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Dívidas boas ou más?


Dívidas boas ou más?

Uma das grandes questões com a qual planejadores financeiros em geral – me incluo nessa! – estão sempre às voltas é justamente o endividamento, já que em praticamente 100% dos casos de descontrole orçamentário que nos batem à porta, o vilão é a dívida fora de controle. Mas será que o recíproco é verdadeiro, ou seja, que 100% dos casos de endividamento levam o sujeito ao descontrole? O que você acha, meu querido leitor, minha querida leitora?

Ganha um carnê pago aquele que respondeu que não! Com efeito, nem toda e qualquer dívida tem o potencial de, em situações normais, criar confusão na vida financeira das pessoas; casos extremos de perda de emprego, falecimento do cônjuge provedor ou outras emergências ficam de fora do que vamos tratar hoje, que fique claro.

Feita a ressalva, vamos primeiramente diferenciar as dívidas boas das dívidas más: no contexto do planejamento financeiro, entendo que uma dívida má seja aquela que você não conseguirá honrar nas datas devidas, acarretando assim a cobrança de juros, taxas e multas adicionais o que irá piorar ainda mais a sua situação... Se já faltavam recursos para quitar seus compromissos, o que fazer agora que eles ficaram mais caros? Erro comum é não dar a devida atenção logo nestes primeiros momentos, deixando acumular várias prestações vencidas. O efeito bola-de-neve não tarda a aparecer, e com bastante severidade: serviços cortados, bens retomados, nome sujo nos serviços de proteção de crédito, e por aí vai.

No extremo oposto, o que aqui chamei de dívidas boas são todas aquelas que você conseguirá honrar nas respectivas datas de vencimento mas, para que isto ocorra sem sustos, a estratégia chave é planejá-la antes de contratá-la. Simples, não? Veja algumas dicas para evitar ficar perdido!

(1) Conheça a sua capacidade de pagamento: Diante da possibilidade de contrair um novo empréstimo, é fundamental saber quanto do seu orçamento está livre para assumir tal compromisso. A aritmética é simples: do total líquido de sua renda (salários, comissões, alugueis, juros e dividendos recebidos em dinheiro e demais receitas) subtraia: (a) seus gastos fixos (moradia, alimentação, transporte, escolas, planos de saúde e outros), (b) suas atuais prestações (por exemplo, se paga R$ 100 da prestação da geladeira e R$ 120 da prestação do televisor, esse total será de R$ 220); (c) uma estimativa de quanto gasta mensalmente com itens não fixos, tais como lazer, refeições fora; (d) o total das faturas a vencer dos cartões de crédito. O resultado encontrado refletirá sua capacidade mensal de endividamento, mas, por conservadorismo, eu sugiro que reserve pelo menos uns 25% desta sobra, para emergências não previstas. Se após todas as contas e retirados os 25% da reserva, sobrarem R$ 400, esta será sua capacidade mensal de pagamento!

(2) Verifique a necessidade do empréstimo:Mesmo com todos os cuidados, uma dívida é sempre uma dívida, com potencial de embaralhar nossa vida diante das emergências; portanto tenha bom-senso na hora de usar este instrumento financeiro. Por exemplo, você não irá esperar até juntar o dinheiro para adquirir a geladeira em substituição à antiga que não tem conserto, mas será que faz sentido comprar os ovos de Páscoa a prazo? Ao agir assim você irá diminuir sua capacidade de pagamento... E se justamente nesta hora aparecer a possibilidade de realizar a viagem dos sonhos? Haverá condições financeiras para tal?

(3) Prefira prestações fixas pois fica mais fácil o controle do orçamento. Boa parte dos casos que analiso/ajudo são de dívidas contraídas por meio dos cheques especiais ou dos cartões de crédito, de muito mais difícil controle pois nunca os valores de um mês coincidem com os do mês seguinte.

(4) Procure o instrumento certo: Não se compra casa ou carro com cartão de crédito nem se gasta em consumo (roupas, restaurantes e outros) a partir de financiamentos de 30 anos. Para cada tipo de necessidade há uma classe de produtos específicos disponíveis no mercado financeiro (financiamento imobiliário, automotivo, CDC, etc). Em linhas gerais, quanto mais longos os financiamentos, menores são as taxas de juros praticadas. Namore (pesquise) muito antes deste casamento!

(5) Negocie as taxas: Considerando que quanto maior a taxa de juros embutida em um financiamento, maior será o valor de cada prestação (reduzindo assim a sua capacidade de pagamento), dentro de cada classe de empréstimo, procure sempre a instituição que cobre a menor taxa final.

Um grande abraço e até a próxima!


Inteligência Financeira por Roberto Zentgraf

Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)

Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.

Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.


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