Dora Nunes, direto de Paris
O Atelier des Lumières, primeiro centro de arte digital inaugurado recentemente (13 de abril) em Paris, já é um dos locais mais comentados deste verão europeu. O local, seguindo a tendência mundial de espetáculos de projeção, homenageia em sua abertura o pintor austríaco Gustav Klimt em seu centésimo aniversário da morte. Trata-se de uma exposição imersiva na qual são projetadas imagens que permitem aos visitantes mergulharem no mundo do artista e visualizarem os pequenos detalhes de suas obras. Essa é a maior instalação deste tipo no mundo e poderá ser visitada até 11 de novembro próximo. O “Des Lumières” está localizado em um antigo prédio da capital francesa onde, em 1835, funcionava uma fundição.
Na exposição são utilizados 120 projetores de vídeo, que cobrem uma área total de 3.300 m2 de projeções, incluindo piso e paredes de até 10 metros de altura. Tudo isso com uma trilha sonora criada especialmente para o evento, de Chopin a Wagner passando por Beethoven, Strauss e Mahler. Para contextualizar a Áustria do fim do século XIX, os visitantes passeiam através de cem anos de pintura vienense nos quais Klimt foi protagonista. A mostra inclui ainda obras de Egon Schiele e Friedensreich Hundertwasser, contemporâneos e seguidores do estilo de Klimt.
De acordo com Gianfranco Iannuzzi, diretor artistico da mostra, as exposições remontam a um século de Pintura vienense, desde a secessão até aos dias de hoje, num “diálogo pictórico contínuo entre modelos arquitetônicos, motivos decorativos e utopias futuristas”. Ele explica que na época, Viena adotou uma abordagem totalmente autônoma em relação ao resto da pintura européia, separando-se do classicismo acadêmico predominante, o que fez surgir um movimento artístico inteiramente original, em uma busca de criar a "arte total". A exposição criada por Iannuzzi, Renato Gatto e Massimiliano Siccardi, conta com a colaboração musical de Luca Longobardi e é produzida por Culturespaces.
Gianfranco Ianuzzi destaca que o conteúdo multimídia contém uma composição rigorosa e fluida, adaptada às estruturas excepcionais e proporções do local para transformá-lo na maior instalação multimídia do mundo. “Uma panorâmica de paredes com oitenta metros de comprimento por dez de altura e superfícies de projeção cilíndricas. É um show feito sob medida”, acrescenta.
Arte descompartimentada
Bruno Monnier, presidente da produtora Culturespaces, explica que “o papel de um centro de arte é descompartimentar, e é por isso que a tecnologia digital é tão importante nas exposições do século XXI. Usado para fins criativos, tornou-se um vetor formidável para divulgação e é capaz de criar links entre épocas, adicionar dinamismo às práticas artísticas, amplificar as emoções e alcançar o maior público possível “.
Devo acrescentar, como autora dessa matéria, que o objetivo é alcançado. Para espectadores (como eu) que estão ainda se acostumando com toda essa tecnologia - projetores a laser de alta potência, interligados por fibra ótica a uma bateria de computadores e um sistema de som especializado de alta qualidade que formam um contraponto da música às imagens - o resultado é uma experiência das mais emocionantes e envolventes. Entre as exposições que presenciei nos últimos tempos posso entender que a de Gustav Klimt está ‘bombando’ em Paris. É muito impactante ver - ao som Beethoven - “o beijo” mais famoso do mundo projetado nas paredes e no chão de uma antiga fundição em Paris.
Gustav Klimt (1862 - 1918)
Pintor simbolista austríaco, destacou-se dentro do movimento Art Nouveau e foi um dos fundadores do movimento da Secessão de Viena, que recusava a tradição acadêmica nas artes. Os seus maiores trabalhos incluem pinturas, murais, esboços e outros objetos de arte, muitos dos quais estão em exposição na Galeria da Secessão de Viena. Em 1900, recebeu o "Grande Prêmio na Feira Mundial de Paris". Klimt foi um artista extravagante e singular, sendo sua obra mais conhecida “O Beijo” (1908).
A arte de Klimt é dividida em uma primeira fase que inclui obras de caráter mais histórico, e numa segunda fase, reúne obras de cunho mais decorativo e erótico. Nessa fase, a sua arte teve maior destaque. Com obras carregadas de sensualismo e erotismo, explorando muito a figura feminina, foi muitas vezes criticado pelos setores mais tradicionais da sociedade da época. O uso de formas geométricas produziu retratos de mulheres seminuas e paisagens repletos de detalhes. Além disso, uma característica marcante de suas obras foi o uso do dourado e do prateado, aproximando-o da arte bizantina.
Serviço
No Atelier des Lumières até 11 de novembro de 2018.
Endereço: 38 rue Saint Maur, 75011. Aberto todos os dias de 10h às 18h; sextas e sábados até às 22H.
Ingressos: De 9.50€ a 14.50€
Fonte: Painel Alagoas