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06/10/2024 às 16h00

Geral

Homens estranharam a chegada das mulheres à Polícia Militar de Alagoas

"Essas mulheres não pegam bandido. Bandido não vai respeitar essas mulheres!", diziam homens PMS

Desfile da Infantaria da PM em 1990 com a presença das primeiras mulheres - Acervo pessoal

Chegar a um ambiente até então exclusivamente masculino não foi fácil para as 35 recém-aprovadas no concurso para praças da Polícia Militar. A sargento Cristina Silva – uma das 35 pioneiras – recorda que o primeiro dia na PM foi um rompimento para ela, um mundo novo onde o homem não estava acostumado com a presença feminina no quartel. “Todos os olhares se voltaram para a gente, que não sabia lidar com a situação. Tínhamos medo de tudo”, recordaria ela, tempos depois.

O impacto foi gigante para a jovem vinda do interior, que até então não tinha contato com o militarismo, como a maioria das 35 mulheres que ingressavam na PM naquele momento. “Ao mesmo tempo, foi desafiador”, lembra. “Todo mundo virar para a gente e a gente ter a certeza: ‘Estou aqui e vim para ficar’”, completa, lembrando que os policiais olhavam para elas como se as novatas quisessem tomar o lugar deles. “E a gente só queria o nosso espaço, como conseguimos”.

Sua colega, a sargento Sônia Quintela lembra que muitos militares não aceitavam a presença da mulher na polícia. "Essas mulheres vêm fazer o quê aqui?", questionavam, segundo ela. "Essas mulheres não pegam bandido. Bandido não vai respeitar essas mulheres", diziam. "A gente via que era coisa [da cabeça] deles, discriminação. O que mais tem hoje é mulher [trabalhando no] operacional".

Mas nem todos os homens pensavam igual na Polícia Militar. Havia um, em especial, que seria uma espécie de anjo da guarda da turma: o então aspirante Dimas Cavalcante, que mais tarde viria a ser coronel e comandante da PM alagoana. Dimas havia se formado na Academia de Polícia de Minas Gerais, que desde 1982 já havia admitido mulheres na corporação. “Então, quando ele voltou para Alagoas, já formado, era um dos poucos militares no estado que já tinham convivido com mulheres na tropa”, lembra Fernanda Alves.

Essa experiência foi preponderante para que Dimas recebesse o convite para ser o comandante do Pelotão das Soldados, o que o tornaria uma personagem fundamental na formação das pioneiras. “Foi ele quem trabalhou na construção da identidade militar dessas mulheres e influenciou em todos os pormenores e desafios delas”, conta.

“Não havia acesso à informação como hoje. As polícias que tinham quadro feminino ainda eram poucas e todas recentes. Muitas [delas] estavam da mesma forma que a gente, engatinhando com as coisas”, lembra Dimas. “Elas também sofreram muito porque entraram num mundo dominado por homens e que até hoje existe certa dominação, mas na época era única e exclusivamente de homens”, completa.

Segundo Fernanda Alves, Dimas Cavalcante enxergava pela perspectiva de um homem que acreditava no propósito da mulher dentro da corporação. E apostava nisso. “Ele não só acreditava como dedicou muito para que fosse uma formação de excelência”, ressalta a jornalista.

Depois de ocupar o comando de Pelotão das Soldados, Dimas Cavalcante ocupou outros cargos de liderança na Polícia Militar de Alagoas, até chegar ao comando-geral da corporação. “Mas quando ele olha para trás, esse começo de carreira como comandante de pelotão é algo que o enche de orgulho, de ter comandado a primeira turma de soldados de mulheres na Polícia de Alagoas”, finaliza.


Fonte: Agência Alagoas

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