Por Eliane Aquino
Imagine nascer numa casa onde a pauta é sempre a arte. A música, a dança, o teatro e, no meio do caminho, um violão Di Giorgio Série Ouro 1965! Ana Regina Galgani Xavier, a Ana Galganni, ou Ana Gal, do Divina Supernova, já nasceu com pré-disposição para ser artista. O violão, do seu pai, cantor e contrabaixista que tocava na noite, vivia no alto de um guarda-roupa e apenas a visão dele, já era puro desejo e encanto para Ana em sua infância, proibida de mexer no instrumento.
A tia, artista plástica, a irmã fazia teatro, o irmão, dança ( é hoje sapateador profissional em Nova Iorque). Uma de suas avós cantava em igrejas, o avô postiço, padrasto de sua mãe, era trompetista do Gran Circus Norte-Americano, o circo que sofreu um incêndio fatídico em 1961. Como conviver com toda essa magia e não se contaminar? Ana, é claro, virou artista e teve todo o incentivo dos pais em sua escolha pela música. E quem já a viu nos palcos, sabe o quanto ela canta!
E, para continuar o ciclo da arte em família, em 2007 o músico alagoano Júnior Bocão foi morar em São Paulo, conheceu Ana, começaram a tocar juntos, namoraram, casaram-se, vieram para Alagoas em 2009, criaram o Grupo Divina Supernova e fazem sucesso aqui, em outros estados e na Europa. O casamento deles durou 12 anos, mas continuam parceiros na arte. Juntos, são imbatíveis em qualquer palco.
“A música nos uniu. Eu e o Bocão nos conhecemos dentro da Baratos Afins, loja de discos e selo tradicionalíssimo de São Paulo. É muito natural que pessoas do mesmo métier se envolvam, e a nossa história foi brilhante: 12 anos de união estável, dois álbuns gravados, dos quais um deles veio ao mundo através de uma campanha de financiamento coletivo super bem-sucedida, 6 turnês internacionais - conquistas que jamais esqueceremos. Hoje podemos dar ao outro o que temos de melhor: a nossa musicalidade dentro do Divina Supernova, que segue firme e forte. E logo, logo, chega o nosso terceiro álbum”, revela Ana.
O Divina Supernova é formado por Ana Gal, Júnior Bocão, Yuri Torres na bateria e Bruno Ribeiro no contrabaixo.
Para a vida artística, ela usou o Ana Galganni por vários anos. Hoje, é Ana Gal. Segundo ela, Ana Galganni e a Ana Gal moram na mesma pessoa: na Ana Regina Galgani Xavier, “tipo a Matrioska, aquela boneca russa que você abre e vai tirando uma de dentro da outra. A diferença é que ao invés de tirar uma boneca menor, ela sai cada vez maior. A Ana Gal tem uma porta de percepção a mais aberta na vida. É a mesma mulher com um passo dado à frente, vivendo uma nova fase de sua arte”, explica.
“O nome encurtado vem da vontade de ser prática no discurso e no desejo do entendimento, mesmo sabendo que isso a gente não controla, mas pode direcionar. Amo o meu sobrenome, Galgani (de nascença com um N só, artístico com dois), mas eu assumi pra mim mesma o cansaço de ver ele sempre escrito errado por aí. Até um momento é engraçado, mas depois de 13 anos de carreira, perde a graça. E aí Ana Gal me bateu como um nome de capítulo novo”, destaca.
Ana Gal já veio ao mundo com um EP solo homônimo, lançado nas plataformas digitais em novembro de 2021. “No dia 13 de maio de 2022 fiz o primeiro show tocando as músicas dele (EP) com a banda Ana Gal & As Luxúrias, formada por Júlia Soares na guitarra, Gabi Ramos no baixo e Carol Vilela na bateria. É um show intenso feito pra dançar, com um repertório bem diferente do que o público me vê tocando no Divina Supernova, que tem uma pegada mais jazzística e "classicona" que eu amo fazer também”, diz a artista, acrescentando que “o plano é seguir tocando com essa banda delícia e ir espalhando a minha música por onde eu puder, dentro e fora de Alagoas”.
E por falar em shows, Ana conta como é a sensação de voltar a cantar e tocar na presença do público: “É a melhor possível. É a fome com a vontade de devorar. Nós artistas precisamos disso. A arte precisa disso, deste cruzamento, deste contato, desta troca ao vivo. Caso contrário, vira peça na vitrine. Claro que as lives que rolaram durante a pandemia severa foram importantes - elas nos ajudaram a manter a chama viva em vários sentidos, mas nada se compara aos corpos vibrando juntos no mesmo espaço”.
Os anos de 2020 e 2021 foram, sem nenhuma dúvida, uma das épocas mais difíceis para quem vive de arte. “Foram anos desafiadores em que tivemos que ter muita calma e resiliência. Segui firme e forte dando aulas de música online e fazendo jingles e trilhas sonoras para grupos/performances de dança, além de compor a trilha para a websérie fantástica da Julieta Zarza chamada Peripécias Menopáusicas (assistam no YouTube!). Estes trabalhos literalmente seguraram a minha barra”.
“No final de 2020 fui contemplada com editais da FMAC e da SECULT Alagoas através da lei Aldir Blanc. Este também foi um respiro importante naquele momento, tanto financeiramente como para impulsionar a criação - agora em 2022 vou lançar o vídeo Tubo de Ensaio (minha performance solo), o terceiro álbum do Divina Supernova e uma oficina de respiração - todos projetos financiados por estes editais”, diz Ana, que segue dando aulas online dentro e fora do Brasil, para quem quiser aprender canto, pandeiro e/ou flauta transversal.
Caminho musical – Ana Gal canta profissionalmente desde os 13 anos de idade, mas jura que ainda hoje, mesmo se sentindo mais íntima do palco a cada show, sente o famoso e tradicional “friozinho na barriga” a cada apresentação, mas também carrega em si o prazer de fazer o que ama. “Quando a cortina abre, a luz acende e o show começa, me sinto em casa e aí é só prazer. Um detalhe muito importante que faz os pés fincarem no chão nestas situações, é pensar que eu darei pro público o que eu sou, nada mais do que isso. Tudo o que eu estudei, ensaiei, fixei na memória e no corpo. Assim, eu entro no palco consciente, com tesão, e não com medo”, diz a artista.
Ana já cantou na França, Suíça, Portugal, Espanha, Estados Unidos e Japão: “Adoro cantar fora de casa. O público estrangeiro ama a música brasileira às vezes mais que os próprios brasileiros, e sempre fui muito bem recebida aonde cheguei. Há um silêncio nestas plateias, uma atenção neles que não há muito por aqui. Sinto que o nosso público neste momento da nossa história, da nossa vida, é um público sedento por dançar. Corpos que urgem por suar para esquecer dos problemas. Olhos que correm na escuridão buscando por pares. Ouvidos que buscam por letras que falem das suas verdades sem hipocrisia. E isso é importante. Quero estar no meio desta multidão, quero cantar para estas pessoas. Eu sou uma delas”.
E ela mostra que é possível da música que, segundo Ana, não se reduz a fazer shows. “Eu sou imensamente grata por viver até hoje apenas da música desde o início da minha carreira. É importante dizer que viver da música engloba não só fazer shows, mas também dar aulas, fazer trilhas sonoras, jingles, produzir shows de outros artistas, participar de shows de outros artistas, enfim. Sou grata por este privilégio pois sei que isso é raro, principalmente na situação atual do país.
E para que está iniciando agora a carreira musical, Ana Gal dá a dica: “Estude. Cante, toque instrumentos, ouça músicas de todos os estilos. Ouça os grandes nomes de todos os estilos. Prestigie os artistas da sua comunidade. Ouça a sua intuição, escreva o que ela te traz. Anote tudo o que te inspirar. Deixe a sua criatividade livre. Saiba que você não é melhor e nem pior do que ninguém. Você é você, e só pode superar a si. Busque o fundo do fundo de você. Esse é o substrato da sua arte”
Serviço:
EP "Ana Gal" está disponível no Spotify e nas principais plataformas de streaming.
Instagram: @_anagal_
Instagram: @divinasupernova
Fonte: Painel Alagoas