Caso prático (1)
Por conta do que temos conversado por aqui, percebo com frequência que ainda há muita confusão ao se dimensionar a necessidade de proteção financeira para a vida longa, pois muitos ainda acreditam que os planos a serem contratados devam ser equivalentes ao salário que hoje recebem, tornando-os assim mais caros do que já são. Explico!
Aproveitando minha atividade acadêmica, reproduzo aqui um exercício feito em aula em uma das inúmeras turmas de gestão onde tive o prazer de participar: Rodrigo, 35 anos, trabalha em empresa da iniciativa privada onde, entre salários, bônus e outras gratificações, recebe R$ 25 mil mensais (R$ 300 mil anuais, sem considerar o décimo-terceiro) em termos brutos. Pretende se aposentar aos 65 (30 anos trabalhando) e acredita que viverá até os 90 (25 anos de sobrevida). Vejamos o passo a passo!
(1) Renda na aposentadoria: Claro que quanto mais, melhor; mas não podemos esquecer que ter mais no futuro implica em ter menos no presente; logo, é razoável estimar que nosso amigo sobreviva bem com 80% de sua atual renda, equivalente a R$ 20 mil mensais (R$ 200 mil anuais). Para aqueles que pensem ser esta uma estimativa equivocada, alerto para o fato que muitas despesas incorridas na fase ativa – escola dos filhos, alimentação e vestuário para o local de trabalho, para ficar no que me lembro – desaparecem na aposentadoria, ainda que outras despesas, tais como planos de saúde, por exemplo, fiquem mais caras. No balanço final, acredito haver economia.
(2) Necessidade não coberta: Uma parte da renda na aposentadoria será garantida pela previdência oficial (próximo dos R$ 6 mil/mês), outra parte por receitas de aluguel de dois imóveis de sua propriedade (R$ 6 mil/mês). Sobram, portanto, R$ 8 mil mensais (R$ 96 mil anuais) que ele precisará correr atrás. Aqui estou admitindo que a empresa onde Rodrigo trabalha, não ofereça aos seus colaboradores um plano de previdência coletivo; logo, ele precisará guardar parte do que hoje recebe para acumular uma quantia que, ao parar de trabalhar, garanta o padrão de vida desejado.
(3) Taxa de juros a utilizar: Você, meu querido leitor, minha querida leitora, deve ter observado que estou utilizando todos os valores da simulação em termos atuais. Certamente, daqui a 30 anos todos este valores serão maiores por conta das correções devido à inflação, mas simulando desta forma, os cálculos se simplificam... desde que – e aqui esta é uma dica valiosa -, ao atribuirmos uma taxa de juros que irá remunerar os investimentos do Rodrigo, trabalhemos com a taxa de juros real, isto é, a taxa além da inflação. Grosso modo, para uma rentabilidade de 8,12% e uma inflação de 6%, a taxa que irá aumentar o valor real das aplicações será de somente 2%, bases anuais [=((1,0812 ÷ 1,06) – 1) x 100]. Nas atuais condições do mercado, fundos de renda fixa que remunerem a 100% do CDI garantem até mais do que esta taxa real, ainda que a prudência não recomende sermos excessivamente otimistas e usarmos taxas maiores.
(4) Patrimônio a transmitir: Muda de forma drástica o planejamento pois, querendo deixar aos herdeiros parte (ou o total) de suas aplicações financeiras, a conta ficará mais cara. Exemplificando: caso Rodrigo queira transmitir o total sem a preocupação de viver mais do que previu, precisará acumular R$ 4,8 milhões pois, a 2% ao ano, conseguirá os R$ 96 mil de que necessita somente com os juros. No outro extremo, caso queira transmitir apenas seu patrimônio imobiliário, precisará acumular R$ 1.874.252, aplicação que, a 2% ao ano, permitirá retiradas anuais de R$ 96 mil pelos 25 anos de sua sobrevida.
Continuo a análise no artigo que vem, não percam! Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.