A notícia das últimas semanas que me chamou a atenção foi o aumento das taxas de juros para os financiamentos imobiliários; associada à diminuição de recursos para este tipo de operação, não tenho dúvidas, meu caro leitor, minha cara leitora, que a compra de um imóvel em prestações tornou-se missão impossível... e não adianta chamar o famoso ator da série para tentar resolver o problema, que dureza!
Pesquisando nos sites dos bancos que oferecem este tipo de financiamento, descobri que cobram em média 1,00% ao mês além da variação da TR. Pode-se financiar pelo sistema PRICE (prestações constantes) ou pelo sistema SAC (prestações fixas) e em prazos que variam, podendo chegar até os 420 meses, o que equivale a 35 anos.
Simulemos então um financiamento de R$1.000.000 a ser pago em 240 meses (20 anos). Pelo sistema PRICE, o valor das prestações será de R$11.010,86, que permanecerá neste patamar durante todo o prazo do financiamento (anualmente sofrem uma pequena correção pela TR, que historicamente tem ficado abaixo de 2% ao ano). Pelo Sistema SAC, as prestações serão decrescentes, a primeira valendo R$14.166,67, a segunda R$14.125,00 e assim sucessivamente (caindo R$ 41,67 a cada mês) até a última parcela, que valerá R$ 4.208,33. Também no sistema SAC, os valores são corrigidos anualmente pela TR. É comum ainda a cobrança de seguro e, em alguns bancos, taxa de administração (não incluídos nos valores citados).
Bem, se você ainda não se assustou com os valores, veja isso: (1) os bancos costumam exigir que o mutuário não comprometa mais do que 30% de sua renda com a prestação, o que no PRICE equivalerá a R$ 36.702 e no SAC R$ 47.222; (2) liquidado o financiamento, o mutuário terá pago R$ 2.642.606 no PRICE (ou seja, R$ 1.642.606 de juros), contra R$ 2.205.000 no SAC (ou seja, R$1.205.000 de juros); (3) o saldo devedor cai mais rápido no SAC, mas não consigo enxergar o mutuário animado... após 60 meses (5 anos) pagando religiosamente suas prestações, os que optaram pelo PRICE terão pago R$ 660.651, mas o saldo devedor caso quisessem liquidar o financiamento seria de R$ 917.443; pelo SAC teriam pago R$ 776.250 e ainda precisariam de R$ 750.000 para liquidar o saldo devedor... não sei por qual razão, mas me veio à mente a musiquinha do filme!
Claro que é possível contornar esta situação, quer aumentando-se o valor da entrada e consequentemente diminuindo-se o valor a financiar (o que poderá tornar o sonho da casa própria mais distante para os que não tenham os recursos necessários para este acréscimo), quer aumentando-se o prazo do financiamento. Supondo o SAC em 420 meses, a primeira parcela será de R$ 12.381, com a consequente redução da renda mínima necessária, que passa a ser de R$ 41.269. Mas não se engane com tal estratégia, pois ela é apenas paliativa e esconde o total a ser pago de juros: em 420 meses, o mutuário terá pago R$ 3.105.000 em prestações o que corresponderá a R$ 2.105.000 de juros, que tal? Em resumo, não vejo saída para quem precise de financiamento para a compra de um imóvel. Triste notícia...
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.