Jorge Vieira – Jornalista
Mais uma vez o estado de Alagoas é manchete dos principais meios de comunicação do Brasil e em nível internacional. Mas não é motivado por sua beleza natural, conhecido como o paraíso das águas, ou por sua população, formada de povos amigos, acolhedores e trabalhador. É por ser o estado mais violento do país, segundo os dados da Organização das Nações Unidas (ONU)!
Se bem que, lamentavelmente, não é novidade! Isso espanta mais ainda. Inclusive, este mesmo autor já abordou o tema em outras oportunidades. Mas como nada mudou, e até piorou, é impelido a continuar analisando e refletindo sobre a mesma temática. Como se ver, não se encontra mais circunscrito à realidade tupiniqim.
Entretanto, para os alagoanos (as), saber que são campeões (ãs) já se tornou uma praxe. Já conquistou o título de campeão pelo menor índice de desenvolvimento econômico, perdendo para os estados do Piauí e Sergipe – o primeiro encontra-se numa região das mais castigadas pela seca; e o segundo tem uma extensão territorial menor, mas consegue uma produção superior em grãos; na educação, campeão em analfabetismo; nas áreas da assistência à saúde, moradia, transporte, saneamento básico encontra-se com os piores níveis. Veja-se o caso das cidades atingidas pelas enchentes, depois de um ano os desabrigados encontram-se morando debaixo de lonas. Na matança de jovens, Arapiraca e a capital Maceió, são campeãs.
Diante de uma realidade com esse nível de crueldade, pergunta-se à população em geral e, especialmente, aos governantes e representantes políticos: isto não os envergonha, macula a inteligência de um ser humano minimamente consciente? Em geral, em nível da sociedade, encontra-se um silêncio estarrecedor, às vezes conivente ou alienado da realidade. Alguma manifestação ocorre pontualmente, mas não se observa um posicionamento da sociedade organizada.
No caso dos desabrigados, existem algumas instituições e pessoas abnegadas, motivados por razões religiosas ou simplesmente sociais, que se sensibilizam e aproveitam datas comemorativas para recolher donativos para os acampados. Exemplo, o dia das crianças! Dentre outras, a Igreja Católica está desenvolvendo alguns trabalhos de assistência junto a essas pessoas, como também celebrações e caminhadas pela paz. Atos que têm contribuído inclusive para despertar a sociedade e outras instituições para a problemática. São ações importantes, visto que dão visibilidade das mazelas sociais, mas insuficientes e, até, perigosas, quando não acompanhadas por uma reflexão sobre suas raízes e causas e tomada de posicionamento transformador.
E os dirigentes deste Estado, onde se encontram diante desse quadro?! Alinhados à sua maioria aos interesses econômicos, sistema concentrador de riquezas e promotor das desigualdades sociais, silenciam absurdamente! Ou quando se pronunciam, apresentam medidas demagógicas e ineficazes. Como explicar a discussão no parlamente alagoano sobre a diminuição da maioridade penal como solução para o problema da violência? E mais ironicamente, como entender a publicidade governamental: “Nunca se fez tanto por Alagoas”?
São questões que passam por uma nova consciência social e política da sociedade alagoana, que possibilitará a formação e renovação das instituições sociais e de dirigentes governamentais do Estado. Somente com ações estruturais, pode-se encontrar o caminho para soluções definitivas para os problemas de Alagoas.
É preciso dar um basta na hipocrisia da sociedade que faz de conta que está preocupada e a dos dirigentes políticos que fingem que legislam e governam!
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