Por Dora Nunes, de Florença, Itália
Em 1501, quando foi contratado pelos operários da Catedral de Florença para realizar a escultura de David, Michelangelo tinha 26 anos. O artista recebeu 400 ducados, que equivalem a cerca de 68 mil euros, em valores atuais. Nada, diante do valor inestimável que tem a majestosa escultura, em exposição na Galleria Dell’Accademia di Firenze, museu criado especialmente para abrigar a obra reconhecida como o ícone do Renascimento.
A encomenda tinha como objetivo criar uma escultura que representasse a resiliência do povo florentino no enfrentamento aos tiranos mais poderosos. Deveria retratar a força, a pureza, a inteligencia e a fé, características que aquela população se autoconferia. E o mito da vitória de Davi contra Golias era o retrato de tudo isso.
Muitos artistas renomados da época tentaram esculpir David e desitiram. Eles diziam que seria impossível transformar o mármore de baixa qualidade oferecido para realizar a escultura. O jovem artista Michelangelo Buonarroti aceitou o desafio e conseguiu resolver o problema da fragilidade do mármore cavando um grande espaço entre as pernas da escultura, que demorou 3 anos para ser finalizada.
Em 8 de setembro de 1504, a obra foi revelada à Florença e logo se tornou o símbolo da orgulhosa independência dos florentinos. A riqueza e completa fidelidade de aspectos de uma figura humana espantou a todos. Não obstante a grandeza da escultura, é praticamente um milagre observar cada detalhe daquele corpo trabalhado à perfeição: veias, artérias, olhos e lábios que conferem vida ao mármore.
É também espantoso ver como o modelo é compatível com o aspecto de um jovem no auge de sua força física, com toda sua tensão orgânica e muscular. O olhar do David de Michelangelo tem a clássica concepção do personagem, no momento que precede o lançamento da pedra que matará Golias.
À época, entretanto, a escultura passou por um dilema de valorização. Ela havia sido encomendada para ser exposta no Duomo de Santa Maria Dei Fiore, a catedral de Florença. Posteriormente, uma comissão formada pelos mais importantes artistas da época decidiu expô-la diante do Pallazzo Vecchio, a sede administrativa da Provincia, na Piazza Della Signoria, onde permaneceu por centenas de anos.
Na metade dos 800, a estátua mudou de lugar para evitar a exposição às mudanças climáticas e aos agentes atmosféricos. Como não foi encontrado um lugar adaptado à grandeza da obra, foi criada a Academia de artes de Florença, que tem no centro da sua sala principal a tribuna de Davide (em italiano), destacando e reforçando a característica divina da escultura que, com sua base esculpida, tem 517 centímetros de altura e pesa 5.560 quilos.
O jovem Davi tem uma postura orgulhosa e focada na realização do gesto de guerra contra o gigante Golias, e aparência de herói esculpido com dorso nu e musculoso. Originalmente, algumas partes eram douradas: uma coroa na cabeça, o tronco atrás da perna direita e o estilingue. Atualmente, prevalece o branco do mármore em toda a escultura.
De acordo com a restauradora da Academia, Eleonora Pucci, a manutenção da obra requer muita atenção. A cada dois meses é retirado o pó realizando praticamente um “escaneamento” de toda a escultura, que começa no alto da cabeça e vai descendo para registrar e fotografar todo o estado de manutenção em que se encontra. “É indispensável para a conservação e transmissão às gerações futuras de sua beleza e maravilha”, afirma.
FICHA TÉCNICA
Autor: Michelangelo Buonarroti
Data: 1501 - 1504
Coleção: ESCULTURA
Técnica: Mármore
Dimensão: 517 cm de altura
Peso: 5.560 quilos
Fonte: Painel Alagoas