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27/06/2016 às 09h43

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As Águas de Palmeira

Lucas Ribeiro (*)

Para tratar do tema a que me propus, tão recorrente na boca dos palmeirenses, é preciso voltar um pouco no tempo. Era abril de 1999 e, em Brasília, meu pai Helenildo Ribeiro assumia uma cadeira na Câmara Federal. Naquele momento, ele chegava à capital federal carregando uma mala com roupas e um sonho: transformar a economia de Palmeira dos Índios e melhorar a qualidade de vida dos palmeirenses. E, para ele, a fonte disso tudo estava na água.

Passados pouco mais de oito anos, depois de uma verdadeira via crucis, seus dois principais projetos para essa transformação conseguiram sair do papel e virar realidade, num relativo curto espaço de tempo. Um fato muito relevante em se tratando de obras públicas de grande porte, e no Brasil, com todo seu arcabouço burocrático que significa, absurdamente, anti-investimento.

Infelizmente meu pai faleceu antes de ver suas obras concluídas. Se aqui ainda estivesse, acredito que eu não estaria escrevendo esse texto. Ele não deixaria acontecer o que vem ocorrendo com parte delas. Refiro-me às Barragens do Caçamba e, especialmente, a do Bálsamo.

A primeira trata do abastecimento humano e passou a se chamar Adutora Helenildo Ribeiro, em homenagem ao meu pai. Está funcionando desde 2009. A segunda trata do aproveitamento da água para irrigação de uma área de 700 hectares. A obra está pronta há quase dez anos. E é sobre o uso (ou o mau uso) dessas águas que me reporto.

A adutora Helenildo Ribeiro foi projetada para reforçar o abastecimento de três municípios: Palmeira dos Índios, Estrela de Alagoas e Minador do Negrão.

Essa população, de aproximadamente cem mil pessoas, era abastecida anteriormente apenas pela Adutora da Carangueja, que já não conseguia suprir a contento.

Melhorou significativamente. Ainda convivemos com rodízios, mas a situação atual não se compara com àquela vivida até 2009. Hoje, inclusive, já chegou água em boa parte da nossa zona rural, e o trabalho segue para que esse processo continue avançando. 

Sobre a barragem do Bálsamo, a situação é bem diferente. O projeto original era para uso exclusivo de irrigação, mas isso não vem ocorrendo.

Talvez por uma força misteriosa, a barragem que está pronta há quase dez anos não teve ainda nem o primeiro perímetro de irrigação implantado, de 200 hectares, que custa em torno de R$ 3 milhões, menos de 5% do valor da obra de quase R$ 70 milhões, isso sem contar os valores pagos nas desapropriações. 

A água do Bálsamo não irrigou ainda nenhum pé de alface e ninguém sabe por quê, já que tem saldo suficiente na conta do convênio para implantação do primeiro perímetro.

Quero crer que não é pelo lobby do setor produtivo de horti-fruti de Arapiraca, o qual sofreria uma grande concorrência, que o projeto ainda dorme nas gavetas tecnocratas do Estado. A implantação não anda, apesar do reconhecido esforço e da vontade política do ex e do atual governador, e também do atual secretário estadual de agricultura.

Como já disse acima, para irrigação ainda não, mas a barragem do Bálsamo já é utilizada para abastecer algumas comunidades rurais de Bom Conselho, Pernambuco. Portanto, fora do seu propósito original.  Já não bastasse isso, o Governo está construindo uma adutora a partir do Bálsamo para o abastecimento de uma comunidade de Quebrangulo, e outra para o município de Estrela de Alagoas. Mais uma vez vão usar a água do Bálsamo para outros fins, que não o da irrigação.

É óbvio que o consumo humano tem preferência sobre a irrigação. E não sou contra isso. Mas o que nos aflige é a opção pelo “jeitinho” que o corpo técnico do Estado dá para resolver algumas questões importantíssimas, como nesse caso, preterindo uma solução sustentável que atenda a todos os municípios envolvidos. Existem formas de resolver os problemas de abastecimento de comunidades de Estrela e Quebrangulo, sem retirar uma gota d’água da nossa cidade.  Da forma atual, estão "cobrindo um santo e descobrindo o outro".

Com esses improvisos, o Estado fecha a única (e rápida) saída que Palmeira tem para se reencontrar com o desenvolvimento econômico. Não apenas isso.

A palavra bálsamo significa “alento”. Ou seja, ao nos serem negadas suas águas, perdemos nosso alento para acelerarmos de vez nosso crescimento.

Meu pai, que completaria 70 anos este ano, dizia duas frases quase que diariamente: “A adutora do Caçamba vai resolver o problema de abastecimento d’água de Palmeira por trinta anos”, e “o projeto Bálsamo será a redenção de Palmeira! ” 

O Caçamba já saciou nossa sede. Falta apenas a água do Bálsamo para germinar nosso futuro.

Além de fundamental para o desenvolvimento de toda uma região, seria também uma grande homenagem a quem idealizou e lutou tanto para que esses projetos transformassem Palmeira, se o Estado implantasse ainda este ano, o primeiro perímetro de irrigação do Bálsamo, e devolvesse a Palmeira as águas do nosso progresso, um sonho real, que um dia teve Helenildo Ribeiro.

(*) É estudante de Direito


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