Há personagens que têm mais a contar pelo que deixaram de fazer do que pelo que estão fazendo. A empreendedora Bel Pesce, uma das líderes da Lemon, foi uma das apresentações mais disputadas da Campus Party Recife neste sábado, em muito, por causa disso.
Aos 24 anos, essa paulistana jovial fala sobre como deixou a Vila Mariana aos 17 anos para estudar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o aclamado MIT, nos Estados Unidos, e sobre os empregos que largou na Microsoft, no Google e no Deutsche Bank. Falta também da experiência de montar empresas inovadoras e saber a hora de sair para o próximo passo.
"É muito importante entender que não existe sucesso da noite para o dia. Atrás de cada história de sucesso tem muito suor", conta. Bel Pesce é leve e aparenta ser mais simples do que outros nerds, definição com que ela mesma se rotula.
Através dos vários passos de suas tentativas de acerto, reforça sua semelhança com qualquer outro estudante aplicado. "O segredo é não desistir. A diferença entre ficar tudo como está ou mudar é o quanto você vai acreditar no 'não' que vai ouvir", resume.
Em outro momento, para traçar paralelos entre o clima de empreendedorismo existe nos Estados Unidos e no Brasil, descarta de cara as dificuldades da burocracia. "O Brasil é mais burocrático, mas isso é só 5% do problema", estima. A grande diferença, na visão de Bel Pesce, é que os norte-americanos têm uma cultura de tolerância ao erro. "Eles conhecem as histórias, sabem que se deu errado agora, pode dar certo na próxima oportunidade", opina. "Quem só lê a história dos vencedores, não conhece a história toda", continua.
Outra dica estratégica para os empreendedores compartilhada pela escritora do livro disponível na internet A menina do Vale é procurar uma necessidade. A necessidade de uma das primeiras empresas a que Bel Pesce se dedicou foi oferecer comunicação por aparelhos celulares na África.
A nerd explica que precisava contornar as grandes distâncias não povoadas, a carência por recursos dos potenciais consumidores e a falta de energia elétrica. Bel Pesce diz que sua empresa desenvolveu um aparelho alimentado por energia solar, que a uma distância de 10km poderiam funcionar como antenas rádio-base (as antenas que são espalhadas pela cidade), que custaria US$ 5 cada.
"Houve muito desinteresse, porque as empresas não achavam que iriam ganhar dinheiro com a operação", conta. "São muitas as histórias nas quais a tecnologia é resolvida, mas que não seguem à frente por outros motivos, como distribuição ou falta de interesse, simplesmente", alerta.
Atualmente, Bel Pesce dedica-se à empresa em que trabalhou para vê-la crescer do início, a Lemon. Desenvolve um aplicativo que tem o plano de substituir a carteira no bolso. O software para smartphones armazenará seus dados nas nuvens e poderá fazer combinações a partir dos seus recibos digitais.
O produto já está disponível para download no seu site e tem semelhança com um novo produto anunciado pela Apple para iPhones. "Foi ótima a coincidência, porque quando se é pequeno e se aposta numa ideia, nem sempre te dão ouvidos, mas quando uma gigante vem com a mesma ideia, as portas começam a se abrir", afirma.
Fonte: Terra