceió e conversou com o Aqui Acolá sobre suas motivações e percepções artísticas, assim como também sobre sua atuação enquanto professor de desenho e pintura, ofício nobre e importante, no qual ele vem educando e formando artistas desde os anos 1980.
Salles é maceioense e despertou para a sensibilidade artística muito cedo, o que chamou a atenção de sua irmã Graça Tenório que o levou para estudar com Getúlio Motta e depois com Pierre Chalita, baluartes da pintura alagoana nos anos 70. Ele conta que descobriu seu real potencial quando percebeu que pessoas não ligadas a ele passaram a se interessar pelo seu trabalho. A partir de então, começou a desenvolver sua pintura, sempre procurando ampliar os horizontes para sua arte.
“No início mostrava meus trabalhos diretamente a amigos, depois aos amigos de amigos, até que comecei a expor em galerias e hoje divulgo também em redes sociais”, comenta ele. Além da prática, Salles é formado em Educação Artística pelo Centro Universitário CESMAC desde 1982. “Eu me considero uma pessoa polivalente, tenho um leque muito grande de técnicas, o que facilita para expressar o que eu quero mostrar”, revela. “Desde desenho a pintura, da escultura à papietagem e também em teatro como cenógrafo e figurinista”.
O foco de suas obras está bem destacado no folclore popular, nos folguedos alagoanos, as crenças e o dia a dia do povo que vive e brinca neste chão. Além das telas tradicionais em acrílico, Salles também os retrata sob a forma de estandartes. “Gosto de trabalhar com a alegria das formas e das cores. Hoje em dia eu desenvolvo um trabalho menos figurativo e mais espontâneo, despojado e orgânico”.
Durante os anos de trabalho foi evoluindo e experimentando, ilustrou livros e foi incluído em catálogos de artes em Alagoas e São Paulo. Já participou de inúmeras exposições coletivas e individuais. “Para mim a mais importante foi a primeira na Linea, uma extinta loja de decoração que ficava no comércio de Maceió”, revela ele. “Foi uma mostra de curadoria do Pierre Chalita e da Solange Lages”. Também fez parte do projeto Velas Artes das Casas Jardim, do projeto Arte Contemporânea das Alagoas do Hospital Veredas, dentre outras exposições em galerias como a Gamma, do Teatro Deodoro e fora de Alagoas já expôs em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro.
Sua escola, localizada no Centro da cidade, é uma das mais antigas em atividade no estado e tem papel fundamental na disseminação da arte em Alagoas. “Na escola atualmente eu ensino todas as técnicas de desenho e pintura, mas no passado também já tivemos aulas de xilogravura, cerâmica, papel machê e outros”, comenta. “Por aqui passaram inúmeras pessoas durante todos esses anos, impossível de contar. Mas alguns se consagraram em nossa arte como Persivaldo Figueirôa, Adriana Jardim, Eduardo Bastos, Zita, Gorete Brandão e muitos outros”. Além disso, também é professor colaborador no Centro de Belas Artes de Alagoas (Cenarte), também no centro.
Para Salles, a arte é simples, do cotidiano, é como respirar e olhar para o mundo. “Eu vivo da arte, porque a arte vive de mim”, reflete. “A importância da arte para o ser humano está no seu dia a dia. Ela lhe faz ver coisas, situações, objetos, tudo de uma outra maneira. Até no seu vestir, na sua própria casa e não só em se tornar um artista propriamente. ” Com o vigor ainda incansável, Salles não pensa em parar de produzir e ensinar tão cedo. “Pretendo continuar ensinando e trabalhando até quando me for permitido, pois sempre aprendendo coisas novas com os alunos”.
Fonte: Painel Alagoas