Nas minhas palestras, entrevistas ou assessoria sobre finanças pessoais, é sempre muito comum ouvir de meus interlocutores que planejar é fácil pois o papel aceita tudo, mas na vida real é quase impossível fazer sobrar algum ao final de cada mês. Concordo em parte. Realmente, fazer projetos é sempre muito mais fácil do que executá-los, mas daí a achar que é impossível gerar uma sobra mensal, vai uma longa distância. Minha experiência profissional mostra que praticamente todo mundo tem alguma gordura a cortar e que não necessariamente esta gordura significa diminuição efetiva no padrão de vida... Ainda que, reconheço, seja mais fácil eliminar o “sobrepeso orçamentário” daqueles com maior renda.
Bem, meu querido leitor, minha querida leitora, não sei exatamente qual o seu caso, mas se seu desejo é garantir uma folga no orçamento mensal para, a partir desta sobra, você conseguir alçar voos maiores, eu não tenho dúvidas: comece a observar seus gastos que, apesar de reduzidos, sejam rotineiros e, quem sabe, dispensáveis. É, não pense que eu surtei: eliminar um hábito diário – fumar, por exemplo – ao final do mês pode gerar a mesma sobra do que deixar de comprar roupas, eletrodomésticos ou outros itens, já pensou nisso? Pois eu já, e foi com isso em mente que optei pelo tema do artigo de hoje.
Vejamos alguns exemplos, onde obtive os preços dos produtos em rápida pesquisa na Internet: (a) Comecemos pelo cigarro, que citei acima: ao custo de R$ 10, quem fuma um maço por dia, gasta R$ 300 mensais ou R$ 3.600 anuais, mais que suficiente para se adquirir um notebook de excelente marca. (b) Fumante geralmente gosta de um bom expresso, não é mesmo? Ao preço médio de R$ 8 por xícara, há quem tome pelo menos três por dia: no meio da manhã, após o almoço, no meio da tarde. Reduzir o consumo para dois diários equivalerá a uma economia de R$ 240 mensais ou R$ 2.880 anuais, quantia ainda suficiente para se adquirir o notebook ou, mudando de produto, seis calças jeans em lojas badaladas, que tal? (c) Refrigerantes, balinhas, salgadinhos e outros pequenos prazeres também se enquadram nesta situação: preços unitários reduzidos, mas que viram uma montanha de dinheiro quando repetidos.
Além do que se ingere, vale olhar também o consumo de informação, tão essencial para quem quer se sobressair no mercado de trabalho. Será que você usa tudo aquilo que paga? Vejamos mais dois exemplos: (d) Hoje faço a assinatura de dois jornais diários lidos religiosamente... Todos os dias! Mas nem sempre foi assim; por questões de tempo, já houve épocas em que uma das assinaturas se empilhava no corredor de minha casa, para desgosto da esposa e das crianças. Fazendo as contas, a preços de hoje equivaleria a mais R$ 4 diários, R$ 120 mensais ou R$ 1.440 anuais, suficientes para adquirir uma máquina de lavar ou outros eletrodomésticos necessários ao dia a dia. (e) Coleções também são itens para os quais você deve abrir o olho. Nos primeiros exemplares tudo é festa, mas conforme o tempo avança, periga sequer serem retirados do celofane, caracterizando-se, portanto, como puro desperdício, agravados pelo fato de que, apesar de baratas, serem recursivas. Já cometi várias vezes este erro e, limitando-me a apenas um caso, cito uma que fiz de livros semanais por R$ 18 cada, e que ao todo me custou (a coleção completa) R$ 900. Dos 50 exemplares consegui ler apenas 17, ainda que tenha feito a promessa de ler os 33 restantes no futuro.
Claro que a decisão de cortar este ou aquele gasto é inteiramente pessoal e ninguém – nem eu tampouco! – me aventuraria a me meter em assunto tão espinhoso, cada um que cuide do seu, ora, ora! Mas, tudo na vida depende das escolhas que fazemos e, como mostrei neste artigo, se seu orçamento tem limites (o meu tem!), fica difícil fazer tudo aquilo que se deseja. Subestimar pequenos gastos repetitivos pode ser uma saída para esticar mais o seu salário, concorda?
Bem, e se você ainda tem alguma dúvida, veja mais essa: pegando o exemplo do cafezinho, imagine se, ao invés de usar a economia feita comprando coisas, você se dispusesse a aplicá-la mensalmente em um fundo que rendesse 100% do CDI (O CDI nos últimos 12 meses acumulou 10,83%, o que diante de uma inflação de 4,83% - quando medida pelo IPCA – corresponde a uma taxa real de juros de 5,72%, aproximadamente)... Tomando por base apenas a taxa real de juros (além da inflação), após um ano, suas aplicações mensais de R$ 240 teriam acumulado R$ 2.954 ao invés dos R$ 2.880 que citei, valor que sobe para R$ 222.317 após 30 anos, e isso tudo com o poder de compra de hoje, pois a taxa utilizada nas contas é “além da inflação”. Dinheiro suficiente para comprar um carrão, e tudo isso a partir do cafezinho extra! Não é fantástico?
Até a próxima semana e um grande abraço!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.